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Com arquitetura fluida, prédio no Centro de Goiânia retrata modernismo

Projeto é do arquiteto Ruy Ohtake | 12.07.24 - 17:19
Com arquitetura fluida, prédio no Centro de Goiânia retrata modernismo Foto: Rodrigo Obeid/A Redação
Carolina Pessoni
 
Goiânia - Um cruzamento estreito e movimentado, entre as ruas 3 e 9, no Centro de Goiânia, guarda um tesouro arquitetônico menos conhecido que o art déco que predomina na região. Numa região onde os prédios existentes chegam quase à divisa da rua com a calçada, esse edifício se destaca na paisagem urbana por sua fluidez e espaço.
 
Estamos falando da sede do Banco do Estado de São Paulo (Banespa) em Goiânia, projetada pelo renomado arquiteto Ruy Ohtake. Projetado em 1977 e inaugurado em 1979, o prédio tem 2.450 metros quadrados de construção instalada em um terreno de 835 metros quadrados.
 

Prédio do Banespa foi inaugurado em 1979 (Foto: Ohtake Escritório/Reprodução)
 
As formas deste edifício se remetem ao estilo de arquitetura moderna, numa rejeição mais forte aos elementos tradicionais da arquitetura: portas, janelas, telhados, ornamentos, como explica o arquiteto e urbanista Lucas Jordano, professor da Faculdade de Artes Visuais da Universidade Federal de Goiás (FAV/UFG). "Esse estilo teve entrada em Goiânia por meio do arquiteto Eurico Godoi, formado no Rio de Janeiro. Na década de 1960, a chegada de outros arquitetos a Goiânia, formados em Belo Horizonte e em São Paulo, trouxe uma outra linguagem para a arquitetura, visualmente mais pesada, deixando recorrentemente o concreto armado aparente, sem quaisquer revestimentos."
 
No ano anterior ao projeto para Goiânia, Ruy Ohtake já havia sido solicitado pelo Banespa para elaborar outra agência, em São Paulo, no bairro do Butantã. "Essa arquitetura bancária foi campo importante de experimentação dos arquitetos na década de 1970, quando havia muitos bancos comerciais oficiais (públicos)", ressalta Lucas.
 
 

Croqui de Ruy Ohtake para o edifício de Goiânia (Foto: Ohtake Escritório/Reprodução)
 
Entre as principais características do projeto goianiense se destaca as camadas superpostas e alternadas de vidro e concreto, definindo os pavimentos de maneira bastante abstrata, conforme detalha o arquiteto e urbanista. "Olhando por fora, não é possível perceber como os ambientes se organizam. O efeito escultórico é mais forte quanto menos da função transparece no exterior."
 
Para Lucas, as curvaturas das superfícies de concreto, que vieram da admiração que Ruy Ohtake tinha pela arquitetura de Oscar Niemeyer, embora sejam o destaque do edifício, não é onde se observa sua habilidade. "A mágica está em tudo solucionar fazendo o resultado parecer fruto de uma arbitrariedade qualquer."
 
 
Outras duas características que se destacam na construção são a sua altura e o espaço que o prédio possibilita à calçada. "As alturas dos pavimentos, mais baixas que as das agências bancárias atuais, permitem reduzir o volume do edifício e, assim, seu aspecto sinuoso não se torna extravagante, se acomodando bem à paisagem urbana. As curvas que marcam o perímetro dos pavimentos não foram feitas à esmo: na esquina as curvaturas se afastam das calçadas, de modo a ampliar o espaço livre naquele trecho, cedendo uma pequena parte do espaço privado ao ambiente coletivo", analisa Lucas. 
 
Quem foi Ruy Ohtake
Arquiteto e designer brasileiro, Ruy Ohtake foi responsável por mais de 300 obras realizadas no Brasil e no exterior. Foi professor de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie e da Universidade Católica de Santos.
 
Filho primogênito da artista plástica Tomie Ohtake, foi graduado pela Universidade de São Paulo no ano de 1960. Com obras simples, mas ao mesmo tempo ousadas e inusitadas, imprimiu seu estilo em um expressividade leve, obtida através de curvas.
 

Ruy Ohtake foi um arquiteto premiado com obras no Brasil e no exterior (Foto: Arquivo Arq/Reprodução)
 
Estão entre os projetos de Ohtake o Hotel Unique de São Paulo, a Embaixada Brasileira em Tóquio, o Hotel Renaissance (São Paulo), o Aquário do Pantanal (Mato Grosso do Sul), além dos estádios do Gama, em Brasília, e a requalificação do Cícero Pompeu de Toledo - conhecido como Morumbi, para a Copa do Mundo de Futebol de 2014.
 
Seu estilo marcante lhe rendeu mais de 25 prêmios de arquitetura, incluindo o Colar de Ouro, maior condecoração do Instituto de Arquitetos do Brasil. Ruy Ohtake morreu em 27 de novembro de 2021, aos 83 anos, em São Paulo, em decorrência de uma mielodisplasia – um tipo de câncer de medula.
 
 

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