Entre os mais influentes da web em Goiás pelo 14º ano seguido. Confira nossos prêmios.

Envie sua sugestão de pauta, foto e vídeo
62 9.9850 - 6351

Heloise Medeiros

Cuidados paliativos

| 02.10.25 - 08:39
Em outubro, quando se celebra o Dia Mundial de Cuidados Paliativos, costumo voltar a uma pergunta simples: de que forma queremos ser cuidados quando a vida pede mais acolhimento do que intervenção? Talvez a resposta não esteja em grandes protocolos, mas na decisão diária de aliviar o que dói, ouvir o que preocupa e oferecer clareza sobre o que é possível.
 
Os cuidados paliativos são isso. Uma abordagem que coloca o alívio de sintomas, o conforto e a qualidade de vida no centro da conversa, desde o diagnóstico de uma condição que ameaça a continuidade da vida, e não apenas nos últimos dias. Não substituem tratamentos, somam. Não significam desistência, significam prioridade ao que importa.
 
No Hugol, essa conversa acontece onde a urgência é regra. Em um pronto socorro, chegam pessoas com dor intensa, falta de ar, medo e dúvidas. É nesse cenário que a lógica paliativa faz diferença. Quando ajustamos a dor de forma efetiva, quando explicamos o plano terapêutico com honestidade e linguagem acessível, quando perguntamos ao paciente e à família o que é essencial para eles, o cuidado muda de patamar.
 
Desde junho de 2017, nossa Comissão de Cuidados Paliativos atua para fortalecer esse olhar. O objetivo é simples e ambicioso ao mesmo tempo: disseminar princípios que tornem o cuidado mais humano, coordenado e transparente. Isso envolve formação contínua das equipes, integração entre especialidades, rotinas de comunicação clara e construção de planos de cuidado que respeitam valores e preferências de cada pessoa.
 
Há barreiras, claro. Uma das maiores é a associação automática entre paliativo e fim da vida. Esse equívoco impede que pacientes se beneficiem mais cedo de controle de sintomas, apoio emocional e decisões compartilhadas. Quando desatamos esse nó, a experiência muda. Vemos famílias mais informadas, pacientes com menos sofrimento e equipes mais alinhadas.
 
Também aprendemos que tecnologia e humanização não competem. Elas se somam. Prontuários bem preenchidos, registros objetivos de dor e de evolução clínica, escalas de sintomas e canais ágeis de comunicação entre equipes ajudam a garantir continuidade e segurança. Mas nada substitui a escuta atenta, a palavra que orienta sem confundir e o cuidado que se ajusta à singularidade de cada caso.
 
Para avançar, precisamos falar mais do tema com a comunidade. Campanhas educativas, rodas de conversa e informações claras ajudam a quebrar paradigmas. Dentro do hospital, investir em capacitação, em protocolos que respeitem escolhas e em indicadores que meçam o que realmente importa é o caminho para entregar valor em saúde.
 
No fim, cuidados paliativos não são sobre escolher entre tratar ou confortar. São sobre tratar melhor porque confortam, e confortar melhor porque tratam com propósito. É um convite para que profissionais, pacientes e famílias compartilhem decisões com honestidade e esperança realista.
 
Se pudermos levar desse outubro apenas uma ideia, que seja esta: cada pessoa merece um cuidado que alivie a dor, reduza a ansiedade e ofereça sentido ao tratamento. No Hugol, é por isso que trabalhamos todos os dias. Porque qualidade de vida não é detalhe. É direção.

*Heloise Medeiros é gerente médica no Hospital Estadual de Urgências Governador Otávio Lage de Siqueira (Hugol).
 


Comentários

Clique aqui para comentar
Nome: E-mail: Mensagem:
Envie sua sugestão de pauta, foto e vídeo
62 9.9850 - 6351