Théo Mariano
Goiânia - A morte do advogado Davi Sebba, assassinado com um tiro durante uma abordagem policial em Goiânia, completa oito anos neste 5 de julho, e a família ainda aguarda justiça. Em entrevista exclusiva ao jornal A Redação, o advogado que representa a família de Davi, Allan Hahnemann, contou que, há quase quatro meses, espera a decisão de dois recursos protocolados contra os policiais envolvidos no crime.
Advogado Davi Sebba, morto durante ação policial no dia 5 de julho de 2012, em Goiânia / (Foto: Arquivo Pessoal)
Após a
conclusão do inquérito da Polícia Civil, três policiais foram acusados pelo assassinato do advogado, registrado no estacionamento do Carrefour Sudoeste, no Setor Vila Bela, em Goiânia. Hahnemann explicou ao
AR que, enquanto acusação, pede em um dos recursos que todos os três policiais envolvidos sejam levados a Júri Popular. Por decisão da Justiça, apenas o soldado Jonathas Atenevir Jordão foi pronunciado ao júri, pois ele confessou que teria efetuado o disparo que vitimou Davi. Os outros dois acusados, tenente Edinailton Pereira de Souza e o sargento Luiz Frederico de Oliveira, foram absolvidos da participação no crime.
“Além do recurso para que os outros dois policiais sejam também levados a Júri Popular, apresentamos também apelação para que o crime seja tipificado como homicídio qualificado para todos os três”, disse Hahnemann. Para o advogado da família, a ação foi uma “emboscada e não permitiu a Davi Sebba a oportunidade de agir para se defender”. Ele acrescentou, ainda, que as apelações aguardam sentença desde março deste ano. O relator dos recursos é o juiz Aureliano Albuquerque Amorim.
Hahnemann acredita que, com decisão proferida em qualquer um dos recursos, a parte desfavorecida recorrerá. “Temos a expectativa de que, com a digitalização dos processos, a tramitação seja agilizada. Espero que pelo menos uma das apelações seja julgada até agosto”, estimou o advogado. Ele avalia o trabalho de investigação da Polícia Civil como “muito bem feito”. “Temos provas periciais muito fortes, um laudo do local do crime que demonstra as contradições das versões apresentadas pelos réus”, pontuou.
O inquérito realizado para investigar o caso foi concluído após quase 11 meses. Com as apurações, a Polícia Civil concluiu que tanto a arma, um revólver calibre 38, quanto a porção de 68 gramas de maconha encontradas no local do crime foram plantadas e não pertenciam ao advogado Davi Sebba.
“A própria lei da física contesta a argumentação feita pela defesa. Quando Davi sofreu o disparo, o carro estava em movimento e, assim que ele foi atingido, colidiu dentro do estacionamento do Carrefour”, comentou o advogado da família. Hahnemann continua: “Como a arma ficaria imóvel no banco do passageiro após a batida do carro?”
O caso Davi Sebba
No dia do nascimento de seu filho Gabriel Davi, o advogado Davi Sebba Ramalho foi assassinado com um tiro enquanto estava no estacionamento do Carrefour Sudoeste, em Goiânia. Sob o pretexto de que estariam investigando suposto tráfico de drogas, três policiais do serviço de Inteligência da Polícia Militar (P2) abordaram o advogado, que estava em seu carro particular. A ação culminou na morte de Davi em 5 de julho de 2012.
Davi Sebba Ramalho / (Foto: Arquivo Pessoal)
Segundo os policiais envolvidos, o advogado teria reagido à abordagem com tiros, motivando, segundo os acusados, o disparo que matou Davi. O soldado Jonathas Atenevir Jordão assumiu a culpa pelo crime.
À época, Davi Sebba era, de fato investigado pela Polícia Federal, por suposto tráfico de drogas. Porém, Allan Hahnemann destacou ao AR que a competência da investigação não seria da P2, mas sim da Delegacia Estadual de Repressão a Narcóticos (Denarc). De acordo com Hahnemann, a ação pode ser considerada “usurpação da função pública”.
Insegurança, ameaças e a dor de uma separação abrupta
Para Pedro Ivo Ramalho, irmão de Davi, o sentimento que ficou após a morte do advogado foi de “impotência frente à impunidade e insegurança”. “A dor decorrente de uma perda de forma tão abrupta e inesperada, violenta e injusta, ainda machuca muito. Davi ainda tinha um longo caminho pela frente com sua esposa e seu filho. Ele estava prestes a começar uma nova fase de sua vida, a de pai do pequeno Gabriel Davi”, afirmou em entrevista exclusiva ao AR.
Pedro Ivo Ramalho e Davi Sebba Ramalho / (Foto: Arquivo Pessoal)
Pedro Ivo relembrou que, dias depois do assassinato de seu irmão, a família de Davi começou a sofrer ameaças. “Um veículo da PM à paisana circulou de forma insistente, durante vários dias, em frente à casa dos pais do Davi”, disse. “Houve também um conjunto de pequenos fatos suspeitos, como ligações telefônicas de origem desconhecida, mensagens enviadas por policiais como ‘recados’ à família, para que deixassem de insistir na apuração do caso”, acrescentou o irmão, que atualmente é servidor público.
Ele comentou que, como consequência das constantes ameaças sofridas pela família, a única saída possível foi se mudar de Goiânia. “A família de Davi agora tenta construir uma nova vida para todos, longe das ameaças e intimidações que passou e poderia ainda estar passando.”
Pedro Ivo, em sua fala ao AR, também criticou a violência policial. “Isso se trata de um verdadeiro Estado autoritário que se sustenta na coerção para tentar controlar a sociedade usando meios que beiram a barbárie de tempos remotos, praticada por corporações e pessoas que se arvoram a autoridade de ‘investigar’, ‘abordar’, ‘julgar’ e ‘condenar’, tudo num só tempo e com base em juízos e valores que não encontram lugar no Estado Democrático de Direito.”
(Foto: Arquivo Pessoal)
Para aqueles que ficaram após a ida de Davi Sebba, como no caso de seu irmão Pedro Ivo, o sentimento prevalecente é a vontade de justiça, num caso que tirou a vida de um pai no mesmo dia do nascimento de seu filho. “A ausência de Davi é irreparável, mas queremos resposta.”
O que diz a defesa dos acusados
Em entrevista ao AR, o advogado Tadeu Bastos Roriz, que representa Jonathas Atenevir Jordão e Luiz Frederico de Oliveira no processo, sustentou a inocência dos acusados e classificou a ação como "estrito cumprimento do dever legal". "Estavam lá, como policiais, agindo exclusivamente para fazer a prisão de Davi Sebba por tráfico de drogas", disse. " A necessidade da força existiu pelo fato do Davi estar armado", prosseguiu Roriz. Ele ainda constestou que a afirmação de que a ação policial poderia ter sido uma emboscada. "Não tem a menor lógica. Quem faria uma emboscada no meio do Carrefour, próximo de tantas pessoas?"
Segundo o advogado, o argumento de que tanto arma quanto drogas teriam sido plantadas "não corresponde com o depoimento da testemunha" que supostamente estaria no local para comprar entorpecentes de Davi Sebba. "A testemunha fala claramente na oitiva que ele [Davi Sebba] estava armado e com a droga. A perícia traz como possibilidade, não afirma nada com certeza", ponderou. Tadeu Bastos ainda acrescentou que, em recurso, pede que Jonathas Jordão seja impronunciado ao júri popular.
O AR entrou em contato com a defesa do acusado Edinailton Pereira de Souza, mas não obteve resposta até a publicação da reportagem.