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Morre o músico Lô Borges aos 73 anos

Ele estava internado desde 17/10 | 03.11.25 - 10:14 Morre o músico Lô Borges aos 73 anos Lô Borges (Foto: divulgação)São Paulo – O músico e cantor Lô Borges morreu aos 73 anos neste domingo (2/11). Ele estava internado desde 17 de outubro, após uma intoxicação por medicamentos. A informação foi confirmada nesta segunda pela família.

Lô Borges nasceu predestinado à música. Os pais eram músicos amadores - e a casa cheia de filhos, seriam 11 ao todo, facilitou um ambiente propício a melodias e poesia.
 
Lô contava que aprendeu a tocar violão com a bossa nova, ainda menino. Mas o grande encanto veio mesmo com os Beatles, conjunto que se reuniu a partir de 1960. Ainda de calça curta, como ele costumava falar, formou a banda cover The Bevers para cantar em programas infantis de TV em Belo Horizonte. Além de Lô, estavam na banda Yé Borges, seu irmão, Beto Guedes e Márcio Aquino.
 
Dentro de casa, Lô se ligaria musicalmente principalmente com seu irmão seis anos mais velho, Márcio Borges, o Marcinho. Quando Lô nasceu, seu irmão, Márcio, com seis anos, pediu à mãe: “Dá esse menino para mim?”. Márcio, ou o Marcinho, seria para Lô muito mais que o irmão que o desejou como presente. Os dois estabeleceram um relação duradoura e produziriam obras-primas da música popular brasileira.
 
Como não se bastasse uma casa cheia de meninas e meninos querendo fazer música, o casal ganhou um filho postiço, Milton Nascimento, o Bituca, que de vizinho virou presença assídua do apartamento dos Borges, no Edifício Levy, no centro de Belo Horizonte.
 
Bituca passou a compor com Marcinho e só descobriu que Lô havia deixado de ser apenas um menino quando os dois foram juntos a um bar próximo ao Levy. Bituca pediu uma caipirinha para ele e um guaraná para Lô, que se recusou a beber o refrigerante e pediu a mesma bebida do amigo. Já tinha 17 anos e tomou coragem de falar para Milton que estava compondo. Nesse mesmo dia, fizeram Clube da Esquina, que ganhou letra de Marcinho e foi gravada por Bituca no álbum Milton, de 1970.
 
A história de Lô se cruzaria com a de Milton de maneira definitiva pouco tempo depois. Já consagrado com canções como Travessia, Morro Velho e Canção do Sal, e tendo, inclusive, gravado um disco para o mercado estrangeiro, Milton estava em busca de um som novo. Resolveu ir novamente para Belo Horizonte encontrar os amigos.
 
Pensou logo em Lô, na época, com 19 anos. “Vamos para o Rio fazer um disco”, disse Milton ao pupilo. De Belo Horizonte, os dois partiram para Niterói, para uma casa na Praia Piratininga. Por lá, tiveram tempo para compor com calma e receber amigos como Marcinho, Beto Guedes, Wagner Tiso e Ronaldo Bastos para lapidar as canções.
 
Difícil mesmo foi Milton convencer a gravadora Odeon de que queria assinar um disco com um jovem desconhecido de Belo Horizonte. E mais: queria fazer um disco duplo. O álbum Clube da Esquina, de 1972, batizado inspirado pela esquina na qual jovens como Lô se reuniram para tocar música em Belo Horizonte, tem inspiração no rock dos Beatles, mas também no jazz, na música barroca, nas montanhas de Minas Gerais, no samba e na umbanda. Uma caldeirão sonoro que deu muito certo.
 
Considerado um dos mais importantes discos da música brasileira, Clube da Esquina tem canções de Lô com parceiros. Entre elas, Tudo o que Você Podia Ser e Um Girassol da Cor de seu Cabelo, com o irmão Marcinho; Nuvem Cigana e O Trem Azul, com Ronaldo Bastos; Paisagem da Janela, com Fernando Brant; e Clube da Esquina Nº 2 (ainda apenas instrumental), com Milton Nascimento. Todas se tornaram clássicos.
 
Com a repercussão do álbum, Lô foi convidado pela gravadora para lançar seu primeiro álbum solo, logo em seguida. Ele aceitou o convite, mas não tinha uma música sequer pronta, além das que havia feito para o Clube, conforme contou em entrevista ao Estadão em 2021.
 
“Pirei. Fiz um disco todo experimental, psicodélico. Não tinha nenhum Trem Azul [sucesso do Clube]. Tinha música de 30 segundos, outras de 5 minutos. Fazia o que vinha na cabeça. E o que vinha era muita loucura. Fazia a melodia pela manhã, à tarde o Marcinho colocava a letra e à noite eu gravava”, afirmou.
 
O álbum, ignorado na época, mas cultuado até os dias de hoje, ficou conhecido como ‘o disco do tênis’, em referência à capa, que traz um par de tênis de segunda mão que ele havia ganhado de um primo - embora leve apenas o nome do compositor como título.
 
Do apavoramento inicial, nasceram 15 canções, entre elas, Você Fica Melhor Assim, com Tavinho Moura, Canção Postal, com Ronaldo Bastos, e Faça Seu Jogo, com Marcinho. Produzido por Milton Miranda, a ficha técnica traz grandes músicos, como Dori Caymmi, Wagner Tiso, Nelson Ângelo, Danilo Caymmi e Robertinho Silva.
 
Em 2018, Alex Turner, vocalista e guitarrista da banda britânica Arctic Monkeys, citou a faixa Aos Barões, da qual Lô fez a letra e a melodia, como uma das que influenciaram o som de Tranquility Base Hotel & Cassino, álbum que eles lançaram naquele ano.
 
Depois da estreia solo, Lô só lançaria outro disco sete anos depois, em 1979. A Via Láctea colocaria o compositor em evidência não apenas pela faixa-título e de Equatorial, mas também pela versão com letra de Clube da Esquina nº2, feita por Márcio Borges a pedido da cantora Nana Caymmi.
 
Antes, porém, o Clube se reuniu novamente para o álbum Clube da Esquina nº 2, no qual Lô contribuiu com canções como Ruas da Cidade e Pão e Água.
 
Lô seguiu gravando nos anos 1980. Nessa década, lançou Nuvem Cigana (1982), Sonho Real (1984) e Solo (1987). Em 1996, foi a vez de Meu Filme, que contou com a participação de Caetano Veloso na bossa Sem Não. Também deu sua versão para Te Ver, hit do Skank.
 
Em 2001, fez uma retrospectiva da carreira ao lançar o álbum Feira Moderna, com regravações de canções como Para Lennon & McCartney, Equatorial, Nuvem Cigana, O Trem Azul, Sonho Real, além da faixa-título.
 
Lô se juntou ao também mineiro Samuel Rosa, em 2016, para o álbum Samuel Rosa & Lô Borges – Ao Vivo No Cine Theatro Brasil. Além de novas versões para sucessos de ambos, apresentaram inéditas, entre elas, As Noites e Dupla Chama, e Dois Rios, parceria de ambos com Nando Reis que se tornou sucesso, o primeiro de Lô desde os anos 1980.
 
Em 2018, em um álbum ao vivo gravado no Circo Voador, no Rio de Janeiro, Lô juntou músicas de ‘o disco do tênis’ e do Clube da Esquina. A partir de 2019, entrou em um período de grande atividade e lançou um disco por ano com composições inéditas: Rio da Lua (2019), Dínamo (2020), Muito Além do Fim (2021), Chama Viva (2022), Não Me Espere na Estação (2023) e Tobogã (2024). Em 2025, dividiu um disco com Zeca Baleiro, Céu de Giz.
 
Para Lô, a composição era um “ato cotidiano”, como declarou ao Estadão. “A composição é meu alimento espiritual. É o momento em que a vida faz mais sentido para mim. Compor é amar. Se eu não componho, sinto que falta algo”, disse, em 2021.
 
Lô contou que, certa vez ficou um ano sem compor. “Me achava o bom. Achei que quando quisesse, voltaria. Quando quis voltar, foi uma dificuldade. A gente tem que manter a fé cega e a faca amolada”.
 
Em 2024, ao ser convidado pelo Estadão para falar sobre os 30 anos sem Tom Jobim, após elogiar o maestro, filosofou: “O tempo é uma abstração da mente.”
 
Em 22 de outubro deste ano, foi anunciada a internação de Lô Borges em um hospital em Belo Horizonte, poucos dias depois da notícia de que Milton Nascimento, um dos seus principais parceiros e incentivadores, estava com demência. (Agência Estado)
 
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