Adriana Marinelli e Ludymila Siqueira
Goiânia - Os impactos da ação humana no meio ambiente trouxeram à tona um novo olhar para o mercado de negócios. Por meio de uma sigla curta, que parece não dizer muito, players notáveis dos mais variados segmentos passam por um processo de quase revolução de suas atuações: ESG (environmental, social and governance). Em português, as palavras traduzidas citam três pilares que movem e tendem a guiar as gestões daqui para frente: "Ambiental, Social e Governança". A mudança é tão notória e real que gigantes do mercado agroindustrial entenderam a necessidade da aplicação dos processos ESG. Quem já aplicava os pilares mesmo antes da sigla ser evidenciada garante que os resultados são satisfatórios.
É o caso da Jalles Machado, agroindústria referência no setor sucroenergético. Instalada em Goianésia, a 170 quilômetros da capital goiana, a empresa é pautada por questões socioambientais e de cunho social desde sua concepção, em 1983. “Essas práticas se tornaram um diferencial para a Companhia. A valorização das pessoas, a busca por uma produção mais sustentável e a transparência foram fundamentais para a perpetuidade do nosso negócio”, afirma o diretor-presidente da Jalles Machado, Otávio Lage de Siqueira Filho.
Acima a 'Goianésia Álcool S/A', que anos depois se tornaria a Jalles Machado / Empresa nos dias atuais (Foto: arquivo/Jalles Machado)
No quesito ambiental, a Jalles Machado investiu no programa de reflorestamento, onde, segundo o diretor-presidente da empresa, já foram plantadas mais de 5 milhões de árvores. Além disso, a Jalles trabalha no controle biológico de pragas e na agricultura de precisão.
Viveiro de plantas nativas da unidade Jalles Machado (Foto: arquivo/Jalles Machado)
Já no pilar social, a agroindústria concede, além dos benefícios básicos ao funcionário como: vale-alimentação e vale-transporte, subsídios farmácia e capacitação. A ajuda, conforme pontua Otávio Lage Filho, aumenta as possibilidades de crescimento profissional do trabalhador. A indústria investe ainda em programas sociais como, por exemplo, apoio a eventos esportivos, religiosos e culturais. Está ativa também a Fundação Jalles Machado, com iniciativas voltadas à comunidade local.
Colaboradora da Jalles Machado (à esquerda), aluno da Fundação Jalles Machado (à direita). (Foto: arquivo/Jalles Machado)
Por fim, na política de governança, a empresa investiu em tecnologias de gestão e transparência. Um comitê para áreas de risco, além de auditorias trimestrais com balanços da Companhia. “Todas as práticas de governança nos possibilitaram acesso ao mercado de capitais”, destaca o diretor-presidente da Jalles Machado. No seu primeiro pregão na B3 (bolsa de valores oficial do Brasil), no início de 2021, a empresa fechou o dia com alta de 8,9%.
(Foto: arquivo/Jalles Machado)
Estímulo
A ideia da ESG foi adotada, em sua maioria, por grandes grupos, como a agroindústria já citada. Pensando na ampliação do cenário, a Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg) lançou o Núcleo ESG, focado em apoiar e estimular as pequenas e médias empresas a adotarem os processos socioambientais e, assim, terem um melhor reconhecimento no mercado no futuro.
Vice-presidente da Fieg, Flávio Rassi destaca que as políticas ESG têm ganhado grandes proporções no mercado financeiro mundial, por isso a decisão de criar um núcleo na Federação exclusivo para esses pilares. “No primeiro momento, o foco é apoiar principalmente as pequenas e médias empresas a entrarem neste modelo de negócio e fortalecer o valor socioambientais aos olhos da sociedade”, explica Rassi, que também é presidente do Conselho de Meio Ambiente e Sustentabilidade (CMAS) e coordenador do Núcleo ESG do Sistema Fieg.
ESG: Por que investir na responsabilidade socioambiental?
Para Rassi, os pilares ESG são uma tendência no cenário de investimentos, podendo ser até mesmo um pré-requisito para a perpetuidade de um negócio. Isso porque as novas ferramentas de marketing permitem uma maior visibilidade das ações dessa empresa num cenário global.
“Atualmente todo mundo quer entender a empresa como um todo.
Como ela pensa, se esse negócio trata bem o colaborador,
o meio ambiente e as causas sociais. Ou seja, todas as ações positivas
são diretamente atribuídas ao produto
(Flávio Rassi, coordenador do Núcleo ESG da Fieg)
As responsabilidades social, ambiental e de governança são políticas estratégicas da ESG no sentido de englobar uma função social que ultrapassa a legislação. O cenário nesse sentido já é expressivo no mercado externo, onde essas políticas já são uma realidade, como no europeu, por exemplo;
Os pilares ESG também têm influência na competição de mercado. Rassi explica que empresários que buscam implantar processos de mitigação de riscos nos negócios, observando as práticas de governança ambiental, social e corporativa terão maior oportunidade de uma competitividade empresarial positiva. "Isso deve estar evidente e de forma indispensável em um futuro não muito distante. Acredito que em 5 anos essas práticas já serão fundamentais para o crescimento e investimento desta empresa nos mercados interno e externo. Quem optar por não implantar, provavelmente terá enorme dificuldade de permanência corporativa estável, principalmente em competir com negócios ESGs", ressalta o coordenador do Núcleo da Fieg.
“Antes tínhamos um panorama de que as coisas são separadas. Hoje não é mais assim, todos olham para um todo, até mesmo no meio empresarial", comenta Rassi. Para ele, a longo prazo as indústrias precisam ter uma visão sistêmica para todos os sentidos sociais melhorarem acima da legislação. “São metas que você estabelece para si mesmo”, acrescenta Flávio Rassi.
Como implantar?
Como é um conceito ‘novo’ no Brasil, muitas vezes os pequenos e médios negócios não possuem recursos técnicos ou financeiros para implantar os pilares ESG. "E é isso que queremos, que essas empresas também se reestruturem de forma socioambiental", pontua Rassi.
Para que as políticas sejam implantadas, o primeiro passo é que se compreenda os principais pontos fortes e os que ainda estão em desenvolvimento no negócio, seja na área de governança ambiental, social ou corporativa.
Pensando nisso, a pergunta é: como implantar as práticas ESG na pequena ou média empresa? Rassi pontua que é aí que entra o Núcleo da Fieg. Primeiro é feita uma visita técnica ao estabelecimento que deseja adotar as medidas. Em seguida é realizada uma entrevista, em formato de formulário, para entender como funciona a empresa. A partir do prognóstico são identificados quais são os pontos fortes e em desenvolvimento que precisam de maior atenção, e então começa um estudo para auxiliar esse empresário a encontrar a melhor solução.
“Um dos grandes desafios para as pequenas e médias empresas é a governança, que reúne práticas estabelecidas dentro no negócio. São essas práticas que asseguram que as coisas aconteçam como têm que acontecer, por exemplo. Então, através dessa análise vamos procurar uma forma desse pilar se firmar da melhor maneira possível”, explica o representante da Fieg.
O coordenador ainda afirma que não é possível abordar sobre os valores a serem investidos, porque deve-se levar em consideração todo o prognóstico da empresa. O primeiro passo, no entanto, é o desejo da empresa de melhorar cada dia mais em todos os pilares socioambientais.
“Pequenas ações positivas dentro desses negócios já são um grande diferencial. As portas da Fieg estão abertas para todos os empresários que desejam implantar as políticas ESG e, assim, se tornarem ainda mais fortes e competitivas positivamente no mercado”, convida o coordenador do Núcleo ESG da Fieg.