Sábado, 21 de junho foi o Dia Internacional do Yoga. Uma prática milenar que vem angariando adeptos e sendo adaptada para também angariar consumidores em potencial num apelo convulsivo e imediatista ao alívio da ansiedade. Mas atenção o conforto é o pior dos vícios, já alertava o imperador romano, Marco Aurélio, cujo pensamento cabe como um mantra no yoga.
As contradições humanas, urbanas e contemporâneas se divergem quando os discursos de leveza e solitude em viagens, hotéis e até em condomínios ecologicamente corretos, se transformam apenas em cenários luxuosos para selfies e comportamentos narcisistas.
Um desenho animado, disponível na Max, ilustra bem estas discrepâncias, o Está chovendo hamburguer (2009), que casa perfeitamente com toda esquisitice da Era I.A. O antagonista é este senhor “zen-burrista”, que dita valores naturais de sustentabilidade, mas a verdade de suas intenções é outra.
Caminhar nas sombras do nosso ser é o real desafio. Quanto menos selfie, melhor a alma se comporta, quanto mais desconforto, menos o ego nos controla. São apenas três anos de prática e dois retiros ancestrais (roots) e eu ainda engatinho na busca pelo equilíbrio físico e espiritual.
Entregar o corpo à uma postura que possa nos constranger, senti-lo formigar, enrijecer-se em câimbras, lacrimejar os olhos, ter espasmos e calafrios, gemer em alto e bom som, bocejar sem parar e se despir das máscaras que somos impostos a usar dia-a-dia é simplesmente libertador.
Só quem pratica profundamente o yoga imerge nessas sensações e atravessa o lado do lodo sombrio que mora dentro de cada um, pois “se tá fácil, tá errado”. Como dizem os yoguis, o tapete é o divã do shala, nele saem os gritos de dor, as lágrimas de ódio, os bocejos de raiva, as câimbras da carência e os espasmos do medo.
Poderíamos comparar propósitos de resistência física das posturas do yoga com as litúrgicas romarias à Trindade, ou as longínquas caminhadas à Compostela, ou até os polêmicos legendários, que ganharam notoriedade e dividiram opiniões sobre sua jornada.
Todos nós buscamos uma cura, uma redenção, um perdão próprio. A dor espiritual que vem de dentro deve sair através das sensações físicas. Ela deve se manifestar, fluir e se transformar. O formigamento, a lágrima, o grito, a câimbra são sensações temporárias e o corpo é capaz de absorvê-las nos recompensando com um prazer merecido, conquistado, pelejado. Nada vem de graça, nada vem sem dor. Tal como o irônico trocadilho da Geração Z: the life snake (a vida cobra).
Acreditar na entrega, se apoiar na verdade, sentir as leis da Natureza são as regras básicas do Universo e todas elas têm um custo.
A ciência não precisa do misticismo.
O misticismo não precisa da ciência.
Mas o homem precisa dos dois. (Fritjof Capra)
Já profetizava nosso amado Jesus Cristo: só a verdade salva e, a verdade, meus caros, dói pacas.
Em homenagem à Corpus Christi e ao milagroso Yoga, meu sincero Namastê!