Nos últimos meses, o tema do óbito fetal tardio voltou ao centro das atenções, impulsionado por relatos de perdas emocionantes divulgados por figuras públicas como a atriz Micheli Machado e a jornalista Tati Machado. As histórias ganharam força nas redes sociais e, com elas, vieram à tona muitas dúvidas, inseguranças e medos compartilhados por gestantes e familiares.
O óbito fetal tardio, segundo a definição da Organização Mundial da Saúde (OMS), é a morte do feto após 28 semanas completas de gestação. Trata-se de um evento profundamente doloroso, que afeta cerca de dois milhões de famílias todos os anos no mundo — sendo a grande maioria dos casos registrada em países em desenvolvimento. No Brasil, apesar da redução progressiva nas taxas de mortalidade fetal nas últimas décadas, ainda lidamos com um tema delicado e urgente.
Falar sobre esse tipo de perda é necessário. A dor de perder um bebê no final da gestação é imensurável e, infelizmente, acontece com mais frequência do que muitos imaginam. Mesmo com todos os avanços da medicina, o óbito fetal tardio continua sendo uma realidade que precisa ser enfrentada com informação, acolhimento e prevenção.
As causas desse tipo de perda podem ser variadas. Entre as mais comuns, estão alterações na placenta, infecções, doenças maternas como hipertensão, diabetes e trombofilia, malformações fetais, restrição de crescimento intrauterino, fatores genéticos e até descolamento prematuro da placenta. Em muitos casos, mesmo após investigação, não conseguimos identificar a causa exata, o que só aumenta o sofrimento dos pais.
A principal ferramenta de prevenção ainda é o pré-natal bem feito. Acompanhamento médico regular, realização de exames no tempo certo, monitoramento do crescimento fetal, avaliação da vitalidade do bebê e controle das condições clínicas da mãe são essenciais. Sempre alerto minhas pacientes para estarem atentas a sinais como diminuição dos movimentos do bebê, pressão alta, sangramentos ou dores fora do comum. Diante de qualquer sintoma diferente, a orientação é clara: procurar imediatamente atendimento médico.
Mas não basta cuidar do corpo. O impacto emocional do óbito fetal tardio é profundo e duradouro. O luto materno e paterno muitas vezes é invisibilizado, tratado com silêncio ou até julgamento. Precisamos garantir apoio psicológico a essas mulheres e seus parceiros, oferecendo espaço para que expressem sua dor e encontrem formas de ressignificá-la.
Com os recentes relatos públicos, ficou ainda mais evidente o quanto é importante falarmos abertamente sobre esse tema. Informação salva vidas. E mais do que isso: acolhe quem sofre, prepara quem precisa se cuidar e rompe o silêncio que só aprofunda o sofrimento.
Precisamos seguir trabalhando por uma medicina cada vez mais humana, atenta e capaz de oferecer não apenas respostas clínicas, mas também escuta, empatia e presença. Esse é o caminho para transformar a dor em cuidado e a prevenção em prioridade.
*Diego Rezende é médico ginecologista e obstetra, doutorando em Ciências da Saúde e professor da Faculdade de Medicina do Centro Universitário Alfredo Nasser.