Adriana Marinelli e Ludymila Siqueira
Goiânia - Os impactos da ação humana no meio ambiente trouxeram à tona um novo olhar para o mercado de negócios. O mundo tem passado por uma evolução sem precedentes no que diz respeito à conscientização ambiental, responsabilidade social e governança corporativa. Como impacto dessa realidade, as organizações buscam meios de equilibrar lucratividade, ações e inovações. E é nesse sentido que o setor industrial, primordial para a economia brasileira, tem direcionado seu desenvolvimento.
Em 2022, a indústria respondeu por 23,9% do PIB brasileiro. Os dados, publicados no primeiro semestre deste ano pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), também mostram que o setor industrial responde por 69,3% das exportações de bens e serviços e por 66,4% do investimento empresarial em pesquisa e desenvolvimento. A expansão da atividade torna urgente a adequação às demandas de governança ambiental, social e corporativa, também conhecidas como pilares ESG, do inglês Environmental, Social and Governance.
Nas indústrias, a implementação dos pilares do ESG já garante impacto significativo. Considerar aspectos ambientais pode levar a práticas de gestão de recursos naturais mais eficientes e redução de emissões de poluentes. Já os aspectos sociais podem envolver ações de promoção da diversidade, equidade e inclusão no ambiente de trabalho. E, por fim, a governança abrange questões como a transparência nas operações e a ética nos negócios. Essas práticas geram benefícios, como maior eficiência operacional, redução de riscos, valorização da marca e atração de investidores conscientes.
Em Goiás, a exemplo do que se vê em outras partes do Brasil e também do mundo, gigantes do setor entenderam a necessidade destas mudanças em seus meios de produção. É o caso da agroindústria SoluBio, instalada em Jataí, no Sudoeste goiano, uma das responsáveis pela alta do setor industrial goiano.
SoluBio (Foto: reprodução)
A companhia, que une duas pautas pujantes da economia: a indústria e o agronegócio, é pautada por questões socioambientais e de cunho social desde sua concepção, em 2016. A empresa de biotecnologia tem como alternativas ações mais sustentáveis e econômicas na atividade rural. Foi criada uma solução para a produção de bioinsumos na própria fazenda dos clientes (OnFarm) e, além disso, oferece tecnologia integrada com padrão industrial, todos os equipamentos, insumos, controle de qualidade, treinamento e assistência técnica.
Para Rafaela Vendruscolo, coordenadora de sustentabilidade do grupo SoluBio, ESG é um novo olhar do mercado e da sociedade sobre a sustentabilidade empresarial. "Com os pilares - Environmental, Social and Governance - podemos criar reputação, com impactos cada vez mais positivos. É possível fazer uma melhor análise da gestão de riscos e oportunidades, além da fidelização de clientes. Estar alinhado à agenda contribui para a produtividade, uma boa relação social com os colaboradores. Atualmente, as pessoas não olham somente o valor de produtos, mas os propósitos do negócio", afirma.
Rafaela Vendruscolo (Foto: divulgação)
Conectar pessoas a um ambiente inovador é um dos propósitos da agroindústria SoluBio, que tem como foco a produção aliada ao desenvolvimento sustentável. É assim que a indústria se apresenta para o mercado. E é aí que entra mais uma vez a adequação às exigências do momento. A preocupação com o impacto ambiental é, mais uma vez, evidenciada.
(Clique aqui e saiba mais sobre os propósitos da agroindústria)
Indústria ESG: biotecnologia e energia limpa
Referência no setor sucroenergético e também em práticas ESG no Brasil, a agroindústria Jalles, localizada em Goianésia, é outro exemplo de organização que prioriza ações sustentáveis que geram valor ao negócio. São iniciativas que alcançam resultado positivo na vida das pessoas e na economia não só de Goiás, mas também do Brasil.
Nos últimos anos, com a crise energética nacional, a cogeração de energia proveniente da biomassa da cana-de-açúcar ganhou notoriedade e se tornou uma excelente alternativa, além de ser uma energia limpa. Com isso, um dos pilares sustentáveis adotados pela Jalles diz respeito a essa tecnologia, que emite menos gases causadores do efeito estufa quando comparada às termelétricas a gás natural ou a óleo. Essa redução pode ser mensurada: a cada tonelada de dióxido de carbono (CO2) que deixa de ser emitida, gera-se um crédito de carbono que pode ser comercializado com países que têm atividades mais poluentes. Os créditos de carbono consistem na redução de Gases do Efeito Estufa (GEE), enquadrados nas normas do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) e integrada ao Protocolo de Kyoto.
Outra inovação voltada para os pilares socioambientais ESG foi a inauguração, no mês de setembro, da primeira planta de biogás a partir da vinhaça. Para produção de cada litro de etanol, são produzidos cerca de 13 litros de vinhaça. Trata-se de um composto usado como biofertilizante nos canaviais, por ser rico em nutrientes como potássio, fósforo e nitrogênio.
Com a planta de biogás, antes de ir para o campo, a vinhaça, que também possui açúcares em sua composição, é enviada a um reator anaeróbio (um reservatório sem presença de oxigênio), onde se torna fonte de matéria orgânica para microrganismos. Nesse processo, é produzido o biogás, um composto de três gases: Metano, Dióxido de Carbono e Sulfídrico. O biogás é enviado à caldeira, por meio de tubulações, onde entra junto com o bagaço da cana, incrementando a geração de energia elétrica.
Jalles, em Goianésia (Foto: Jalles)
Além disso, há um incremento na cogeração de energia a partir de mais uma fonte renovável, contribuindo para a descarbonização e transição energética. No futuro, existe a possibilidade de implementar um outro processo na planta para produzir biometano, que pode substituir, por exemplo, o diesel. “Um dos nossos valores é a inovação que está a serviço do bem-estar e, com essa planta de biogás, inovamos mais uma vez, trazendo para Goiás uma tecnologia para ampliar a geração de energia limpa, contribuindo com o meio ambiente”, explica o diretor-presidente da Jalles, Otávio Lage Filho.
ESG na prática: Fieg como agente de transformação para indústrias goianas
A ideia do ESG foi adotada, em sua maioria, por grandes grupos, como as agroindústrias citadas na reportagem. Pensando na ampliação do cenário, a Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg) conta com o Núcleo ESG, focado em apoiar e estimular as pequenas e médias empresas a adotarem os processos socioambientais e, assim, terem um melhor reconhecimento no mercado no futuro.
Vice-presidente da Fieg, Flávio Rassi destaca que, na
prática, o ESG envolve a implementação de estratégias e políticas que consideram o ambiental, social e a governança para garantir o crescimento econômico em harmonia com a preservação ambiental, o bem-estar social e a transparência e responsabilidade corporativa.
"Na visão da Fieg, a principal preocupação em relação às práticas ESG no setor industrial, especialmente em sustentabilidade, é garantir o desenvolvimento econômico de forma responsável e alinhada com as demandas ambientais e sociais. A Federação entende que a indústria possui um impacto significativo no meio ambiente e na sociedade, e é fundamental que as práticas adotadas sejam sustentáveis a longo prazo", ressaltou Flávio, que também é coordenador do Núcleo ESG da Fieg e presidente do Conselho de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Cmas) da Fieg.
Vice-presidente da Fieg, Flávio Rassi (Foto: divulgação)
Para que as pequenas indústrias possam migrar para o modelo ESG, é necessário um compromisso com a sustentabilidade em suas operações. Isso envolve identificar oportunidades de melhoria em relação aos aspectos ambientais, sociais e de governança, adotando práticas mais sustentáveis, como a redução do consumo de recursos, o desenvolvimento de produtos ecoeficientes, a implementação de programas de responsabilidade social e a melhoria da governança corporativa. Com isso, a orientação e o apoio de entidades como a Fieg, por meio de programas e capacitações, podem ser fundamentais nesse processo de transição.
"A Fieg reconhece a importância crescente do ESG e trabalha em parceria
com as empresas industriais para promover a adoção de
práticas sustentáveis e a transformação positiva do setor.
O compromisso da Fieg é contribuir para o desenvolvimento econômico
de maneira responsável, tendo como base as pautas ESG, visando um futuro
mais sustentável e equilibrado para a indústria goiana".
(Flávio Rassi, coordenador do Núcleo ESG da Fieg)
Por que investir na responsabilidade socioambiental?
Para Rassi, os pilares ESG são uma tendência no cenário de investimentos, podendo ser até mesmo um pré-requisito para a perpetuidade de um negócio. Isso porque as novas ferramentas de marketing permitem uma maior visibilidade das ações dessa empresa num cenário global.
“Atualmente todo mundo quer entender a empresa como um todo.
Como ela pensa, se esse negócio trata bem o colaborador,
o meio ambiente e as causas sociais. Ou seja, todas as ações positivas
são diretamente atribuídas ao produto".
(Flávio Rassi, coordenador do Núcleo ESG da Fieg)
As responsabilidades social, ambiental e de governança são políticas estratégicas da ESG no sentido de englobar uma função social que ultrapassa a legislação. O cenário nesse sentido já é muito expressivo no mercado externo, onde essas políticas já são uma realidade há algum tempo, como no europeu, por exemplo.
Os pilares ESG também têm influência na competição de mercado. Rassi explica que empresários que buscam implantar processos de mitigação de riscos nos negócios, observando as práticas de governança ambiental, social e corporativa terão maior oportunidade de uma competitividade empresarial positiva. "Isso deve estar evidente e de forma indispensável em um futuro não muito distante. Acredito que em 5 anos essas práticas já serão fundamentais para o crescimento e investimento desta empresa nos mercados interno e externo. Quem optar por não implantar, provavelmente terá enorme dificuldade de permanência corporativa estável, principalmente em competir com negócios ESGs", ressalta o coordenador do Núcleo da Fieg.
“Antes tínhamos um panorama de que as coisas são separadas. Hoje não é mais assim. Todos olham para um todo, até mesmo no meio empresarial", comenta Rassi. Para ele, a longo prazo as indústrias precisam ter uma visão sistêmica para todos os sentidos sociais melhorarem acima da legislação. “São metas que você estabelece para si mesmo”, acrescenta Flávio Rassi.
Núcleo ESG Fieg
O Núcleo ESG da Fieg tem cooperado para o crescimento industrial dentro dos pilares ESG por meio de diversas ações. O núcleo promove a conscientização sobre a importância da sustentabilidade e da incorporação dos princípios ESG nas práticas das indústrias. Além disso, promove a troca de experiências e conhecimentos entre empresas que já adotam práticas ESG, oferece capacitações e treinamentos sobre aspectos relacionados aos pilares ESG e auxilia no desenvolvimento de estratégias de sustentabilidade personalizadas para as empresas.
Atualmente, há uma grande procura por parte de empresários interessados em conhecer e implementar práticas ESG nas organizações. Para ter acesso ao Núcleo ESG da Fieg, os empresários podem entrar em contato com a própria Fieg, que possui canais de comunicação, como telefone e e-mail, para receber orientações e informações sobre como participar das atividades e programas voltados para práticas ESG.
*Para informações sobre como implantar os pilares ESG, entre em contato com o Núcleo da Fieg sobre o tema: (62) 3219-1300.