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Dudão Melo
Dudão Melo

Dudão Melo é Filósofo, Dj e pesquisador musical, atua como produtor cultural há 30 anos, além de fundador do Coletivo Superjazz e apresentador do programa de rádio Jazzmasters. / dudao.melo@gmail.com

DE HOJE E DE ONTEM

Um herói comunista na Marvel

| 30.11.18 - 19:02

Goiânia - Me lembro que me comprometi a escrever sobre algo mas que, sinceramente, nao sei se vale a pena. E esse lance de ficar falando sobre pessoas que “já foram” e que deixaram trabalhos ou obras inspiradoras, no fundo, pode parecer um pouco sectarista. Nao tinha pensado nisso antes, mas tem um fundo de verdade.  Além do que, pode parecer oportunista também.
 

(Foto: reprodução)
 
Mas isso me fez lembrar uma história que ouvi tempos atrás, sobre um garotinho que tinha problemas de TDA (déficit de atenção) e também um tipo raro de epilepsia. Isso lhe causava insegurança e vergonha, e por medo de ter crises sem controle, não conseguia se relacionar bem com os amiguinhos. Por isso não queria mais ir para a escola. 
 
Foi só quando ele ganhou de presente uma máscara e uma roupa igual do Homem Aranha que ele sentiu seus “poderes” se manifestarem e sua vida ganhar outros rumos, alguns até extraordinários.
 
O macacão azul e vermelho lhe deu a coragem e a força que ele precisava,  a máscara o anonimato que ele queria. A partir deles, começou a se sentir melhor e a desenvolver seus “super poderes”. Ele se identificou quase que instantaneamente com aquele adolescente de familia humilde, na verdade criado pelos tios, que parecia um garoto normal, magro e cheio de espinhas e problemas assim como ele. 
 
O curioso é como a partir das roupas de herói ele se rearticulou.  Conseguiu ir para a escola, começou a salvar seus amigos de problemas na hora do recreio e até salvou professores na hora que a aula (ou a vida) ficavam complicadas ou sem sentido. 

Sem falar que ele sempre conseguia salvar sua mãe, fazendo-a parar de chorar. Esse era um dos seus maiores super poderes.  Às vezes colocava a máscara sem ninguem perceber e ali, juntinho dela, com todas as teias de amor e de aranha que ele conseguia tecer, conseguia tirá-la dos piores problemas e pesadelos. Nem a mãe acreditava quando ele se arrumava e tomava suas gotinhas mágicas. 
 
Mas nem sempre foi assim. No começo nenhuma escola deixava ele assistir aulas mascarado e ela não conseguia comprar as gotinhas mágicas, pois eram proibidas e consideradas “droga ilícita”.  Tudo isso seria bobagem se aquelas gotinhas ou aquela roupa estranha não fizessem toda diferença. 
 
Por isso que ela teve que entrar na justiça para conseguir dar para o filho o tal “remedio de maconha” milagroso. E também foi de lá que veio a autorização para que ele pudesse frequenter a escola e assistir as aulas fantasiado ou mascarado como o seu herói preferido. 
 
Lembro de outras estorias parecidas. Acho que muitas crianças se “firmaram” na vida lendo  gibis e afins. O seu imaginário fantasioso até os anos 70 era a maior parte construído em torno da cultura dos quadrinhos, pois eram poucos os filmes, livros, séries de livros ou desenhos destinados “aos muito jovens”. 
 
Esse filão do entretenimento daquelea época nem de longe lembra e vende como a industria atual. Parece que eles atuavam de forma bem mais minimalista, oferecendo pouca variedade de produtos, para alivio dos pais, que diferentemente de hoje, nao sabem direito oque fazer diante de tanta informação e lazer consumista. 
 
É mais comum do que se imagina crianças nao se enquadrarem ou não se sentirem parte efetiva e importante de uma família, ou de uma escola, muito menos de uma sociedade como a nossa, idealizada como sendo branca e heteronormativa, mas que na pratica funciona de forma ainda mais distorcida na tv e na internet. Imagino a quantidade de pessoas que se sentiram mais “normais” depois que liam um gibi onde seu super herói era um estudante magrelo, ou negro, ou mulher, ou um mutante tão “diferente, estranho” e poderoso que nao dava nem para imaginar ou questionar por que ele era assim ou de onde vinha. Aceitava-se os heróis do jeito que eles eram, e aprendia-mos a respeita-los e amá-los a partir das suas diferenças e defeitos. Stam Lee era mesmo um comunista de araque.
 
Deve haver uma quantidade grande de Brasileiros que gostariam ou pagariam alto para ter  algum tipo de super poder ou “ser parecido” com algum desses super heróis bacanas. E imagino a quantidade de pessoas que acham que já tem super poderes, principalmente alguns que ocupam cargos  nas areas jurídica, política ou de segurança pública. O sentimento de estar acima da lei parece um nirvana quase obrigatório e utópico dos nossos servidores públicos. Geralmente é daí que eles se transformam e lapidam seus super poderes. 
 
Me lembrei da pergunta que o Aquaman fez para o Batman, a bordo do batmovel, naquele filme da Liga da Justiça: “E você, qual é o seu super poder?  E o morcego responde, tentando não rir: 'Dinheiro, eu tenho muito dinheiro, sou milionário!' E Aquaman concorda, como se tivesse entendido a piada.   
 
E não é dificil imaginar como ficaria o Brasil de hoje nesse mundo cheio de super poderes. Muitos até brigariam para ser um herói tipo o “Homem Asfalto”, que pudesse construir ruas e estradas perfeitas com um simples raio X! Já pensou a nossa Marginal Botafogo ou milhares de outras obras públicas que nao precisassem de reformas  ou manutenção nenhuma, e com isso, não pudessem servir para lavagem ou desvio de dinheiro? Sera que só sendo um super herói pra fazer algo assim? Sera que ele conseguiria evitar o lobby junto ao congresso  para  extinguir nossas estradas de ferro, perpetuado pelos nossos super deputados e senadores? 
 
E  um “Homem Curativo” então, já pensou? Com super poderes de cura e que claro, pudesse voar para chegar onde os medicos brasileiros nem imaginam, ou não querem chegar, ou melhor ainda, aonde nem os medicos cubanos   chegariam! Sera que esses heróis nao cobrariam caro demais ou teriam que ser obrigados a receber sem nota, ou “por fora” ou pior ainda, se forem obrigados a usar alguma lei de incentivo para receber, já pensou? Será que eles seriam acusados de comunistas, esquerdistas ou pseudo-artistas que mamam nas tetas do governo? É, acho que nem Stan Lee e seus super heróis resistiriam uma temporada complete em terras brasileiras nos dias de hoje. 
 
A triste verdade é que tanto os heróis da Marvel ou da DC Comics são para os fracos, pois agora nós temos o “Super Mito” e sua nova (nem tão nova assim) Liga da Justiça. Vamos aguardar as cenas dos próximos capitulos e ver como se comportam esses nossos “super heróis". 
 
Assista a esse interessante depoimento de Stan Lee falando sobre suas criações e entenda por que ele deixará tanta saudade. 
 
E mudando de assunto, só pra você relaxar um pouco (ou não), vale a pena conhecer um pouco mais do trabalho desse cara aqui lá de Salvador, tem coisas muito boas vindas de lá novamente. Quem sabe falamos deles semana que vem? 

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