Yuri Lopes
Goiânia - Mais acostumado a lidar com roteiros, o carioca Marcos Bernstein resolveu que queria brincar de ser diretor pela segunda vez. Ele, que já dirigiu Do Outro Lado da Rua, de 2004, demonstrou grande interesse em comandar o filme, logo no início dos trabalhos com o roteiro, parte que também assina em Meu Pé de Laranja Lima. O longa estreia nesta sexta-feira (19/4) em todo o Brasil com cerca de 100 cópias.
O diretor, a produtora Katia Machado e o intérprete do protagonista da história, João Guilherme Ávila (filho do cantor sertanejo Leonardo) estiveram em Goiânia no dia 3 de abril para sessão de pré-estreia para convidados e imprensa. Foi quando Marcos concedeu a seguinte entrevista ao jornal A Redação.
Durante a conversa, que aconteceu minutos antes da exibição do filme premiado nos festivais do Rio de Janeiro e de Roma, Marcos falou sobre o que o atraiu no projeto do longa, quais vivências pessoais estão presentes no filme e disse que o que vai atrair a atenção do público para o filme é a beleza da história, um dos maiores clássicos da literatura brasileira. Confira a seguir a entrevista e o trailer de Meu Pé de Laranja Lima:
A Redação - Você teve contato com outras adaptações de Meu Pé de Laranja Lima?
Marcos Bernstein - Eu já conhecia o livro de fama, é um ícone da literatura, mas curiosamente eu não tinha lido quando era pequeno. A Katia Machado [produtora do longa] estava trabalhando comigo no meu primeiro filme. Ela tinha esse desejo, esse sonho de fazer uma nova versão do livro Meu Pé de Laranja Lima. Ela me deu o livro pra eu ler, eu adorei e ela pediu pra eu fazer o roteiro. Enquanto eu escrevia o texto, fui descobrindo coisas naquela obra que me tocavam muito e me estimularam como diretor. Aí no final do processo eu pedi pra dirigir, insisti e ela [Katia] topou.
A Redação - Então inicialmente você seria apenas o roteirista?
Marcos Bernstein - Sim, ainda não estava definido quem iria dirigir o filme.
E quando o filme começou a ganhar forma?
Marcos Bernstein - Isso foi lá pra 2003, 2004. A gente tinha uma versão pronta do roteiro em 2005. A partir disto, a gente começou o processo de produção.
A Redação - Porque você acha que é importante resgatar a história do Meu Pé de Laranja Lima?
Marcos Bernstein - Por ser uma história linda, que fala sobre a possibilidade de você mesmo num mundo que parece hostil e contra você, usar a criatividade e a fantasia como uma possibilidade de salvação. Especialmente no caso desse livro, que é um livro que tem tantos elementos biográficos do José Mauro [Vasconcelos, autor do livro], que apanhou do pai, assim como o Zezé, e encontrou o caminho, virou um escritor de sucesso. Isso foi através da imaginação e criatividade, que é o que a gente faz no cinema como roteirista ou diretor.

Marcos Bernstein ladeado pela produtora Katia Machado e elenco do filme em uma das apresentações especiais (Foto: reprodução/Facebook)
A Redação - O que tem da sua vivência presente no filme?
Marcos Bernstein - Primeiramente é o meu café com leite, meu arroz com feijão, lidar com a invenção, com a história, com a criação. Acho que esse é o cotidiano do menino no filme. Só isso já me trazia essa garra de escrever sobre esta história. Meu filho tinha a idade do personagem quando eu estava concluindo o roteiro e quando a gente filmou. Peguei coisas que eu via ele fazendo e coloquei no filme. E tinha o lado de diretor, com alguns elementos subjetivos, com passagens que aconteciam nas mentes das personagens. Acho que isso teve muito a ver com o momento que eu vivi enquanto escrevi o roteiro, que foi o mesmo período do meu primeiro filme como diretor.
A Redação - O seu filho leu o livro?
Marcos Bernstein - Não leu o livro, mas já viu o filme duas vezes e gostou.
A Redação - O que mais te atraiu quando surgiu a proposta de fazer parte do filme?
Marcos Bernstein - A possibilidade de superação, uma característica que está bem mais presente no filme do que no livro. No filme eu quis trazer a ideia de superação, que estava presente o tempo todo na história, mas que não era tão evidente. Poder contar esta história, do meu jeito, foi sensacional.
A Redação - Como foi a definição de quais partes do livro teriam mais ou menos destaque na versão para o cinema?
Marcos Bernstein - A gente tinha a possibilidade de abordar aquela história com o nosso olhar, como a gente reinterpreta essa história, que é passada nos dias de hoje. Tive bastante liberdade, mas não deixei de ser fiel ao espírito do filme e ao personagem principal. Não tinha aquela pressão de contar o livro todo no cinema. Pensamos em como contar melhor esta história, que nos encantatanto, do nosso jeito.
A Redação - Você também usou o filme de 1970 como referência ou só o livro?
Marcos Bernstein - Não, só no livro original. No nosso caso não é um remake, já que não estamos refazendo o filme, mas sim, readaptando o livro. Eu percebo que cada vez mais o cinema adapta, readapta e faz outras versões de outras obras. Acho positivo que aconteça no cinema a possibilidade de reinterpretar grandes obras ou grandes filmes com um olhar diferente. Vale a pena pois quem vê filmes mais antigos é um grupo mais restrito da população. Quando você faz uma nova versão, você reapresenta aquela obra e estimula a conhecer a obra original.
A Redação - Da ideia inicial até a estreia, no ano passado, o que mais demorou no processo de produção do filme?
Marcos Bernstein - O que mais demorou foi captar recursos para conseguir viabilizar o filme. O roteiro nem demorou tanto, desde o começo ele tinha mais ou menos a cara que ele tem hoje. O longa era pra ser de época, mas a gente preferiu deixá-lo contemporâneo. Várias coisas mudaram, mas o espírito do roteiro ficou muito próximo do livro.
A Redação - Muitas obras de gênero infantil de Hollywood são lotados de efeitos especiais para chamar a atenção do público. No caso de Meu Pé de Laranja Lima, o que você acha que seria o atrativo para ver o filme?
Marcos Bernstein - Primeiro, mais do que um filme infantil, eu diria que se trata de um filme família. Crianças de dez anos em diante podem se conectar e se seduzir pela história. No começo, o longa tinha mais efeitos especiais, mas foi caminhando para reduzir cada vez mais esse recurso, que ainda aparece, mas bem pouco. Acho que o que vai chamar a atenção do público é a história em si, que é uma história bonita, de sofrimento, amizade, amor, esperança e criatividade.