Pedro Jacobson
São Paulo - Nas colunas anteriores, tivemos a oportunidade de observar há quanto tempo os materiais utilizados na construção do Jockey Club de São Paulo (JCSP) acompanham a humanidade. A proposta dessa semana diz respeito à história dos próprios hipódromos e da prática do turfe.
Pistas de corrida de cavalos são conhecidas desde a Grécia antiga. O nome grego hipódromo vem de 'ιππος (hippos, cavalo) e δρομος (dromos, corrida). O maior hipódromo ficava na cidade de Olímpia, berço dos jogos olímpicos da antiguidade, com mais de 600m de comprimento.
Naquela época, a prática de construção era de escavar o hipódromo em terreno de encosta, utilizando o material retirado para construir um contraforte do outro lado. Entre as diversas modalidades disputadas no hipódromo de Olímpia, a corrida de cavalos era a única onde as mulheres conquistaram títulos, pois estes eram atribuídos aos proprietários dos cavalos. Então, mesmo não sendo permitidas nas arenas, com exceção das sacerdotisas de Zeus, havia essa maneira de “competir” na arena.
(Pintura representando o hipódromo de Olimpia/Foto: Acervo Elysium)
No ano 203 da Era Cristã, o imperador romano Septímio Severo iniciou a construção do maior hipódromo da antiguidade, que foi concluído por Constantino em 330. Na época, as pistas de corrida eram totalmente descobertas e os romanos utilizavam uma espécie de lona, uma cobertura de tecido presa a pilares, chamada de velarium.
No século XVI, na Inglaterra, a construção de hipódromos foi reestruturada, dando origem à tipologia atual, dividida em três partes: pista de corridas, arquibancadas e vila hípica. Até hoje ainda existe a pista de Chester, que está em atividade desde 1539.
Recordes
Com o advento da tecnologia do concreto armado, no fim do século XIX, passou a ser possível edificar grandes vãos livres em balanço, dispensando os pilares de apoio na borda de cobertura, que tanto atrapalhavam a visão.
Em 1926, foi construído o maior balanço em cobertura de concreto armado da época, no Jockey Club do Rio de Janeiro, com 22,4m de vão livre. Esse recorde seria quebrado com a construção do Jockey Club de São Paulo, projetado por Elisiário Bahiana em 1937, com incríveis 25,2m.
(Arquibancada do Jockey na década de 40/Foto: Acervo Elysium)
Engenho e Arte
Atualmente, o uso de estruturas metálicas permite vãos ainda maiores. O edifício das Tribunas Sociais do Jockey Club permanece como testemunho de arrojo e tecnologia da engenharia brasileira. O projeto de Elisiário Bahiana utilizou o mais avançado conhecimento sobre a tecnologia de concreto armado disponível em sua época, para construir esse arrojo de engenharia.
Para sustentar esse balanço, as enormes vigas são ocas, de modo a diminuir seu peso próprio, e chegam a quase 5m de altura, com espaçamento entre elas de 8,45. Outros hipódromos construídos na mesma época do Jockey Club de São Paulo exibem características bem mais modestas.
(Foto da pista do JCSP tirada nos anos 30/Foto: Acervo Elysium)
O vão livre da cobertura do renomado Hipódromo de Brighton (Inglaterra), construído em 1938, não passa de 8m. Já uma das mais importantes pistas dos EUA, o Parque Santa Anita, em Los Angeles, construído em 1934, exibe meros 6m. Os mais de 25m da cobertura do hipódromo paulistano fazem dela três vezes mais extensa que suas contemporâneas.
Restauro
Em respeito aos responsáveis pelo projeto original do Jockey, o carioca Elisiário Bahiana e o francês Henri Sajous, bem como ao patrimônio público, o projeto de restauro do JSCP, desempenhado pela Organização Social (OS) Elysium Sociedade Cultural procura, busca em todos os processos manter a estética original das arquibancadas.
"Diferente da reforma, realizada em edifícios privados, a restauração verifica e atende vários requisitos, que vão desde a aparência da fachada até o nível dos processos de construção, com o objetivo de manter a paisagem urbana", explica o engenheiro civil Wolney Unes, diretor da OS.