Carolina Pessoni
Goiânia - Em meio às fachadas da Rua 4, próximo à Avenida Araguaia, uma se destaca por sua história e tradição. A Casa Santa Moura, com sua fachada relativamente discreta, guarda em seu interior mais de seis décadas de dedicação ao comércio e à moda plus size, perpetuando o legado da família Seba.
Especializada em moda plus size, a loja foi fundada por Toufic Boutros Seba, em 1960. Imigrante libanês, chegou ao Brasil em 1955 e, antes de abrir seu próprio negócio, trabalhou como mascate pelo interior do estado. "Meu pai comprava os produtos em São Paulo e saía vendendo pelo interior. Ele visitava principalmente as cidades da linha do trem", relembra Mura Boutros Seba, que atualmente administra a loja da família.
Toufic Boutros Seba quando chegou ao Brasil (esq.) e em 2019 (Foto: arquivo pessoal)
Quando estabeleceu o negócio fixo, Toufic passou a vender produtos variados, como armarinhos, roupas de cama, mesa e banho e até mesmo enxoval para bebê. A mudança do perfil da loja veio a partir da experiência própria do comerciante.
"Como calçava número 48, meu pai tinha muita dificuldade de encontrar sapatos para comprar. Ele percebeu, então, um nicho de negócio, e quando o mercado se atentou para isso, resolveu partir para esse segmento", conta Mura.
A loja de armarinhos passou, então, a um comércio especializado no que era chamado de "moda maior". O nome, Santa Moura, foi escolhido em homenagem à santa que é popular no norte do Líbano.
Com o passar dos anos e mergulhando de cabeça na tradição da chamada moda maior, a loja passou a ser conhecida como "a casa do gordo". Entre os produtos de vestuário masculino, a numeração vai até o 84. Já no feminino, até o 60. Nos calçados a loja trabalha apenas com masculino, do número 43 ao 50.
"Naquele tempo, quando meu pai abriu o estabelecimento, nem existia esse termo 'plus size'. O que se usava era 'moda maior', mas ficamos conhecidos mesmo como 'a casa do gordo', e muita gente acha até que esse é o nome da loja", afirma a gestora.
Apesar da queda do movimento na região central, Mura diz que o comércio mantém uma clientela fiel. "Temos clientes que vêm aqui há muitos anos. Isso fez com que a gente criasse até mesmo um laço de amizade. São pessoas muito queridas."
Mura Boutros Seba atualmente é quem administra o negócio da família (Foto: Rodrigo Obeid/A Redação)
E a fidelidade se justifica, em partes, porque a loja sempre esteve localizada na Rua 4, como explica a gestora. "Primeiro funcionávamos do outro lado, aí mudamos para a loja ao lado e agora estamos aqui, mas nunca saímos dessa rua. Isso foi muito bom, porque nos tornamos um ponto de referência."
Ela conta que o pai é o responsável pelo sucesso da loja e que mantinha o hábito de frequentar o comércio e participar dos negócios, mesmo idoso. "Ele construiu tudo isso aqui. Gostava muito desse lugar e trabalhou até cerca de dois dias antes de falecer, aos 88 anos, em 2022", diz, com os olhos marejados.
Mura, que trabalha na casa desde os 18 anos de idade, se diz orgulhosa da história da família e a relação construída com o Centro de Goiânia. "Sou nascida e criada aqui. Frequento esse lugar há mais ou menos 55 anos e vi muitas mudanças, mas a tradição se firmou. Tudo o que temos hoje foi erguido com o trabalho no Centro e sou muito feliz por isso", encerra.