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Sistema OCB/GO incorpora inovação à rotina | 29.10.25 - 10:17
Cooperativas financeiras vêm implementando soluções de inteligência artificial para tornar os processos mais ágeis (Foto: reprodução/linkedin) Adriana Marinelli
Goiânia - A espera de quase uma semana virou coisa do passado. Nos processos envolvendo liberação de créditos de consórcio, o que antes consumia dias em análises manuais, rechecagens e idas e vindas de documentos agora se resolve em 48 horas ou menos. A mudança tem explicação prática. É que cooperativas financeiras que atuam em Goiás vêm implementando soluções de inteligência artificial para tornar os processos mais ágeis e precisos. Mas a grande virada não está apenas na velocidade, está no destino do tempo recuperado. Cada hora poupada pela IA se converte em minutos extras de escuta atenta, de orientação personalizada e de presença humana. É a tecnologia trabalhando para ampliar, não substituir, o que há de mais valioso no cooperativismo: o vínculo entre pessoas.
Essa ponte entre inovação e a essência do olho no olho já foi construída pelo Sicredi, cooperativa de crédito com mais de 120 anos no mercado, que leva seu modelo potencializado pela IA a cidades goianas e diversas regiões do Brasil, provando que o futuro do cooperativismo se constrói com o suporte dos algoritmos, mas se sustenta mesmo em relações verdadeiras. A protagonista dessa virada no Sicredi é uma solução que combina OCR (Reconhecimento Óptico de Caracteres) com Inteligência Artificial Generativa. Em linhas práticas, OCR extrai os dados brutos dos documentos, transferindo para a IA as missões de interpretar, corrigir, validar as regras de segurança do negócio e decidir pelo aceite documental, aprendendo e se aprimorando à medida que recebe mais documentos e dados. O projeto foi testado entre abril e junho deste ano com 17 cooperativas participantes e, diante dos resultados satisfatórios, já foi ampliado para todo o sistema Sicredi.
Os números comprovam os resultados. Foram 357 pagamentos liberados, mais de R$ 38 milhões em créditos pagos com o suporte da IA e uma redução do prazo médio de análise de aproximadamente seis dias para cerca de dois. O balanço, disponibilizado à reportagem do jornal A Redação, traduz o que a tecnologia prometeu e entregou: velocidade e previsibilidade no atendimento, mantendo intacta a alma cooperativista.
“A Inteligência Artificial é uma tecnologia que serve como ferramenta de trabalho. Ela nos auxilia a melhorar a experiência nos processos, gerar eficiência e identificar oportunidades de negócio. Com esta automação, melhoramos a experiência dos nossos associados, reduzimos a carga operacional no dia a dia das nossas equipes e potencializamos o tempo do nosso gerente de negócio para reforçar o nosso diferencial, que é o relacionamento próximo e humano”, afirma Thiago Rossoni, diretor de Produtos e Serviços do Sicredi.
Em essência, a inteligência artificial opera como um sistema de aprendizado contínuo. Ao analisar dados de projetos anteriores, ela aprimora a capacidade de decisão, tornando-a mais ágil e eficaz, além de identificar riscos e oferecer soluções de forma preventiva. Esse movimento faz muito sentido dentro do contexto de expansão que o Sicredi vem experimentando. Segundo dados internos disponibilizados à reportagem, a instituição já alcançou neste ano a marca de R$ 57,8 bilhões em créditos sob sua gestão. Em 2024, foram comercializados R$ 14,9 bilhões em créditos de consórcio, representando uma alta de 31,9% em relação ao ano anterior, consolidando o Sicredi como a 7ª maior administradora de consórcios do país em cotas sob gestão.
Esses volumes expressivos tornam evidente a necessidade de investir em ferramentas que permitam à cooperativa acompanhar o crescimento da demanda. Nesse cenário, a inteligência artificial surge como uma importante aliada, capaz de ampliar a capacidade dos processos sem comprometer a qualidade. O projeto de aplicação da IA na instituição financeira seguiu etapas clássicas de inovação, partindo do estudo de viabilidade e passando por definição de tecnologias, desenvolvimento, homologação e o piloto. Com o sistema já disponível para todas as cooperativas, a instituição inicia agora a expansão da tecnologia para outros processos além dos créditos de consórcio.
“Temos outras iniciativas em andamento. Estamos usando inteligência artificial em modelos de previsão de inadimplência, retenção de associados e no planejamento financeiro, com projeções de novas associações, crédito, depósitos e resultados. São aplicações que ampliam nossa capacidade de antecipar cenários e tomar decisões mais assertivas”, explica Carlos Frederico de Olival Veloso, gerente de Dados da Central Sicredi Brasil Central.
Na rotina diária, aponta Carlos Frederico, o ganho é duplo. Para os colaboradores, redução de tarefas manuais e aceleração de processos, o que libera tempo para atenção direta aos cooperados. Já para os associados, mais agilidade nas respostas, maior transparência e soluções financeiras mais alinhadas ao perfil de cada um.
Embora os custos iniciais da implementação de IA variem de acordo com a complexidade dos sistemas e o volume de dados, os benefícios a longo prazo tendem a superar os investimentos. A adoção da inteligência artificial envolve despesas com aquisição de software, contratação de especialistas e adaptação dos sistemas produtivos, mas gera retornos significativos quando entrega redução de falhas, otimização de processos e manutenção preditiva.
Empresas que já adotaram a tecnologia relatam resultados concretos. Segundo um estudo da McKinsey, 60% das empresas globais que utilizam IA registraram aumento de receita, enquanto 44% relataram redução nos custos operacionais, evidenciando o potencial da inteligência artificial para transformar a eficiência e a performance dos negócios.
O gerente de Dados da Central Sicredi Brasil Central concorda com o estudo e garante que investir em IA foi uma decisão acertada dentro da instituição. “O retorno do investimento acontece de forma rápida quando a organização está preparada para adotar essas mudanças. Isso se reflete em indicadores como redução da inadimplência, maior retenção de associados e crescimento sustentável”, acrescenta.
No plano nacional, o Sicredi reúne mais de 9,5 milhões de associados e conta com mais de 3 mil agências físicas espalhadas em todos os Estados brasileiros e também no Distrito Federal. Em Goiás, a cooperativa atende 196 municípios (com presença física em 50), mantém 69 agências, cerca de 178 mil associados e quase 1,1 mil colaboradores.
As inovações tecnológicas que chegam às cooperativas de crédito se apoiam em uma lógica que ganha cada vez mais força e adeptos: os associados são ao mesmo tempo donos e clientes. É essa dupla condição que molda a gestão participativa, em que decisões são tomadas coletivamente, e garante que os resultados sejam compartilhados entre todos. Diferentemente dos bancos tradicionais, focados no lucro de acionistas muitas vezes distantes, as cooperativas de crédito têm como objetivo gerar valor concreto para as comunidades e melhorar a vida de quem faz parte delas.
Entre as vantagens que explicam a adesão dos associados às cooperativas de crédito estão taxas de juros mais baixas, tarifas reduzidas ou ausentes, sobras (lucros) distribuídas entre os cooperados, atendimento personalizado, além de gestão democrática. Em apenas um ano, entre 2023 e 2024, o número de instituições financeiras ligadas ao cooperativismo no País cresceu de 9.804 para 10.220, um salto de 4,1%, que se traduz em 407 novas sedes ou pontos de atendimento, segundo o Banco Central. Essa rede, agora presente em mais de 3,2 mil municípios, contra 3,1 mil no ano anterior, tornou-se indispensável em diversas localidades do interior. Em Santa Rosa de Goiás, por exemplo, a unidade do Sicoob UniCentro Norte Brasileiro é a única instituição financeira à disposição da população, retrato da missão cooperativista de garantir inclusão e presença onde os bancos tradicionais não chegam.
O fortalecimento do setor também aparece nas estatísticas do emprego. Enquanto o cooperativismo gerou 11,1 mil novos postos de trabalho no ramo financeiro em 2024, os bancos tradicionais seguiram na direção oposta, reduzindo 3,3 mil vagas formais no acumulado de 12 meses até abril do mesmo ano, conforme dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) e do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Um contraste que ajuda a revelar o dinamismo das cooperativas, cada vez mais protagonistas na economia e no cotidiano de milhões de brasileiros.
A exemplo do que é visto em nível nacional, o cooperativismo de crédito vive um momento de franca expansão em Goiás, consolidando-se como uma força cada vez mais relevante no sistema financeiro do Estado. Para se ter uma ideia, entre 2023 e 2024, os ativos totais das cooperativas saltaram de R$ 34,2 bilhões para R$ 41,4 bilhões, um avanço de 21% que reflete a confiança dos goianos nesse modelo de negócio. Os depósitos seguiram o mesmo ritmo, crescendo 26,3% e atingindo R$ 27,9 bilhões, resultado que mostra a solidez e a capacidade de atração das instituições cooperativas.
Dados reunidos pelo BureauCoop (Painel de Dados do Cooperativismo Financeiro), Banco Central e pelas próprias cooperativas revelam que o crescimento alcançou praticamente todos os principais indicadores econômicos e sociais do setor. A carteira de crédito, por exemplo, chegou a R$ 23,4 bilhões em 2024, um aumento de 14% em relação ao ano anterior. O número de cooperados também subiu de forma expressiva, passando de cerca e 510 mil em 2023 para mais de 580 mil em 2024. A rede de atendimento do cooperativismo de crédito no Estado ganhou 24 novas unidades e passou a contar com 432 pontos de atendimento, um crescimento de 5,8%.
Para o presidente do Sistema OCB/GO, Luís Alberto Pereira, o avanço contínuo das cooperativas de crédito não é fruto do acaso, mas de um conjunto de atributos. Ele destaca especialmente “a credibilidade das cooperativas de crédito junto ao mercado, com soluções completas e customizadas”, capazes de atender desde pequenas até grandes demandas de capital. Segundo Pereira, o conhecimento das necessidades locais e a ampla capilaridade das instituições também impulsionam esse crescimento. “E ainda destaco as sobras anuais, que é o lucro líquido distribuído, um diferencial que só o cooperativismo tem”, ressalta.
O tamanho do destaque que o cooperativismo de crédito goiano vem conquistando pode ser medido também pelo fato de Goiânia ter sido escolhida para sediar, em agosto de 2026, o Concred, considerado maior evento do cooperativismo de crédito da América Latina. A próxima edição contará com o apoio do Sistema OCB/GO e das cooperativas de crédito do Estado. Organizado pela Confederação Brasileira das Cooperativas de Crédito (Confebras), o evento reúne uma ampla programação de painéis e palestras, funcionando como um espaço estratégico para troca de conhecimento, inovação e fortalecimento das cooperativas de crédito em todo o País. O avanço da inteligência artificial, assunto já abordado de forma ampla dentro do cooperativismo, será ainda mais explorado durnate o evento. “Eu estive na última edição, realizada em Belo Horizonte. A próxima já estava meio que direcionada para ser em São Paulo, mas conseguimos trazer para Goiás”, comemora Luís Alberto.
Os números do cooperativismo goiano como um todo ajudam a dimensionar a força crescente desse movimento no Estado. O Panorama do Cooperativismo Goiano 2025, elaborado pelo Sistema OCB/GO em parceria com a Universidade Federal de Goiás, com base em dados de 2024, mostra que o setor já influencia diretamente a vida de 2,5 milhões de pessoas e reúne cerca de 700 mil cooperados em diferentes ramos, representando um crescimento de 9,3% em comparação ao ano anterior.
Entre todos os ramos, as cooperativas de crédito se destacam como a principal força do cooperativismo em Goiás, reunindo 86,1% dos cooperados do Estado. Em seguida vêm as cooperativas agropecuárias (7,5%), de consumo (3,4%), de saúde (1,6%) e outras com menor representatividade. No total, são 32 cooperativas de crédito ligadas à OCB/GO, um segmento que, além de oferecer soluções financeiras aos associados, impulsiona o desenvolvimento regional ao movimentar economias locais com crédito acessível e reinvestir os próprios resultados.
Os dados também mostram o peso econômico do sistema. Em 2024, as cooperativas goianas em seus mais variados segmentos registraram faturamento de R$ 31,3 bilhões, o equivalente a 21% de todo o PIB estadual. O agro, com 51,3% desse volume, e o crédito, com 31,4%, lideram a movimentação. Quando se olha para os ativos acumulados, o valor chega a R$ 70,7 bilhões, consolidando as cooperativas como protagonistas econômicas.
No mercado de trabalho, a contribuição também é significativa, segundo o Panorama do Cooperativismo Goiano. Foram 18,5 mil empregos diretos em 2024, com crescimento de 3,3% sobre o ano anterior. As cooperativas agropecuárias (38,1%), de crédito (30,1%) e de saúde (26,8%) concentram a maior parte desses postos, mostrando que o setor, além de distribuir renda entre os cooperados, também tem efeito direto na geração de empregos formais.
Segundo o presidente do Sistema OCB/GO, Luís Alberto Pereira, o crescimento do cooperativismo está diretamente ligado ao fortalecimento da imagem e da confiança no setor. “À medida que o poder cooperativo vai se tornando mais conhecido e as próprias cooperativas mais respeitadas, a população vai confiando mais”, afirma. Para ele, essa credibilidade, somada à capacidade das cooperativas de oferecer soluções completas e personalizadas, explica o avanço constante do segmento em Goiás e em todo o país.
Esse bom desempenho ganha ainda mais relevância em 2025, declarado pela ONU como o Ano Internacional das Cooperativas. A iniciativa busca chamar atenção para a capacidade do cooperativismo de aliar desenvolvimento econômico e sustentabilidade social, equilíbrio essencial diante dos desafios contemporâneos. Em Goiás, o total de cooperativas alcançou 266 em 2024, o que representa um aumento de 6% em comparação ao ano anterior. A expansão confirma a vitalidade de um modelo que evolui com o tempo sem perder sua essência. Enquanto a adoção de tecnologias inovadoras, como a inteligência artificial, amplia a eficiência e agiliza processos, o relacionamento humano segue como o alicerce da confiança e do vínculo entre os cooperados.
Seguindo o ritmo das transformações do setor financeiro, outras cooperativas de crédito em Goiás também passaram a investir em soluções baseadas em inteligência artificial. Um exemplo é o Sicoob UniCentro Br, que iniciou sua própria jornada tecnológica para aprimorar processos e fortalecer o relacionamento com os cooperados. Fundada em Goiânia em 1992, a instituição financeira nasceu ligada ao setor da saúde, mas ao longo dos anos se transformou em uma cooperativa de crédito de livre admissão, aberta a qualquer pessoa física ou jurídica interessada em acessar um portfólio completo de soluções financeiras. Hoje, a instituição soma mais de 115 mil cooperados, cerca de 500 colaboradores e presença em mais de 50 municípios, além de alcance nacional por meio de sua agência digital.
Nesse primeiro momento, a aplicação da inteligência artificial está voltada para apoiar os colaboradores em tarefas internas. O sistema, homologado pelo Centro Cooperativo Sicoob (CCS), permite, por exemplo, consultas ágeis a normativas e a análise de documentos internos, garantindo maior velocidade e segurança. “Estamos na fase inicial de implantação, focados em estruturar processos e identificar as áreas prioritárias que mais se beneficiarão com a inteligência artificial”, revela o diretor operacional do Sicoob UniCentro Br, Charles Campanha. “Nosso objetivo é adotar a tecnologia de forma gradual e responsável, sempre com a tomada de decisão nas mãos dos nossos profissionais, tendo a IA como apoio. Todo esse processo é conduzido com atenção especial à segurança da informação e em conformidade com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). E, é claro, construir uma base de dados única e íntegra, pois decisões críticas dependem de dados confiáveis”, acrescenta.
Na visão do executivo, a aposta em IA vai além de ganhos internos e visa transformar também a relação com os cooperados. “A inteligência artificial permitirá que os cooperados recebam respostas mais rápidas e assertivas sobre produtos e serviços, aumentando a agilidade no atendimento e garantindo uma experiência mais eficiente e confiável.”
O plano de inovação no Sicoob UniCentro Br inclui ainda investimento em capacitação. Segundo Campanha, a cooperativa prepara treinamentos e programas de desenvolvimento para que os colaboradores possam utilizar as ferramentas com segurança e extrair o máximo de valor. “Estamos promovendo uma cultura orientada por dados, onde colaboradores entendam a importância da qualidade das informações e adotem práticas que evitem erros, duplicidades ou inconsistências. Isso é essencial para que os modelos de IA sejam confiáveis e escaláveis”, explica. Ele acrescenta que alguns profissionais estratégicos já foram capacitados e que, no médio prazo, a ideia é alcançar todo o quadro de colaboradores.
As perspectivas de futuro também já estão desenhadas e, assim como ocorre entre grandes players de diversos setores, a inovação também está entrelaçada à cooperativa. O Sicoob UniCentro Br prevê ampliar o uso da inteligência artificial para áreas estratégicas, como análise de crédito, utilizando algoritmos para prever inadimplência, otimizar ofertas e dar suporte aos analistas com informações mais precisas. “A tendência é que a inteligência artificial se expanda para diversas áreas, fortalecendo a tomada de decisão e a qualidade do atendimento. Sempre preservaremos o fator humano como decisivo, utilizando a IA como suporte, com total respeito à privacidade dos cooperados e à segurança da informação”, reforça Campanha ao citar, mais uma vez, o compromisso da cooperativa em estar em conformidade com a LGPD.
Levantamento recente do Censo do Cooperativismo Goiano 2025, cedido pelo Sistema OCB/GO à reportagem do jornal A Redação, revela que as cooperativas de crédito estão na linha de frente quando o assunto é inovação tecnológica. Embora o estudo trate da adoção de tecnologias de forma ampla, a inteligência artificial (IA) se insere como uma das ferramentas que têm potencializado processos, ampliado a eficiência e impulsionado novos modelos de atendimento dentro desse contexto.
Segundo o levantamento, quase 55% das cooperativas de crédito informaram ter focado na criação de novos produtos e serviços, e 50% buscaram atuar em novos mercados. Quase 20% afirmaram ter buscado soluções tecnológicas externas ao longo de 2024, um sinal de abertura a novas parcerias e adoção de tecnologias de fora do seu ecossistema. De acordo com a coordenadora de Inovação do Sistema OCB/GO, Carla Vinhadelli Campos, o crescimento desse movimento não é casual. “Temos três vetores claros. Cito a pressão por eficiência operacional, e aí entra reduzir custo e tempo em processos repetitivos, a demanda por atendimento personalizado pelos cooperados e a disponibilidade de ferramentas de IA cada vez mais acessíveis, tanto técnicas quanto econômicas”, explica.
O estudo destaca ainda que 83,9% das cooperativas de crédito adotaram formas criativas de melhorar o atendimento. É o maior índice entre todos os ramos. E 100% informaram ter implementado ações para aumentar a confiabilidade de seus produtos e serviços, além de estarem em processo constante de atualização de conhecimentos. Outros 96,7% relataram práticas contínuas de melhoria da qualidade, e 74,2% vêm reduzindo custos operacionais. “O crescimento do mercado e dos indicadores do cooperativismo tem levado as cooperativas a competir por oferta de serviços modernos, especialmente nas área de crédito e saúde, onde dados e automação trazem ganhos imediatos”, complementa Carla.
A representante do Sistema OCB/GO observa que o uso de inteligência artificial vem sendo um dos principais catalisadores dessa transformação. “A IA é, na prática, uma resposta direta às demandas por eficiência e atendimento personalizado. Ela permite decisões de crédito mais rápidas e precisas, segmentação e ofertas sob medida para cada perfil de cooperado”, completa. 96,8% das instituições financeiras ligadas ao cooperativismo goiano informaram, ainda, ter investido em capacitação e modernização interna, segundo o levantamento.
Carla observa que o investimento em capacitação tem sido essencial para superar a preocupação inicial em relação à IA, por exemplo. "Houve um receio legítimo de que a tecnologia substituísse o contato humano. Isso vem sendo superado quando mostramos a IA como ferramenta de potencialização. A automação de demandas administrativas libera tempo dos colaboradores para foco no relacionamento", destaca.
A coordenadora de Inovação do Sistema OCB/GO acrescenta que projetos-piloto e cursos práticos têm ajudado a desmistificar o tema e reforçar a confiança das equipes. “Políticas claras de governança de dados e capacitação que preservam a dimensão humana do cooperativismo têm sido fundamentais nesse processo”, reforça.
Ferramentas de IA vêm sendo aplicadas em diferentes etapas da operação, da automação de tarefas administrativas à análise de dados para oferta de crédito e personalização do atendimento, como exemplificado pelas cooperativas de crédito citadas pela reportagem. Ainda que o relatório do Censo do Cooperativismo Goiano 2025 não detalhe aplicações específicas, Carla cita como tendências o atendimento automatizado e híbrido (chatbots e assistentes virtuais), a análise de crédito com modelos preditivos, a automação de processos (RPA + IA), o uso de análise de dados para gestão de risco e a personalização de produtos. “Hoje já existem cooperativas usando chatbots, sistemas de scoring mais avançados e ferramentas de produtividade baseadas em IA, como geração de texto e análise de documentos”, menciona.
Segundo a coordenadora, essa modernização é viável inclusive para cooperativas menores. “Muitas começam com ferramentas gratuitas ou de baixo custo, como chatbots prontos, automação simples e ferramentas de produtividade, e evoluem conforme validam o retorno. Parcerias com o Sistema OCB, universidades e hubs de inovação ajudam a diluir custos e ampliar o acesso”, explica Carla.
Sobre o ramo de crédito estar no topo entre as cooperativas que têm apostado na inovação por meio da IA, a coordenadora do Sistema OCB/GO faz uma leitura estratégica do cenário. “O cooperativismo de crédito lida diretamente com dados, risco e competitividade com fintechs, fatores que estimulam investimento em tecnologia. A pressão regulatória e a necessidade de agilidade criam um ambiente naturalmente propício à experimentação”, analisa.
Para os representantes de cooperativas que ainda não se sentem totalmente preparados para adotar soluções de inteligência artificial, o Sistema OCB/GO oferece suporte contínuo e iniciativas voltadas à capacitação. A entidade promove cursos, oficinas, palestras e workshops técnicos, incluindo formações práticas sobre IA generativa e produtividade com ferramentas digitais.
Segundo Carla Vinhadelli Campos, coordenadora de Inovação do Sistema OCB/GO, essas ações são estratégicas para tornar a adoção da IA segura e eficiente. “O tema também tem sido inserido em eventos maiores, como o CoopsParty. Também atuamos na articulação de parcerias acadêmicas e parceiros para ofertar trilhas acessíveis às cooperativas goianas”, explica. O CoopsParty mencionado pela representante do Sistema OCB/GO é considerado o maior encontro de inovação do cooperativismo nacional. A edição deste ano será realizada na capital goiana, com início nesta quarta-feira (29/10) e ampla programação no Centro de Cultura e Convenções de Goiânia até o dia 1° de novembro.
O InovaCoop, plataforma on-line criada pelo Sistema OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras) para promover a cultura de inovação dentro do movimento cooperativista, também acaba de lançar uma área exclusiva dedicada à inteligência artificial. Trata-se da aba “Saiba Mais IA”, que reúne conteúdos práticos e acessíveis para apoiar cooperativas de todos os ramos na adoção dessa tecnologia. O novo espaço facilita o acesso a guias, vídeos e materiais sobre temas como engenharia de prompt, governança de dados e uso de ferramentas de IA, ajudando dirigentes, colaboradores e cooperados a aplicarem a inovação em seus processos, serviços e estratégias de negócios.
Carla destaca que, no médio prazo, entre dois e cinco anos, a expectativa é consolidar usos básicos de IA e de alto retorno, como atendimento híbrido, automação de backoffice, scoring e business intelligence, com projetos-piloto escalando para soluções regionais compartilhadas. “Já a longo prazo, considerando entre 5 e 10 anos, a IA estará integrada à maioria dos serviços, incluindo personalização em massa, análise preditiva para gestão territorial, integração com saúde cooperativa e cadeia produtiva, aumentando eficiência e qualidade do serviço cooperativista”, projeta a coordenadora ao citar que o avanço deve ser acelerado, mas não linear. “Saltos ocorrem quando ferramentas maduras se tornam acessíveis e quando houver maior capacitação. A ‘colheita’ de benefícios já é percebida em ganhos de eficiência e satisfação", acrescenta.
Para Luís Alberto Pereira, que preside o Sistema OCB em Goiás, a inteligência artificial é uma realidade no cooperativismo goiano e vem sendo amplamente estimulada pela instituição. “Nós temos incentivado muito o uso da IA no cooperativismo. Temos uma equipe que vai às cooperativas no interior e é muito requisitada para ensinar como trabalhar com a inteligência artificial”, afirma. Segundo ele, o Sistema OCB/GO tem intensificado a realização de imersões e parcerias com empresas especializadas, além de oferecer assessorias técnicas e capacitações voltadas à inovação.
O dirigente destaca que o incentivo ao uso da inteligência artificial vai além das cooperativas e faz parte da rotina interna da própria entidade. “Na OCB a gente tem incentivado um programa em que as pessoas usam a inteligência artificial para aprimorar processos internos”, explica. Para ele, acompanhar essa transformação é questão de sobrevivência. “Incentivamos porque entendemos que, se não estivermos juntos com a inteligência artificial, vamos perder competitividade no mercado”, conclui, enfatizando que, no cooperativismo, resistir à inovação é parar no tempo e, segundo Luís Alberto, Goiás escolheu avançar.