Adriana Marinelli
Goiânia - Mesmo que ainda esteja distante do ideal, o espaço conquistado pelas mulheres no mercado de trabalho tem crescido mês a mês. Casos de representantes femininas em cargos de chefia deixaram de ser isolados e têm se tornado cada vez mais comuns, inclusive em grandes empresas e cargos públicos. Mais do que preparação, as mulheres buscam cada vez mais qualificação para os desafios da profissão, principalmente em áreas "dominadas" por homens. Em Goiás, várias profissionais provam que, com dedicação e empenho, o chamado "sexo frágil" exerce funções com maestria e em muitos casos até melhor que muito marmanjo.
É o que afirma Juliana da Silva Fernandes, de 35 anos. Ela trabalha como motorista de ônibus do transporte coletivo em Goiânia há dez anos e garante que não deixa a desejar em nada quando é comparada com os homens colegas de profissão. "Eu sempre gostei de desafios. Quando eu disse que iria trabalhar com isso, muitos diziam que eu não conseguiria, mas provei para todos que sou capaz", ressalta. Em entrevista ao jornal A Redação, Juliana fez questão de enfatizar que, mesmo em um trabalho com ampla presença masculina, ela não deixa a feminilidade de lado. Mãe de uma menina de 9 anos, Juliana enfatiza que a ida semanal ao salão de beleza é garantida.
(Foto: Renato Conde/A Redação)
"Eu recebo muitos elogios pela coragem e por exercer minha profissão da maneira correta, mas ainda sofro com piadinhas de mau gosto. Ainda acontece de um ou outro fazer comentários do tipo: 'aquela ali é macho fêmea' ou 'é sapatão'.

Ainda convivemos com isso", revela. No entanto, a motorista diz que esse tipo de pensamento não a abala. Ao ser questionada sobre o espaço da mulher no mercado, Juliana avalia que muito já foi conquistado, mas ainda há muito para avançar.
"A minha história e de tantas outras que venceram, como eu, mostra que o mercado está aberto para todo mundo. Mulher tem que persistir. Não pode achar que é difícil porque exige força ou porque tem outra dificuldade. A mulher tem que ter consciência de que existem portas abertas para todos, independente da área e independe da função", diz ao destacar que antes de assumir o comando do volante no transporte de passageiros já assumiu responsabilidades que exigiram ainda mais da sua força física. "Já puxei cana na roça", lembra.

Outro exemplo de profissionalismo e de destaque positivo na área que escolheu é o da Aparecida de Oliveira (foto ao lado), 36 anos, servente de obra da Construtora Bambuí, em Goiânia. Composto por Construtora, Incorporadora e Imobiliária, o Grupo Bambuí se orgulha em dizer que, além da presença feminina nos canteiros de obras, sua área administrativa também é composta, em sua maioria, por mulheres.
O caso de Aparecida é mesmo de dar orgulho. Ainda jovem, aos 17 anos, deixou sua cidade natal, Araguapaz (GO), e resolveu seguir em busca de novas oportunidades de emprego e melhoria de vida na capital. "Eu tinha apenas o dinheiro da passagem de ida, se desse errado eu não teria o que fazer. Cheguei a ouvir que nunca iria ser alguém na vida. Mas eu vim e disse que provaria o contrário, e que eu venceria e conseguiria alguma coisa boa. E assim foi!", comemora.
Empregos formais por gênero
São exemplos de superação como o de Aparecida e Juliana que incentivam outras mulheres a buscar espaço naquilo que realmente querem e acreditam. No entanto, em Goiás e no Brasil o mercado de trabalho ainda conta com pontos importantes a serem revistos quando o assunto é estoque de empregos formais por gênero. De acordo com a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) 2014, a mais recente divulgado pelo Ministério do Trabalho - referência 2015 será divulgada neste ano -, a desigualdade é facilmente percebida em Goiás.
Conforme relatório disponibilizado pela Superintendência de Trabalho e Emprego de Goiás, considerando apenas as vagas formais abertas no Estado em 2014, o número de oportunidades para homens foi 25% superior às opções de empregos com carteira assinada ofertadas para mulheres.
A questão de diferença salarial entre homens e mulheres também permanece. A goiana Juliana, que exerce a função de motorista de ônibus, diz que não enfrenta esse problema. "Na nossa empresa é tudo igual. Não tem esse tipo de distinção", garante.
Levantamento da RAIS mostra que várias mulheres goianas não têm a mesma tranquilidade de Juliana, já que, segundo as estatísticas de 2014, a remuneração média de homens no Estado era de R$ 2,2 mil em empregos de carteira assinada, enquanto mulheres recebiam, em média, R$ 1,9 mil no mesmo período.
Qualificação
Mas é para mudar essa realidade de desigualdade que muitas guerreiras estão buscando seu lugar ao sol por meio da qualificação profissional. Pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM) 2015, divulgada pelo Sebrae Goiás em fevereiro deste ano, mostra que as mulheres correspondem à metade dos empreendedores que iniciaram seu negócio no ano passado, sendo a maioria com idades entre 25 e 44 anos.
Na última semana, foi realizada em Brasília a entrega do Prêmio Sebrae Mulher, que reconhece histórias de mulheres de negócios, acreditando que as experiências premiadas sejam exemplos para outras mulheres que desejam abrir o próprio negócio e para aquelas que já possuem uma empresa e buscam o sucesso empresarial. Goiás teve representantes nas três categorias - produtora rural, microempreendedora individual e pequenos negócios, por meio das três vencedoras na etapa estadual, que concorreram com 397 empreendedoras que inscreveram seus relatos nesta edição do prêmio.
As goianas são a produtora rural Maria Elisa de Castro Paz, dona da Fazenda Samambaia II, de Orizona (Regional Sudeste); Tathiane Deândhela e Silva, proprietária da empresa T&D Consultoria de Pessoas, na categoria pequenos negócios; e a microempreendedora individual Cássia Correa Borges, proprietária da empresa Escola Dirigir sem Medo, de Anápolis (Regional Metropolitana) (foto abaixo). Nacionalmente o prêmio e realizado desde 2004 e já contabiliza onze edições, com inscritas 13.967 histórias, das quais 1.687 são de Goiás.
Maria Elisa de Castro Paz, Tathiane Deândhela e Silva e Cássia Correa Borges (Foto: Sebrae Goiás)