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Gabriel Barto

Quando a mobilidade vertical encontra a justiça social

| 19.05.25 - 08:43
Por muito tempo, os elevadores de prédios brasileiros foram mais do que simples mecanismos de transporte entre andares. Eram espelhos verticais de uma sociedade marcada por divisões silenciosas, mas cruéis. Em Goiânia, essa realidade começou a mudar. Com a nova lei que proíbe a distinção entre “elevador social” e “de serviço”, a capital goiana escreve um novo capítulo — simbólico e prático — na luta contra a desigualdade enraizada até no concreto das cidades.
 
A mudança pode parecer pequena para alguns, quase sem importância frente a tantos outros problemas urbanos. Mas não se engane: o que está em jogo aqui é mais do que nomenclatura. Trata-se de devolver humanidade a trabalhadores, prestadores de serviço e moradores que, por décadas, foram empurrados para um segundo plano — ou melhor, para um segundo elevador.
 
O Brasil tem uma história profundamente marcada por heranças de exclusão. Nos edifícios, o “elevador de serviço” sempre carregou um código não dito: o lugar de quem “não pertence”. Com placas frias e normas de uso que muitas vezes beiram o vexatório, se estabeleceu uma fronteira simbólica entre quem pode ser visto e quem deve permanecer invisível. Goiânia, ao proibir essa distinção, não apenas desmonta uma linguagem discriminatória, mas ergue uma ponte para uma convivência mais igualitária.
 
É preciso reconhecer a coragem política do vereador Léo José, que entendeu que o combate à desigualdade começa nos detalhes, nos gestos diários, na porta do elevador. A nova lei não obriga a convivência forçada, mas impede que o preconceito seja institucionalizado.
 
E, convenhamos, quem se sente incomodado com a ideia de dividir o elevador com o trabalhador que limpa o hall, com a diarista que cuida do seu apartamento, ou com o entregador que traz seu jantar, precisa urgentemente descer ao térreo da empatia.
 
O elevador, símbolo maior da mobilidade urbana, agora também pode simbolizar a mobilidade social, ética humana. Que o exemplo de Goiânia inspire outras cidades. Que os andares que nos separam jamais valham mais do que aquilo que nos une: a dignidade de sermos todos iguais — do térreo à cobertura.

*Gabriel Barto é advogado especialista em Direito Condominial

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