Julho é mês de um frio que não combina com a imagem que se reproduz no Rio de Janeiro nos cartazes das agências de turismo - e quem estiver passando pela cidade tem de procurar atrações sob um teto para se divertir. Um belo teto para se proteger, e admirar nele a pintura "Dança das Horas", de Eliseu Visconti, é o do Theatro Municipal, que comemora neste mês 102 anos de criação, no dia 14. A entrada para a celebração será gratuita.
A comemoração vai ter apresentações de balé da Companhia Jovem do Rio de Janeiro, da Maria Olenewa, primeira escola de balé clássico fundada no Brasil, e da companhia do Municipal. Às 21 horas, a Orquestra Sinfônica e o Coro do Municipal Programa: apresentam o primeiro ato da ópera "Nabuco", de Verdi.
Enquanto estiver admirando a música e a dança, permita-se uma distração. Olhe em volta para conferir como ficou o Municipal após sua restauração em 2008, quando as pinturas de Visconti e outros artistas que lá trabalharam, como Rodolfo Amoedo e Henrique Bernardelli, voltaram a ganhar o brilho do início do século XX. São obras com motivos alegóricos, figuras acadêmicas, influência do simbolismo do século XIX. Mostram como o Rio tentava imitar Paris naquela época, mas com atraso, como sempre acontece com os imitadores: na época em que foram feitas, Cézanne havia acabado de morrer, e a revolução iniciada por ele, Gauguin e Van Gogh já se espalhava nas artes visuais, e Picasso e Braque já tinham desenvolvido o cubismo que iria destruir a noção de que a pintura deveria apenas imitar a realidade. O símbolo mais evidente do bom trabalho da restauração, no entanto, está do lado de fora: a estátua dourada da águia no telhado.
Se você não é tão ligado em música clássica assim, mas ainda quer conhecer um dos mais bonitos edifícios do Rio, pode fazer alguma das visitas guiadas, realizadas de terça-feira a sábado (saiba como acessando http://www.theatromunicipal.rj.gov.br/visita_guiada.html). Na saída, ande pela lateral do prédio até a entrada do Villarino Bistrô: é um ímã de executivos em busca de uma happy-hour sem gritarias e pessoas se acotovelando entre as mesas, como é comum na região, depois de darem duro nos escritórios de advocacia e bancos de investimentos no Centro. Sua prinicipal atração são os 350 rótulos de vinhos. Peça uma garrafa, ou aceite uma sugestão do mâitre, e um prato de queijos, que você mesmo escolhe no carrinho que é trazido pelo garçon.
Atenção: o Villarino Bistro não é aquele em que Tom Jobim teria sido apresentado a Vinícius de Moraes para juntos trabalharem em "Orfeu da Conceição", marco do início da parceria de ambos que resultou em "Garota de Ipanema" e outros clássicos (uma lenda, segundo Ruy Castro em "Chega de Saudade": eles podem ter se encontrado lá, mas já se conheciam, afirma o jornalista no livro sobre a história da Bossa Nova). Este fica um pouco mais adiante, na Avenida Calógeras com a Presidente Wilson, quase em frente à Academia Brasileira de Letras. A parede rabiscada de assinaturas dos escritores, jornalistas e artistas que lá iam e que deram ao Rio uma eferverscência intelectual que não se pode dizer mais que a cidade tem, não foi preservada: um dono mandou raspá-la achando que eram apenas sujeira de clientes mal-educados. Depois de descoberto o engano, foi colocada uma foto com alguns de seus frequentadores ilustres no lugar, para tentar compensar o erro.