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Restaurante Árabe: o negócio de família que se tornou tradição goianiense

Estabelecimento soma 58 anos de história | 03.02.23 - 20:19
Restaurante Árabe: o negócio de família que se tornou tradição goianiense Foto: Letícia Coqueiro/A Redação

Carolina Pessoni
 
Goiânia - Localizado na Rua 83, no Setor Sul - Região Central de Goiânia - o Restaurante Árabe figura entre os mais tradicionais da cidade. O cardápio, que remonta às tradições da família Abrão, também é responsável por difundir a cultura e a culinária árabe na Capital.
 
Quem está à frente do negócio atualmente é o empresário Marcelo Abrão. O pioneiro do restaurante, entretanto, foi seu pai, Miguel Abrão, que começou a tocar o negócio da família quase que por um acaso do destino.
 
Marcelo conta que o avô tinha uma olaria em Aparecida de Goiânia. Em 1964, como pagamento de uma dívida, recebeu um imóvel no bairro de Campinas. Nos fundos do lote, em frente à Praça Joaquim Lúcio, ficava a casa e, na frente, havia um barzinho.
 
"Meu avô recebeu essa dívida e trouxe a família de Silvânia. Os filhos já estavam em idade de estudar para entrar em uma faculdade. Como ele ficava muitos dias na olaria e só voltava para casa de tempos em tempos, meu pai tomou a frente do negócio aos 16 anos", conta Marcelo.
 

(Foto: Letícia Coqueiro/A Redação)
 
Nessa época, o estabelecimento, chamado Bar Caiçara, já comercializava alguns pratos árabes, como quibe e coalhada síria, mas havia também outros tipos de petiscos para atender a clientela. O diferencial eram os acompanhamentos, que estavam sempre relacionados à cultura dos proprietários.
 
Com o passar do tempo, Miguel Abrão conseguiu convencer o pai de que o bar era um negócio mais rentável do que a olaria. Com isso, a família passou a trabalhar junta no estabelecimento. "O árabe é muito bom de comércio, então meu avô percebeu q. Foi quando começou a gostar, comprou o Cine Caiçara, que ficava ao lado, e expandiu o local", lembra Marcelo.
 
Em 1970, o negócio foi transferido para a Avenida Araguaia, no Centro, porém já como um restaurante com rodízio de comida árabe, sem venda de bebida alcoólica e funcionamento apenas diurno. "Muitos pensam que essa mudança teve alguma ligação com a nossa cultura, mas não é nada disso. A família apenas estava muito cansada da dura rotina de um bar que funciona até de madrugada", diz o empresário.
 

Marcelo Abrão (Foto: Letícia Coqueiro/A Redação)

O negócio se manteve por alguns anos com esse perfil até que posteriormente as cervejas foram incorporadas ao cardápio, mas com um valor mais alto do que o praticado no mercado. Essa escolha, de acordo com Marcelo, foi proposital, já que o foco do restaurante era o comércio de comida e não o funcionamento no segmento de bar.
 
A mudança para a Avenida 83 ocorreu em 1991, em um prédio maior e que atendia melhor às necessidades dos proprietários e clientes. "O restaurante é um negócio que começou meio que por acaso, por acidente, e hoje se tornou uma tradição que se mantém por tantos anos", exalta Marcelo.
 
O restaurante se tornou, de fato, uma tradição goianiense, sendo o preferido de diversos artistas que vêm à Capital com seus espetáculos. Entre as personalidades que já frequentaram o Árabe estão Glória Menezes, Tarcísio Meira, Nicete Bruno, Paulo Goulart, Cláudia Raia, Thiago Fragoso, Chay Suede e tantos outros. "O Henri Castelli vem sempre aqui, talvez seja o que já veio mais vezes. O Amado Batista também vem sempre, é um cliente fiel. E o Paulo Gustavo também vinha sempre, amava nossa comida", lembra.
 
Hereditariedade
A tradição comercial árabe não ficou restrita entre o avô e o pai de Marcelo. Aos 9 anos, o agora empresário já ia para o restaurante com os pais para ajudar no que fosse preciso. "Passei a receber salário quando tinha 11 anos. Meu pai queria que eu estudasse, me tornasse médico, mas eu gostava de estar lá, ajudando", relembra.
 
Aos 16 anos, abriu sua própria lanchonete. Com a mudança do restaurante da Avenida Araguaia para a Rua 83, muitos clientes ficaram perdidos, sem saber o novo endereço do estabelecimento. "Ficou um vácuo ali, então montei ali minha primeira lanchonete própria, que durou muitos anos."
 
Depois de fechar a lanchonete e atuar em outro ramo completamente diferente, com uma empresa de call center, Marcelo decidiu deixar o empreendimento e voltar a trabalhar no restaurante. "Eu viajava muito a trabalho e sentia que precisava ajudar mais meus pais. Então, resolvi voltar com o trabalho no restaurante", conta o empresário.
 

(Foto: Letícia Coqueiro/A Redação)
 
Para Marcelo, esta foi uma decisão acertada, pois foi um período precioso junto de sua família. "Foi a melhor coisa que eu fiz. Trabalhei por dois anos ao lado do meu pai, até que ele ficou doente e se afastou. Nesse período fiquei sozinho no restaurante, mudei algumas coisas e, infelizmente, três anos depois meu pai se foi."
 
O empresário diz que é orgulhoso do legado de sua família espelhado no restaurante. "É uma história de muita luta, resiliência, mas, acima de tudo, muito amor ao que fazemos. A gente não para, trabalhamos de segunda a segunda, mas sempre com muito carinho e cuidado. Não é fácil, mas é gratificante", ressalta.
 
E a herança comercial da família tem tudo para continuar. "Em breve vamos inaugurar a nova unidade do Restaurante Árabe no Jardim Goiás. Quem vai ficar à frente deste negócio são meus filhos, Luma e Miguel. Será a quarta geração da família a trabalhar no restaurante."
 
Fenômeno nas redes
Além da boa comida, o Restaurante Árabe passou a ser conhecido também pelos vídeos publicados na página da empresa no Instagram. A presença virtual, que inicialmente tinha um perfil mais institucional e tradicional, mudou a linguagem e a forma de se comunicar com o público, conquistando clientes novos e fidelizando os antigos.
 
Marcelo conta que essa mudança ocorreu por necessidade. "Com o início da pandemia tivemos que fechar tudo, atender apenas por delivery, então, precisávamos fazer alguma coisa para manter o negócio e não dispensar os funcionários. Eu, que nem perfil pessoal tinha, comecei a aparecer mais nas redes para tentar atrair mais clientes", relata.

Os vídeos começaram simultaneamente às lives, principalmente dos cantores sertanejos. "Aproveitamos aquele 'evento' e preparamos os combos com comida farta, e de alta qualidade e preço acessível. As pessoas começaram a conhecer mais, procurar essas promoções e, aí, mantivemos esse perfil de atendimento."
 
Com as novas lives, o negócio foi se expandindo e, ao invés de demitir funcionários, como temia ser obrigado a fazer, Marcelo precisou contratar mais. "De 40 colaboradores no início da pandemia, passamos a 49 para conseguir atender às demandas. Vendíamos mais com o restaurante fechado do que com ele aberto", explica.
 
E os vídeos fizeram sucesso. Vieram as chamadas trends, dancinhas e coreografias do momento, que alcançaram o público de maneira ainda maior. "A ideia era apenas sobreviver a esse período difícil, mas foi muito melhor do que a gente esperava. Fidelizamos clientes e popularizamos a comida árabe em Goiânia."

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