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Sobre o Colunista

Eliane de Carvalho .
Eliane de Carvalho .

Eliane de Carvalho é jornalista e mestre em Rel. Intern. Foi repórter na CBN e em programas de TV da Globo, Band e Cultura; comandou programa de entrevistas na TV Câmara SP; apresentadora de telejornal na TV Alesp e correspondente do SBT, na Espanha. / jornalistas@aredacao.com.br

Inquietudes

Loucas não, menopausadas!

| 15.11.25 - 12:26 Loucas não, menopausadas! (Foto: Freepick)
 
Numa noite acordei com o pijama molhado de suor, noutro dia encontrei um grande amigo e não me lembrava do seu nome, também já fui para um compromisso e, quando me dei conta, estava na escola dos filhos. Morro de medo de estar em um evento de trabalho ao vivo e ter um branco, mesmo após dias de estudo e preparação. 
 
Tem ainda a insônia, cansaço, incontinência urinária, secura vaginal,  diminuição da libido, coceira pelo corpo, queda de cabelo, enfraquecimento das unhas, dos ossos, envelhecimento da pele, ganho de peso, lapsos de memória, alterações de humor. Afff! Parece uma montanha russa! A cada dia, um sintoma novo. Passei pelo climatério - período que antecede a última menstruação - e estou com os dois pés e as duas mão fincados na menopausa - fim da menstruação e do período fértil - e tentando me equilibrar neste turbilhão de transformações. Às vezes, chego a pensar: esta sou eu??
 
Ainda bem que a menopausa se tornou o tema da vez, já que 29 milhões de brasileiras, um terço das mulheres do país, também atravessam esta fase desafiadora da vida, neste momento. Isso traz um pouco de conforto. 
 
Aos poucos, as mulheres passaram a ocupar espaços de comando e de poder, e chamaram a atenção para problemas femininos negligenciados pela sociedade, durante décadas, séculos. Até o início dos anos 90, as mulheres, praticamente, não eram inscritas e nem estudadas, nas pesquisas científicas. 
 
A menopausa não é uma doença, mas traz muitos prejuízos à saúde da mulher e precisa ser tratada. No entanto, ela é considerada um problema de saúde pública. Há um aumento de 31% na mortalidade feminina pelas causas mais diversas, em mulheres que não fazem a reposição hormonal. As mais comuns são as doenças cardíacas. 
 
A explicação está na queda da produção de estrogênio. Este hormônio, além de ser responsável pela fixação de cálcio nos ossos, também dilata os vasos sanguíneos, facilita a circulação do sangue e protege o coração. Quando a menopausa chega, o coração perde essa proteção. Para se ter uma idéia, o número de mulheres vítimas de problemas cardíacos, como o infarto, e cerebrovasculares, como o AVC, é 6 vezes maior, que as mortes causadas por câncer de mama.
 
Rompendo o tabu
Há mais de 20 anos, milhares de mulheres se privam da terapia de reposição hormonal, TRH,  nas fases do climatério e menopausa, por causa de um estudo publicado, no começo dos anos 2000, nos Estados Unidos, chamado Women’s Health Initiative, que associou o uso dos medicamentos da reposição com doenças cardíacas e câncer de mama. A informação provocou pânico nas pacientes e fez com que médicos deixassem de prescrever o tratamento, em várias partes do mundo. 
 
Mas podemos estar diante de uma revolução para a saúde da mulher. Uma notícia publicada, nesta semana, pode mudar de vez a forma da medicina encarar a reposição hormonal no planeta. A agência reguladora de alimentos e medicamentos dos EUA, a FDA, anunciou que vai retirar a tarja preta dos medicamentos utilizados no tratamento, que alerta para riscos como o AVC, câncer e doenças cardíacas. A tarja é o alerta mais grave que um remédio pode receber nos Estados Unidos. A agência decidiu mudar de posição, depois de uma revisão científica atualizada, que já era defendida por muitos médicos. 
 
O estudo, que levou à redução drástica da prescrição de reposição hormonal lá atrás, foi feito com mulheres, que começaram o tratamento com mais de 63 anos de idade e, hoje, se sabe, que o ideal é iniciar  a terapia, nos primeiros 10 anos após a menopausa e antes dos 60 anos de idade, fase chamada de "janela de oportunidade”. 
 
A endocrinologista, Luana Casari, explicou, em entrevista ao portal Drauzio Varella, que para ser seguro, o tratamento tem data certa para começar. Segundo ela, a terapia de reposição hormonal não é indicada para mulheres, que já passaram pela menopausa, há mais de dez anos, porque já sofreram alterações nos vasos sanguíneos e começar a reposição, nesta fase, traz sérios riscos cardíacos. O que levou às mulheres do estudo do passado a apresentar o problema. 
 
O fantasma do câncer de mama
Os hormônios mais usados na terapia de reposição são o estrogênio e a progesterona, que sofrem uma redução significativa no organismo feminino, com a menopausa. Segundo os estudos, o primeiro nunca foi o problema, mas a progesterona, em sua forma sintética, leva ao aumento da incidência do câncer de mama. 
 
A solução veio com o uso da progesterona natural ou bioidêntica, que não oferece os mesmos riscos. Estudos recentes apontam que a cada 10 mil mulheres que fazem a reposição, 8 têm câncer de mama, anualmente. É um número considerado baixo. Mas uma regra antiga continua valendo: mulheres que já tiveram câncer de mama ou casos na família não devem fazer a reposição hormonal.
 
Para estes casos, existe um gel vaginal, que não tem absorção sistêmica, e pode ser usado. Além dos alimentos fitoestrogênicos, como a soja, linhaça, inhame e amora, que também ajudam no alívio dos sintomas. 
 
Um tipo de câncer menos falado é o do endométrio, a camada interna do útero. A medicina considera que o uso isolado do estrogênio, no tratamento, leva ao aumento do risco desse tipo de câncer. Mas se o estrogênio é utilizado com a progesterona, o risco não existe e ocorre até a proteção do endométrio.
 
Também há evidências médicas, ainda pouco estudadas, de que mulheres que possuem uma mutação genética, que aumenta o risco de Alzheimer, têm se beneficiado com a reposição hormonal pela redução deste risco. 
 
Outro avanço apontado por estudos recentes se baseia nas vias de administração dos hormônios. A reposição oral oferece maior risco de tromboembolismo, trombose venosa profunda e embolia pulmonar, que são os maiores riscos associados ao tratamento. Mas isso não acontece quando os hormônios são usados nas formas de gel, adesivo e transdérmica. 
 
Chip da beleza
Recentemente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa, proibiu o uso dos implantes hormonais, normalmente à base de gestrinona, um hormônio sintético, por falta de estudos conclusivos sobre a absorção da substância. Estes implantes ficaram conhecidos como "chip da beleza", por melhorarem o ganho de massa muscular ,  mas eram usados apenas para fins estéticos e de forma indiscriminada. 
 
A testosterona também não é indicada na terapia de reposição hormonal, porque os ovários e a glândula adrenal continuam a produzir este hormônio, mesmo após a menopausa. Ela só é indicada para mulheres com a Síndrome do Desejo Sexual Hipoativo, quando há a perda de libido, com a menopausa. 
 
Com o aumento da expectativa de vida, as mulheres vão viver 40, 50 anos, após a menopausa, e precisam ter qualidade de vida. No dia 25 de setembro, a Comissão de Saúde da Câmara dos Deputados aprovou o projeto de lei 876/25 de autoria da deputada Ana Paula Lima  (PT-SC), que propõe um protocolo clínico para o tratamento da menopausa, no Sistema Único de Saúde, o SUS. Mas para virar lei ainda precisa passar por outras comissões e ser aprovado na Câmara e no Senado Federal. Difícil de acreditar que, até hoje, o tratamento da menopausa não esteja sacramentado no SUS!
 
Mas guardei algumas boas notícias para o final. Para quem tem histórico de câncer de colorretal, na família - segunda maior incidência de câncer nas mulheres -, já há evidências médicas de que a reposição hormonal pode reduzir o risco deste tipo de tumor. E quem começou o tratamento durante a "janela de oportunidade", deve mantê-lo por tempo indeterminado, salvo contraindicações, porque mulheres que fizeram reposição, além dos 65 anos de idade, tiveram menor ocorrência de câncer de endométrio e de ovário e de doenças cardiovasculares. 
 
Eu costumo dizer que entrei na menopausa com os dois pés na jaca, porque tive todos os sintomas. Não foi fácil acertar o tratamento, porque caí na conversa do implante hormonal e sangrei durante meses, como se estivesse menstruada, até retirar o implante, que custou uma pequena fortuna. Hoje, faço a terapia convencional com estrogênio e progesterona bioidêntica, que tem me ajudado bastante. Confesso que  o anúncio da FDA dos EUA me trouxe mais tranquilidade para seguir com o tratamento. Os sintomas melhoraram e a vida voltou a ficar leve.

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Eliane de Carvalho é jornalista e mestre em Rel. Intern. Foi repórter na CBN e em programas de TV da Globo, Band e Cultura; comandou programa de entrevistas na TV Câmara SP; apresentadora de telejornal na TV Alesp e correspondente do SBT, na Espanha. / jornalistas@aredacao.com.br

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