Os bairros da região portuária do Rio de Janeiro vão mudar para a Copa e as Olimpíadas na cidade. Toda uma área de 5 milhões de metros quadrados entre as avenidas Rio Branco, Presidente Vargas, Rodrigues Alves e Francisco Bicalho vai ser mudada, com a reforma de velhos galpões, plantio de árvores, chegada de museus e a intenção de transformar esta parte do centro do Rio em uma área verdadeiramente residencial. O que é um motivo para subir o Morro da Conceição: dar uma última olhada no antigo e degradado porto, e poder comparar a vista com o que ela irá se tornar depois.
O morro não vai ser posto abaixo, como aconteceu com o Morro do Castelo, outro marco do Centro que foi solapado e hoje só tem como lembrança uma pequena ladeira atrás de um posto de gasolina na Avenida Presidente Antônio Carlos. Vai continuar lá, com suas casinhas coloridas, os poucos e bons bares, como o bar do Sérgio e o Imaculada, o ensaio do bloco Escravos da Mauá no Largo de São Francisco da Prainha às sextas, aos pés da Pedra do Sal. Mas vai ganhar uma nova vizinhaça, que pode esconder ainda mais ou dar mais destaque ao lugar.
É na Pedra do Sal que desembarcavam barcos de traficantes de escravos africanos que abasteciam o Rio - daí o nome do bloco. A pedra ainda está lá, com degraus escavados nela, e grafites lembrando o seu passado em um muro ao lado. O mar já foi afastado para depois da Avenida Rodrigues Alves e da Perimetral - uma via elevada que deve vir abaixo, com o plano de revitialização do porto. Um passeio pelo morro pode começar tanto pela Pedra do Sal quanto pela Rua Major Daemon, uma ladeira tortuosa que começa na Rua do Acre, perto do movimentadíssimo (de segunda a sexta) e lúgubre (aos fins de semana) pedaço do Centro perto da Presidente Vargas. A ladeira acaba na Fortaleza da Conceição, base militar que hoje sedia o Instituto Geográfico do Exército e cuja arquitetura é protegida pelo Instituto Nacional do Patrimônio Histórico.
Tome fôlego, vá circundando a fortaleza e seu vizinho, o palácio Episcopal, que, por uma ruela, você chega à Praça Major Valô, onde uma imagem de Nossa Senhora da Conceição está no alto, bem no centro. De lá, procure a ladeira João Homem: é na casa número 7 que fica o Imaculada, combinação de bar e galeria que oferece cervejas artesanais e importadas, numa variedade onde não entram as marcas mais consumidas - esta você pode deixar para beber quando voltar para a planície.
Combinando com as bebidas, há ótimos petiscos, que fazem parte do cardápio tradicional de um boteco, como carne seca com aipim, ou frango a passarinho. Mas tudo é preparado com muito esmero e temperos que tornam o gosto dos beliscos diferente dos de outros bares. Há também pratos mais completos para quem quiser almoçar por lá um bobó de camarão ou picanha.
Depois, admire as casinhas coloridas, a vista do porto prestes a ser transformada, o jeito de cidade do interior que, perdida numa região caótica de uma metrópole que ainda tenta se organizar, se mantém sempre à parte e tranquila das mudanças eternas no Rio de Janeiro.