A preocupação com a soberania do país entrou firme no radar dos brasileiros nos últimos dias desde que o presidente dos EUA decretou tarifa de 50% sobre nossas exportações, alegando descontentamento com os destinos de seu principal aliado em nossas terras.
De fato, a situação é grave. Porém, mais preocupante ainda à nossa soberania é a situação vivida pela ciência no Brasil. Esse foi o alerta feito por Renato Janine Ribeiro, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), durante a abertura da 77ª reunião anual da entidade, neste domingo, 13 de julho.
Janine Ribeiro fez um alerta que precisa ecoar entre todos nós, que nos preocupamos com o futuro das próximas gerações, e deve provocar ação imediata. Quando ele afirma que “a soberania nacional está sendo colocada em risco”, ele fala com o peso da história, da ciência e da responsabilidade que temos com as futuras gerações.
É inadmissível que o Brasil, país de dimensões continentais e vocação científica inquestionável, esteja sendo empurrado novamente para a condição de dependente, seja pelas tarifas impostas por potências estrangeiras, seja pelos próprios bloqueios orçamentários promovidos internamente.
O corte de R$ 540 milhões no Ministério da Ciência, somado ao bloqueio de mais R$ 139 milhões, paralisa pesquisas estratégicas e desestimula nossos jovens cientistas. É como serrar as pernas de um gigante antes mesmo de ele se levantar. Uma vergonha para um governo federal que sempre se disse defensor da ciência e das instituições de ensino.
Em Goiás, tratamos a ciência com a sua devida importância. Falo como parlamentar que tem pautado sua trajetória na defesa da educação, da inovação e da soberania tecnológica. Fui relator do Marco Goiano da Inovação e da Lei da Inteligência Artificial em Goiás. Sou autor da Lei de Incentivo às Startups.
Ao lado do governador Ronaldo Caiado e de outros agentes públicos comprometidos, temos atuado para fortalecer a nossa Fundação de Amparo à Pesquisa (Fapeg) — inclusive apoiando o recente aumento das bolsas para pesquisadores no Estado — e a valorização dos quadros da Universidade Estadual de Goiás (UEG), uma trincheira fundamental da ciência regional.
A experiência de Goiás mostra que há outro caminho. Aqui, mesmo com todas as limitações, o governo tem feito da ciência um eixo estratégico de desenvolvimento. A ampliação dos investimentos em pesquisa e a institucionalização de marcos regulatórios são exemplos de como é possível conciliar responsabilidade fiscal com visão de futuro. Em vez de cortes, optamos por construção. Em vez de sufocar laboratórios, oferecemos fôlego a quem pesquisa, inova e transforma.
Não podemos aceitar que as universidades públicas brasileiras, nossos institutos federais e centros de pesquisa sejam reduzidos a escombros orçamentários. Tampouco podemos nos calar diante da chantagem externa — como bem denunciou Janine Ribeiro — que tenta usar tarifas como instrumento para intervir em nossas decisões soberanas.
Ciência e soberania caminham juntas. Nenhum país que se ajoelha perante o desmonte da pesquisa conseguirá se levantar com dignidade diante do mundo. A defesa da ciência não é bandeira de um governo ou de outro. É compromisso de Estado.
E enquanto parlamentar, professor e cidadão, seguirei lutando para que a inteligência brasileira tenha as condições mínimas de florescer. Porque sem ciência não há soberania. E sem soberania, não há nação.
* Virmondes Cruvinel é deputado estadual, professor e procurador do Estado licenciado