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Washington Novaes
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Washington Novaes é bacharel em Direito pela Universidade de São Paulo, turma de 1957, e jornalista há 63 anos. / atendimento@aredacao.com.br

Ambientes Urbanos

Pandemia, as cidades e uma nova ciência

| 08.06.20 - 14:37
Vários pesquisadores entendem que é realmente a destruição da biodiversidade pelos seres humanos que geram doenças como a COVID-19, que cria condições para o surgimento de outros novos vírus e de doenças que ainda nem conhecemos.  Tudo indica que, infelizmente a  Covid-19, que surgiu na China  em 2019 e ainda está gerando  milhares de mortes, muitos  problemas,  tanto de saúde quanto para as economias de países pobres e ricos,  será só a primeira de outras pandemias que ainda aguardam a humanidade, caso não haja uma mudança de curso na forma como o homem encara seu planeta. Por essa e outras razões, está surgindo uma nova disciplina - a saúde planetária – que estuda as conexões cada vez mais visíveis entre seres humanos e outros seres vivos, até de ecossistemas inteiros (Scientific American, janeiro 2020).  Os cientistas parecem ter certeza de que é necessário colocar o meio ambiente no centro das discussões! E como uma problemática de saúde pública em que a saúde humana depende da saúde dos ecossistemas mundiais. 
 
Alguns cientistas acham possível até que a construção de estradas, mineração, caça e extração de madeira tenham desencadeado as epidemias de Ebola em Serra Leoa e em outros pontos na década de 90.  Mas tudo indica que o Ebola surgiu a partir de uma tribo que consumiu um chimpanzé que havia sido caçado e que continha o vírus. Mas era um vírus bem mais mortal que a Covid-19, tendo uma taxa de letalidade de até 90%, enquanto os números de letalidade da Covid-19 oscilam entre 3 e 30 % , dependendo  do país, da faixa etária, condição física (se a pessoa tem comorbidades ou não)  e social. Mas ainda assim é 10 vezes mais letal do que o H1N1, segundo a OMS  ( Portal G1, 13 de abril). 
 
Mas o Ebola foi controlado com mais sucesso do que a Covid-19. No caso desta última, as pesquisas parecem mostrar que veio de morcegos que eram vendidos no mercado de animais exóticos de Wuhan, mas isso ainda não é uma certeza. A proveniência do vírus pode ter sido outra. Cortamos as árvores; matamos ou engaiolamos os animais e os enviamos aos mercados; rompemos os ecossistemas e liberamos os vírus de seus hospedeiros naturais. Quando isso acontece, eles precisam de um novo hospedeiro. Muitas vezes, este seremos nós, como alertam os cientistas.  Isso levou a China a ter que repensar essa tradição cultural de consumo de carnes exóticas, fechando muitos desses chamados “mercados molhados” onde esses animais são vendidos. 
 
Doenças como a  gripe aviária, a gripe suína ( H1N1– influenza – gripe espanhola)  , SARS ( que parece ter vindo de camelos do Oriente Médio)  e agora o COVID-19, têm que nos levar a repensar a forma como lidamos com esses animais em nossos sistemas de produção e consumo de proteínas. E a segurança alimentar deverá se tornar ainda mais uma prioridade de saúde mundial. O fato é que os patógenos estão passando de animais para humanos e podem espalhar-se para novos lugares. O Centro para Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos calcula que três quartos das “doenças novas ou emergentes” que atingem seres humanos “originam-se em animais não humanos”. Algumas, como a febre e a peste, atravessaram o fosso entre animais e homens há séculos. Outras, como o vírus de Marburg, ainda são raras, transmitidas – como acreditam muitos – também por morcegos. E estão se espalhando globalmente.
 
Kate Jones, chefe do Departamento de Ecologia e Biodiversidade da University  College London, na Inglaterra,  chama as doenças infecciosas emergentes de origem animal  como “uma ameaça crescente e muito significativa para a saúde, segurança e economias globais” . A Dra. Jones e uma equipe de pesquisadores identificaram 335 doenças que surgiram entre 1960 e 2004, das quais pelo menos 60% vieram de animais não humanos.  E outra pesquisa indica que a poluição excessiva da região norte da Itália pode ter acelerado a transmissão do novo coronavírus no país, mostrou um estudo divulgado pela Sociedade Italiana de Medicina Ambiental (Sima), com as Universidades de Bolonha e Bari. Esses pesquisadores investigam a probabilidade do vírus ter se espalhado ainda mais pela Lombardia colado a partículas de poluição (Revista Época, 20 de março de 2020). 
 
Pesquisadores americanos e chineses coletaram amostras de gelo glacial no Tibete dois anos atrás e encontraram 28 grupos de vírus desconhecidos, que estavam congelados ha 15 mil anos (O Globo 24 de janeiro de 2020). Segundo esses cientistas, as mudanças climáticas podem liberar esses vírus no planeta, se não conseguirmos que seja seguido o Acordo de Paris e contido o aquecimento global a até 2 graus Celsius.  Mas ao mesmo tempo, a pandemia do Covid-19 fez com que os níveis de poluição na Índia caíssem drasticamente, com o isolamento social de uma população de 1 bilhão e 350 milhões de pessoas.  Em algumas localidades por lá, os índices de poluição caíram entre 40 e 70%, com o fechamento de fábricas. E a cadeia de montanhas do Himalaya ficou visível novamente para diversas cidades, como Punjab, Phatankot e Dhalaudar, o que não acontecia há mais de 30 anos devido à fumaça da poluição!
 
Neste momento em que infelizmente o afrouxamento das medidas e regras de circulação durante a pandemia é uma triste realidade, preciso lembrar que pesquisas têm mostrado que a Covid-19  parece ser  mais letal em ambientes frios. E o inverno está chegando somente agora no Brasil, apesar, é claro, de não termos temperaturas tão baixas como na Europa ou nos EUA. Há mais de um mês muitos especialistas analisando a curva de ocorrências da pandemia no Brasil já apontavam nosso país como o próximo epicentro desta tragédia mundial. O que tristemente assistimos nesse exato momento acontecer. . Blumenau, que foi uma das primeiras cidades a voltar a abrir shoppings centers e já certificou um aumento exponencial em seus casos de Covids-19. Ma mesmo assim, já se discute a volta dos jogos e transmissões esportivas de futebol e outras modalidades, mas com controles por testes da saúde dos jogadores e com portões dos estádios fechados para o público, com as partidas passando a acontecer só para as câmeras. Mas não é só no futebol, todas as áreas da economia mundial estão tendo que se adaptar a este novo mundo pós-pandemia. Há de existir equilíbrio, mas na difícil escolha da balança entre a salvaguarda das economias e a saúde humana, a mesma tem que pender, em casos extremos para o lado da sobrevivência de nossa espécie, hoje majoritariamente concentrada em centros urbanos. 
 
Um fato que passou quase que despercebido na grande mídia foi a morte do especialista em bioenergia Sérgio Campos Trindade, há poucos dias,  aos 79 anos, depois  de complicações associadas ao coronavírus (O Estado de S. Paulo, 20/4).Sérgio recebeu o  Prêmio Nobel da Paz em 2007, ao lado de integrantes do Painel  Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas ( IPCC, que reúne milhares de  cientistas de todo o mundo), pela luta na preservação do meio ambiente e pela divulgação do conhecimento sobre mudanças climáticas e seus efeitos no planeta . Ele era também especialista em energia renovável e consultor do Comitê Científico para Problemas do Ambiente, vinculado à Unesco. Em um país como o nosso, com tão poucos laureados com um prêmio Nobel, é uma morte a lamentar muito. 
 
Que possa emergir esta nova ciência, chamada pelos cientistas de saúde planetária. E que o meio ambiente deixe de ser um assunto compartimentado, a ser discutido lateralmente. E passe a ser e estar no centro das discussões de saúde pública mundial! Que o homem rompa o ciclo sartreano, de enxergar somente o inferno no outro e em seu planeta. E possa ter uma atitude de mais compaixão, conexão e co-existência. Pois tudo que fazemos - muitas vezes com o fogo - tem impactos sobre a terra, a água e o ar! E agora sabemos, sobre a saúde de nós mesmos! E esta nova ciência, a saúde planetária deverá medir e tratar exatamente desses impactos, visando mitigá-los ou ao menos reduzi-los, adaptando nossas cidades, os modos de produção e consumo e nós mesmos, pelo bem da própria existência da espécie humana. 

Comentários

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  • 18.06.2020 08:09 Lisa França

    Que bom ter a oportunidade de ler WN, usufruir de suas incansáveis pesquisas.

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Washington Novaes é bacharel em Direito pela Universidade de São Paulo, turma de 1957, e jornalista há 63 anos. / atendimento@aredacao.com.br

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