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Presidente dos EUA reiterou ameaças | 30.09.25 - 15:08
Cinema nacional passa por boa fase (Foto: Pavel Danilyuk/Pexels)José Abrão
Goiânia – O audiovisual brasileiro está em uma ótima fase. Não apenas o longa Ainda Estou Aqui venceu o Oscar de Melhor Filme Internacional e ainda foi indicado a Melhor Filme como agora O Agente Secreto, nova produção de Kleber Mendonça Filho, também está cotado para meia dúzia de nomeações além de já ter vencido outros tantos troféus em festivais internacionais na Europa e na América Latina.
Nesta segunda (29/9), porém, o presidente dos EUA, Donald Trump, voltou à carga em seus ataques contra o setor cinematográfico americano. Na rede social Truth Social, ele afirmou novamente que vai aprovar um tarifaço de 100% contra todas as produções audiovisuais feitas fora do país. “Nosso negócio de filmes foi roubado dos EUA por outros países como tomar doce de criança”, comparou.
Embora a medida tenha na mira a própria Hollywood, já que hoje a maior parte dos grandes filmes são rodados fora dos EUA para cortar gastos, a afirmação do presidente é bastante vaga e abre um imenso guarda-chuva: supostamente, todo filme estrangeiro naturalmente é produzido fora do território americano e estaria, portanto, sujeito à ser taxado caso a ameaça venha a vingar.
O professor de cinema e narrativas da Universidade Federal de Goiás (UFG), Rodrigo Cássio Oliveira, afirma que é difícil prever o que vai acontecer, já que as declarações de Trump nas redes sociais costumam ser muito vagas. “É a segunda vez que ele fala disso. Não dá pra saber como funcionaria, nem se é uma coisa que pode acontecer, se tem base legal ou se é uma bravata apenas. É difícil analisar por isso”, pontua. “O sentido da medida é ser protecionista, de fazer com que os filmes sejam feitos dentro do país, forçando Hollywood a manter a indústria lá dentro”, explica.
Por aqui, o setor brasileiro nunca foi um titã do audiovisual, nada do tamanho e escopo de Hollywood, mas também já esteve muito pior. Segundo dados do Anuário da Agência Nacional do Cinema (Ancine), dos 456 filmes longa-metragem que estrearam no Brasil em 2024, 197 eram brasileiros, um número recorde e em crescimento pelo quarto ano seguido. Já o setor produtivo do audiovisual empregou 79 mil pessoas no ano passado.
Além disso, cinco filmes nacionais superaram 1 milhão de expectadores no cinema no mesmo período: Ainda Estou Aqui (5,7 milhões); O Auto da Compadecida 2 (4,2 milhões); Minha Irmã e Eu (2,2 milhões); Os Farofeiros 2 (1,9 milhão) e Nosso Lar 2 (1,6 milhão).
Agora, se a ameaça de Trump for real, naturalmente o impacto seria sentido pelos filmes brasileiros que têm interesse em ter uma boa penetração no mercado dos EUA, algo que já é dificultado. O principal interesse é nas premiações, podendo ficar de fora do Oscar e de festivais e prêmios importantes. Essa é a situação inclusive de O Agente Secreto, que está no meio da sua campanha internacional antes mesmo de estrear comercialmente no Brasil.
“Isso afetaria se o público americano não tivesse acesso, mas supostamente isso afetaria todos os outros filmes também”, avalia Rodrigo, considerando que, como mencionado, todas as grandes produções atuais rodaram pelo menos trechos fora dos EUA. Para o professor, é muito mais uma questão política por parte do presidente, que tem no meio hollywoodiano muitos críticos que poderiam ser prejudicados com esse tipo de medida.
“Eu vejo como algo que mostra a rivalidade do Trump com os artistas ali da Califórnia que são ideologicamente opostos a ele”, pondera. O professor, porém, não acha que a ameaça vai se concretizar simplesmente por não ser viável: “acho muito improvável, até impensável. Não deve ser motivo para preocupação”, conclui.
O professor Lisandro Nogueira, também da UFG, criador do festival de cinema O Amor, A Morte e as Paixões e ex-diretor da Cinemateca Nacional, conta que de fato seria inviável levar Hollywood de volta para Hollywood: “o custo de produção em Hollywood se tornou altíssimo desde os anos 1990. Todo mundo produz filme fora”.
Ele destaca que, apesar das afirmações de Trump, o cinema americano nunca deixou de dominar o mercado internacional, inclusive o brasileiro, algo que se tornou ainda mais forte na era digital com a propagação agora dos streamings. O professor afirma que o caminho devia ser o contrário e quem devia anunciar medidas protecionistas era o Brasil: “No último Festival de Brasília, os cineastas reclamaram que o governo brasileiro não consegue barrar essa ganância dos streamings”.
Caso Trump cumpra o que prometeu, o professor já tem até uma estratégia para retaliar: “A gente devia defender nossa indústria do cinema, fazer valer nossa mão-de-obra. Deveríamos fortalecer o cinema brasileiro colocando essas plataformas de streaming pra pagar caro”. Leia mais Trump promete tarifas a móveis importados e anuncia taxa de 100% sobre filmes estrangeiros