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Entrevista

Yamandu: Deus das águas e do violão

Músico faz dois shows em Goiânia nesta semana | 22.08.11 - 11:06 Yamandu: Deus das águas e do violão Foto: divulgação.


Raisa Ramos


Por conta de um poeta uruguaio de nome indígena e do gosto de seu pai pela língua guarani, Yamandu Costa foi batizado assim. A escolha, que significa "deus das águas", não agradou o menino durante a infância, que era constantemente caçoado pelos coleguinhas da escola por conta do nome pouco comum. Mas o tempo passou e a criança descobriu, no meio do caminho, um violão que mudaria sua vida para sempre. Depois disso, o que antes era motivo de constrangimento, tornou-se motivo de aplausos e aclamações pelos quatro cantos do mundo, inclusive em Goiânia, onde o músico se apresenta nos próximos dias 24 e 25, no Centro Cultural UFG, às 21 horas.

 
A Capital foi escolhida para sediar o lançamento do álbum Mafuá, que apesar de não ser novidade na Europa, chegou no Brasil só agora. Primeiro trabalho solo de Yamandu, o disco vai do samba ao choro, passando também pelo tango. Numa tarde morna de domingo, o violonista gaúcho que hoje mora no Rio de Janeiro conversou com a reportagem do AR por telefone, enquanto seu filho de apenas 3 meses, Benício, tirava um cochilo ao seu lado depois do almoço. Com uma simpatia que poucos artistas têm, Yamandu se mostrou à vontade na conversa, mesmo com jornal "atrapalhando" seu momento de descanso em família. Fã de uma boa cerveja gelada, o músico falou do processo de gravação do Mafuá - feito na Alemanha -, da sua proximidade com o público e do preconceito que os brasileiros têm com a música instrumental, classificação, inclusive, que ele vê com maus olhos.
 
A Redação - Depois do Mafuá, você já lançou três discos. Por que trazer esse show para Goiânia?
Yamandu Costa - Ele foi lançado primeiro na Alemanha [em 2008], mas só agora chegou no Brasil. O Mafuá é o que eu tenho tocado na maioria dos shows. É um disco mais representativo, mas não deixo de tocar coisas novas. Sempre toco novidades. Em Goiânia, vou tocar, pelo menos, três músicas inéditas.
 
Como foi trabalhar com o Peter Finger nesse álbum tão importante para você?
O cara é um craque. Um violonista alemão muito conhecido por lá. Ele mistura música country com música clássica e germânica. É muito legal. Eu o conheci num festival de verão. Ele me viu tocar e me chamou para gravar um disco no estúdio dele. O lugar era impressionante, um complexo com gravadora, anfiteatro, loja de música, tudo lá dentro. Minha esposa [Elodie Boundy, que também toca violão] ajudou no processo e assina a co-produção do álbum. Eu e ela estávamos no começo da nossa história, então foi muito especial.
 
Você também gosta de parcerias. Dois dos seus último trabalhos tiveram participações com outros artistas, como o Hamilton de Holanda e Dominguinhos. No Tocata a Amizade você também reúne alguns amigos.
É, adoro tocar com as pessoas, viajar para outros lugares... Acho que toco melhor sozinho, mas a parceria é sempre mais divertida. Inclusive, fiquei sabendo que o Rogério Caetano [violonista que também faz parte do Tocata] vai estar em Goiânia nos mesmos dias que eu. Então é certeza que ele vai dar um canja comigo. Não sei em qual dos shows, mas ele vai aparecer. A gente gravou um CD que vai ser lançado no fim do ano.
 
Falando um pouco da música instrumental, você acha que ela tem pouco espaço no Brasil?
O problema não é só no Brasil, é na América Latina inteira. Não existe essa diferenciação da música instrumental na América ou na Europa. Lá você fala que é um guitarrista e ninguém fica te perguntado se é de banda de rock, de grupo instrumental... Isso não existe. A cultura aqui ainda é um pouco atrasada, infelizmente. Quando se vai a um show do Chico Buarque, ninguém fala que vai a um show de cantata. Então por que as pessoas, quando vão no meu show, tem que falar que vão a um show instrumental? Quando vão assistir à apresentação de uma orquestra sinfônica, ninguém fala que é instrumental. Esse nome, instrumental, parece que é algo chato. Isso é uma ignorância que tem que mudar.
 
Sua agenda, nos próximos meses, tem vários shows marcados na Europa. Como é sua relação com o exterior?
Há muita coisa boa lá fora, lugares diferentes. Tem alguns anos que eu viajo e está ficando cada vez mais frequente. Acabei de chegar da América, onde gravei uma participação no disco de uma cantora famosa por lá, e já estou com viagem marcada para a Europa. Vou para a França, para Portugal, Bélgica, mas antes de tudo, vou para Roma, tocar num lugar muito especial. Tom Jobim, Baden Powell, Hermeto Pascoal e outros artistas brasileiros abriram as portas para a gente no exterior. É muito gostoso poder tocar fora.
 
Você é sempre muito acessível ao público. Sei de algumas ocasiões em que você desceu do palco e ficou tocando no meio das pessoas, outras vezes em que você foi para um bar e tocou até o dia raiar. Gosta disso?
Tocar é meu lazer e meu trabalho. Sou péssimo em diferenciar essas duas coisas. Sou um artista do povo e gosto de ficar no meio dele. Não tenho aquela pretensão que alguns artistas têm de se distanciar das pessoas.
 
Outra relação especial para você é seu violão, que mais parece a continuação do seu corpo. O que ele representa para você? Você sempre tocou violão ou já se dedicou a outros instrumentos?
Sempre toquei o violão. Meu pai [Algacir Costa, trompetista e também violonista] tocava quando eu era pequeno. Ele escondia o violão em casa porque não queria que ninguém mexesse. Ele cuidava muito bem dos instrumentos dele, coisa que eu não faço muito com os meus, infelizmente. Desde cedo o violão, para mim, é uma coisa mística.
 
Gosta mais de tocar ou de tomar cerveja?
(Risos) Tocar é sagrado, é muito mais importante. Fazer as duas coisas é maravilhoso, mas na hora do concerto, é melhor separar. Em Goiânia, vai ser impossível não ir naquele bar maravilhoso que tem aí, o Glória. Mas quando eu for tocar, é melhor ficar sem.
 
Você tem um filho pequeno [Benício, de 3 meses]. A paternidade mudou seu olhar sobre a arte?
Muda um pouco o jeito de levar a vida. Você passa a entender melhor a família, a casa toda muda com a chegada de uma nova vida. Vou tocar uma música que fiz para ele, aí em Goiânia, chamada "Bem-vindo". Se ele não virar músico, quero que pelo menos saiba apreciar uma boa música. A arte faz bem para todos.
 
Para finalizar, por que o nome "Yamandu"?
Meu pai era apaixonado por guarani e fã de um poeta uruguaio chamado Yamandu Rodrigues. É por causa dele o meu nome. Quando criança eu era muito caçoado por causa disso, me incomodava um pouco. Mas depois a gente cresce não se importa mais (risos). Significa "deus das águas".
 
Serviço:
Show: Yamandú Costa – Lançamento do álbum “Mafuá”
Datas: 24 e 25 de agosto
Horário: 21 horas
Local: Centro Cultural UFG – Praça Universitária
Ingressos: R$ 40,00 (inteira)/R$ 20,00 (meia)
Postos de Venda: Livraria da UFG (Centro de Convivência – Câmpus Samambaia e   Faculdade de Educação – Setor Universitário) e Tribo do Açaí.

Comentários

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  • 15.10.2013 19:21 Maurício D Souza

    Olá, pessoal! Sim, o Yamandu( o deus das águas e do violão) é assim mesmo; simples e gosta de estar junto dos seus "súditos". Tive como ver, assistir e comprovar essa verdade no Rio de Janeiro, na Escola da Arte (Barra da Tijuca). e o "gordo" com violão magro e o "Magro" com o vilão gordo (baixolão). Eles lançaram o disco "CONTINENTE", simplesmente fora de tudo que existe na Terra...O bacana é quando eles vão afinando os violões (os três simultaneamente) eu não sei se eles já perceberam mas durante esses acertos das notas tudo se transforma numa harmonia infinitamente bela e pura. Fica aí a proposta para uma nova música (humildemente). Bem no final a galera pediu e Eles retornaram ao palco. As fotos também,com direito ao novo disco AUTOGRAFADO! Só não teve cerveja gelada. Valeu Yamandu,valeu pesooal de aRedação. Maurício.

  • 24.08.2011 11:47 Jaine Lalio

    Sou super fã do Yamandu Costa e já tive o prazer de tocar com ele, em Cuiabá, alguns atrás. Indico de olhos fechados o show dele. Quem puder ir, vá, não irá se arrepender.. Adorei a materia.

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