Mutação — do latim mutare, mutatio, significando mudar, alterar — foi o termo escolhido para traduzir, em chinês, o título do I Ching, o Livro das Mutações. Considerado um dos mais antigos e relevantes tratados da filosofia chinesa, o I Ching é muito mais do que um oráculo ou um manual de adivinhação.
Assim como C.G.Jung, me sinto compelida a deixar meu testemunho sobre este fabuloso exemplar que acabo de adquirir. Começarei por parafraseá-lo:
O I Ching não se apresenta com provas e resultados, não se vangloria de si, nem é de fácil abordagem. Como uma parte da natureza, espera até ser descoberto. Não oferece fatos, nem poder, porém para os amantes do autoconhecimento, da sabedoria - se estes existem - parece ser o livro indicado. Para alguns seu espírito parecerá claro como o dia; para outros, sombrio como o crepúsculo; e para outros ainda, obscuro como a noite. Aquele que não o aprecia, não precisa usá-lo e aquele que é contra, não é obrigado a considerá-lo verdadeiro. Que o deixem seguir para o mundo em benefício daqueles que sejam capazes de discernir seu significado.
No prefácio, o psicoterapeuta suíço relata sua própria consulta ao I Ching, indagando qual seria a melhor abordagem para descrever a essência do livro. Em seguida, compartilha as respostas que recebeu e suas interpretações, entrelaçadas com reflexões sobre a longa trajetória dessa obra milenar: suas transformações, a maneira como foi compreendida ao longo dos séculos, e a permanência de seus ensinamentos. O I Ching surge, então, como uma metáfora da própria natureza — refletindo nossos sentimentos, condutas e valores éticos.
Seguinto este espírito, indaguei ao I Ching qual conselho eu necessitaria neste momento de minha vida para me manter lúcida, não cair em ruína, não me desviar de meu propósito e confiar que meu modo de vida, simples e modesto, é suficiente.
O Hexagrama 42, Aumento (acima Sun, a suavidade, vento - abaixo Chên, o incitar, trovão) trouxe um conselho claro e evidente para minha pergunta:
Governar, na verdade, significa servir. Um sacrifício do superior visando a um aumento do inferior é considerado um simples aumento. Isso indica o único espírito capaz de ajudar o mundo. Assim, o homem superior, quando vê o bem, o imita. Quando tem falhas, as descarta. Confúcio comenta a respeito desta linha. O homem superior tranquiliza sua própria pessoa antes de se pôr em movimento: concentra-se interiormente antes de falar; consolida seus relacionamentos antes de solicitar alguma coisa. Atendendo a estes três requisitos, o homem superior se coloca em plena segurança.
Este ensinamento me parece universal e pertinente a qualquer ser humano que esteja em busca de sabedoria e autoconhecimento. Posso afirmar que vivo um momento de progresso e expansão, mas isso, por si só, não me concede o direito de me considerar superior a quem quer que seja. O conselho funciona como um alerta, pois a vida é feita de constantes transformações. Passamos por ciclos de ascensão e queda, e a verdadeira sabedoria reside em fazer escolhas que minimizem as consequências futuras. Como diz o conhecido provérbio: "Dê poder ao homem e descobrirá quem ele é."(Nicolau Maquiavel)
Obrigada, Confúcio!
E que venham muitas mutações por aí!
