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Empreendedorismo

Geração 50+ transforma experiência de vida em sucesso nos negócios em Goiás

Renda, propósito e autonomia são foco | 08.06.25 - 07:45 Geração 50+ transforma experiência de vida em sucesso nos negócios em Goiás Empreendedorismo entre os que têm mais de 50 anos cresce com força total em Goiás (Foto: José Abrão/Jornal A Redação)
Adriana Marinelli

Goiânia
O empreendedorismo com rosto mais maduro e uma dose extra de experiência de vida vem ganhando cada vez mais espaço em Goiás. Em um Estado que testemunhou um crescimento de 183% no número de microempreendedores individuais (MEIs) nos últimos dez anos, saltando de 208 mil registros em 2015 para 589 mil em 2025, chama atenção o crescente número de negócios tocados por quem passou dos 50. Hoje, 17% dos empreendedores goianos têm entre 55 e 64 anos. Outros 30% estão na faixa entre 45 e 54, e 3% têm 65 anos ou mais.  Juntas, essas faixas compõem 50% dos negócios formalizados no Estado por meio da figura jurídica do MEI, que oferece acesso a CNPJ, crédito, benefícios previdenciários e inclusão no mercado formal. 


 
Os dados fazem parte de um levantamento do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) Goiás, divulgado na primeira quinzena de maio, e refletem uma tendência que se espalha pelo país: empreender deixou de ser, para muitos, apenas uma saída diante da escassez de empregos formais em algumas localidades para se firmar como símbolo de autonomia e reinvenção pessoal. De acordo com o relatório Global Entrepreneurship Monitor (GEM), 91% dos brasileiros com mais de 50 anos que abriram um negócio apontam a dificuldade de recolocação no mercado como principal motivação. Ao mesmo tempo, empreender já figura como o sonho de seis em cada dez brasileiros.
Rosana de Almeida, 64 anos, é um desses rostos mais experientes que ajudam a desenhar o perfil do empreendedorismo goiano. Natural de São Paulo, ela se mudou para Anápolis no ano 2000 e, depois de uma trajetória no setor corporativo, onde chegou a trabalhar como promotora de vendas em uma multinacional da área de alimentação, decidiu mudar a rota. “Desempenhava um excelente trabalho, mas só homens eram promovidos. Enfrentei episódios de discriminação e resolvi sair”, lembra. Morando atualmente com o pai, de 94 anos, a irmã e dois sobrinhos, ela abriu na cidade goiana um centro de terapias integrativas, com serviços que vão desde reflexologia até consultoria capilar e cursos na área de bem-estar. Formada em Administração, Rosana é aposentada, mas viu no empreendedorismo uma forma de complementar a renda e conquistar autonomia. “O valor da aposentadoria não cobre todas as despesas da casa. Além disso, era muito difícil encontrar emprego na minha área por causa da idade”, explica.


Rosana de Almeida, 64 anos, é terapeuta integrativa (Foto: arquivo pessoal)

A virada de chave na trajetória profissional de Rosana começou em 2008, quando um processo inflamatório comprometeu sua coordenação motora. Alérgica a diversos medicamentos, ela precisou buscar alternativas fora da medicina convencional. E foi nas terapias naturais que encontrou alívio. A experiência pessoal virou ideia de negócio e, mais do que isso, se tornou vocação. “Decidi estudar profundamente esse campo. Fiz cursos em Acupuntura, Biofísica, Terapia Floral e outros. Hoje, ajudo outras pessoas a encontrarem equilíbrio e bem-estar”, conta, orgulhosa do negócio que construiu em Anápolis, onde mantém uma clientela fiel e em crescimento. Para ela, o que começou como necessidade virou missão de vida.
 

(Arte: jornal A Redação)
 
Hoje terapeuta integrativa, Rosana já havia flertado antes com o mundo dos negócios. Em 1990, abriu um salão de beleza, dois meses antes do Plano Collor congelar a economia e frustrar o sonho de muitos brasileiros. Décadas depois, a oportunidade de Rosana renasceu, mas veio recheada de novos desafios. "Tive que desenvolver novas habilidades, enfrentar o medo da internet, fazer coisas que eu não gostava muito, como gravar vídeos, mas tudo é questão de aprimoramento", garante. 
A trajetória de Rosana expõe, de fato, um dos maiores desafios de quem decide empreender depois dos 50, que é justamente adaptar-se às novas tecnologias. Em um cenário marcado por transformações aceleradas e pela centralidade das ferramentas digitais, lidar com redes sociais, plataformas de pagamento, gestão on-line e marketing digital pode representar um obstáculo considerável, especialmente para quem não teve amplo acesso a esse universo ao longo da vida profissional. Ainda assim, é um desafio possível de ser vencido, como demonstra a própria história da empreendedora.
 
Segundo Vera Lúcia Elias de Oliveira, analista técnica do Sebrae Goiás, o caso de Rosana não é, nem de longe, isolado. Essa dificuldade de administrar as novas tecnologias é, realmente, uma das barreiras mais frequentes entre empreendedores com mais idade. “Muitos não tiveram a possibilidade de investir em aprendizado ao longo da vida. Por isso, buscar o apoio de profissionais e a conexão com pessoas mais jovens pode ajudar a superar essa barreira”, afirma. Vera destaca que, na maioria dos casos, o problema não é resistência, mas insegurança diante de um universo desconhecido. Com orientação adequada e estímulo contínuo, conforme pontua a especialista, a transformação digital deixa de parecer um bicho de sete cabeças, e passa a ser uma aliada indispensável para o sucesso dos negócios.
 
Além dos desafios tecnológicos, Vera chama atenção para outras barreiras que atravessam o caminho de quem decide empreender mais tarde na vida. O preconceito etário, por exemplo, ainda é, segundo ela, um obstáculo sutil, mas persistente. “A nossa sociedade tem restrição às pessoas mais velhas”, observa. Para a analista do Sebrae Goiás, a chave para romper essa barreira está na construção de uma rede de contatos sólida, uma forma eficaz, conforme destaca a especialista, de abrir portas, ampliar oportunidades e mostrar que experiência e inovação podem, sim, andar lado a lado.
 

(Arte: jornal A Redação)
 
Outro ponto crítico é a gestão financeira, um desafio que, segundo Vera, não se limita aos mais velhos. “Muitos empreendedores ainda não têm educação financeira nem para a vida pessoal. É fundamental utilizar ferramentas de controle financeiro e buscar orientação especializada. Isso é o que pode garantir uma gestão eficiente e o sucesso do negócio”, alerta. Na era do digital, atrair clientes também exige esforço extra dos empreendedores seniores. “Muitos se sentem desatualizados com os novos cenários e tendências do mercado. Por isso, desenvolver estratégias de marketing eficazes e focar na fidelização dos clientes são elementos-chave”, reforça a analista.
Diante desse cenário, o Sebrae Goiás tem direcionado atenção especial ao público 50+, oferecendo ferramentas que acompanham toda a jornada empreendedora, desde o surgimento da ideia até a consolidação do negócio. “Temos várias soluções que podem apoiá-los. Desde encontrar uma ideia de negócios, a modelar estes negócios e todo o suporte para implementar seu empreendimento. Muitas das soluções são gratuitas e estão disponíveis tanto no presencial quanto on-line no nosso portal”, destaca Vera Lúcia, analista técnica da instituição. O objetivo, segundo ela, é facilitar o caminho para quem quer empreender, oferecendo acesso a conhecimento, planejamento e estratégia, ingredientes fundamentais para transformar um bom plano em um negócio de sucesso.


Vera Lúcia é analista técnica do Sebrae Goiás (Foto: divulgação)
 
Além das opções individuais, o Sebrae também tem desenvolvido programas coletivos sob medida. “Ainda temos jornadas específicas para grupos onde personalizamos para dar o suporte de acordo com a maturidade do grupo. Oferecendo consultoria, capacitação e suporte para os empreendedores terem sucesso nos seus empreendimentos”, explica Vera. A estratégia tem dado resultado: o número de atendimentos ao público mais experiente vem crescendo ano após ano. “Temos percebido um aumento no atendimento nos últimos anos ao público platinado. O avanço tem sido bastante significativo. De 2022 para 2023 a taxa de crescimento no atendimento foi de 85%, de 2023 para 2024 de 130%. Em 2025, 29% do nosso atendimento foi para o público 50+. Quase 40% do público atendido é feminino e a maior demanda ainda vem da cidade de Goiânia”, completa a analista. 


Os dados comprovam que, em Goiás, a maturidade não é um freio, mas sim um combustível para novos começos. Foi assim com Terezinha Mendes, de 60 anos. Depois de décadas de trabalho sob o regime celetista em uma operadora de planos de saúde, atuando nas áreas administrativa, jurídica e de atendimento, Terezinha viu a vida virar de cabeça para baixo aos 52 anos. Foi desligada da empresa e, pouco tempo depois, decidiu se aposentar. Mas a tranquilidade esperada para esse novo momento não veio. “Mesmo aposentada, a renda não era suficiente”, lembra. A estabilidade financeira que buscava parecia distante, até que, aos 54 anos, resolveu tentar algo completamente novo: decidiu empreender e tornou-se corretora de imóveis.


Terezinha Mendes, de 60 anos, é corretora de imóveis (Foto: arquivo pessoal)
 
“Não tinha experiência em vendas, não conhecia nada do mercado imobiliário, sou tímida, ou seja, tinha tudo pra não dar certo”, relembra. Mas deu certo. E como! Determinada, ela mergulhou de cabeça na nova carreira, fez curso técnico em transações imobiliárias, obrigatório para obter o registro no conselho profissional, e buscou se capacitar constantemente. “Fiz vários outros cursos e treinamentos diários. Muitas palestras referentes à profissão”, relata. 
 
O esforço foi recompensado. Terezinha alcançou, enfim, a estabilidade financeira que antes parecia impossível e, mais do que isso, construiu um novo patrimônio. “Empreender transformou a minha vida, tanto no pessoal, quanto no patrimonial. Tínhamos um único imóvel, com pouco mais de três anos como corretora já eram três imóveis”, celebra. Mas as mudanças não foram só na área financeira. Ela conta que o novo caminho mexeu também com sua autoestima. “Autoconfiança, né? Realizei sonhos impossíveis na minha condição anterior. Me encontrei na profissão.”
(Arte: jornal A Redação)
 
Hoje, na casa dos 60 anos, divorciada e morando em Goiânia com o filho, Terezinha é exemplo de que empreender depois dos 50 vai além de uma necessidade. Trata-se, como ela mesma pontua, de uma escolha transformadora. Para ela, o empreendedorismo foi um salto no escuro que acabou iluminando um caminho completamente novo. Para quem ainda hesita em dar o primeiro passo, Terezinha é direta. “Acredite nos seus sonhos e tire seu projeto do papel", diz. Embora reconheça que a jornada é cheia de desafios, a corretora de imóveis sabe que o maior impedimento está na resistência dentro de cada um. “Costumo dizer que nós somos nossos próprios concorrentes e adversários. Vencer o medo, o desânimo, a procrastinação é um desafio diário", afirma, ressaltando que investir em capacitação e construir uma rede de apoio são os segredos para transformar sonhos em conquistas concretas.

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