Ludymila Siqueira
Goiânia - Este 5 de julho de 2022 marca os 10 anos de dois assassinatos brutais registrados em Goiânia. Há uma década, nesta mesma data, os goianienses estavam em choque e duas famílias estavam desoladas. Dois homens perderam suas vidas sem chance de defesa e sem a oportunidade de se despedirem daqueles que mais amavam. Crimes bárbaros que se tornaram manchete nos principais veículos de comunicação do País.
Os crimes não têm ligação entre si e, apesar dos ponteiros do relógio terem registrado os assassinatos em horários diferentes, os casos têm mais pontos em comum além da data. Valério Luiz e Davi Sebba foram mortos a tiros e ambos os casos têm no banco dos réus policiais militares. A demora no processo judicial de encerramento dos processos também é semelhante.
Para os familiares das vítimas, uma dor que não passa. "Neste mesmo dia, neste mesmo lugar, há dez anos, eu via a cena do carro do meu pai crivado de balas, a cena que me obrigou a mover meio mundo por uma justiça que se recusa a chegar. De certa forma, ainda estou aqui, nesta esquina". O desabafo feito nas redes sociais nesta terça-feira (5/7) é do advogado Valério Luiz Filho sobre a morte do pai, o cronista esportivo Valério Luiz, assassinado em plena luz do dia em um bairro nobre da capital.
Valério Luiz Filho no mesmo lugar onde o pai foi morto há dez anos.
Crime segue sem julgamento. (Foto: reprodução/redes sociais)
O cronista esportivo foi morto a tiros em 5 de julho de 2012, quando saía do trabalho em uma rádio no Setor Serrinha, em Goiânia. À época, Maurício Sampaio, então vice-presidente do Atlético-GO, foi acusado de ser o mandante da morte de Valério Luiz. O crime teria sido motivado por comentários negativos feitos pelo cronista esportivo em relação ao time e ao então vice-presidente do clube.
Valério Luiz foi morto a tiros na saída do trabalho, em julho de 2012 (Foto: Randes Nunes/A Redação)
Os outros réus no processo são Ademá Figuerêdo Aguiar Filho, indiciado como autor dos disparos; e Urbano de Carvalho, Djalma Gomes da Silva e Marcus Vinícius Pereira Xavier, apontados como articuladores do assassinato.
O crime ainda segue sem respostas. Isso porque até hoje os acusados ainda não foram julgados. Somente neste ano, o júri foi adiado quatro vezes. Na última sessão, no dia 14 de junho, o adiamento foi após um dos jurados ter se "sentido mal" durante a madrugada, sem ter condições de participar do júri durante a manhã. A previsão é que o júri seja finalmente realizado no dia 7 de novembro.
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Caso Davi Sebba
(FOTO: ARQUIVO PESSOAL)
No dia do nascimento do primeiro filho, Gabriel Davi, o advogado Davi Sebba Ramalho foi assassinado com um tiro no peito enquanto estava no estacionamento do Carrefour Sudoeste, em Goiânia. Sob o pretexto de que estariam investigando suposto tráfico de drogas, três policiais do serviço de Inteligência da Polícia Militar de Goiás (P2) abordaram o advogado, que estava em seu carro particular. A ação culminou na morte de Davi em 5 de julho de 2012.
Estacionamento do supermercado no dia do crime (Foto: divulgação)
Segundo os policiais envolvidos, o advogado teria reagido à abordagem com tiros, motivando, segundo os acusados, o disparo que matou Davi. O soldado Jonathas Atenevir Jordão assumiu a culpa pelo crime.
À época, Davi Sebba era, de fato, investigado pela Polícia Federal, por suposto tráfico de drogas. No entanto, conforme consta no inquérito da Polícia Civil, o advogado foi executado, já que não teve como se defender, conforme laudo pericial de local de crime e da reprodução simulada dos fatos.
A perícia apontou ainda que a arma com numeração raspada encontrada no banco de passageiros do carro de Davi teria sido colocada no local depois que o veículo se chocou com uma barra de sustentação do estacionamento do supermercado. Foi anotado ainda que o local não foi preservado, com “grave alteração do estado original das coisas” dentro do veículo, como, por exemplo, o recolhimento das cápsulas deflagradas pelos policiais militares que trabalharam no caso.
A fase inicial do inquérito começou onze meses após o crime. O julgamento de um dos recursos do caso foi concluído no dia 5 de abril deste ano pelo Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJGO). Na nova decisão, já em segundo grau, os três desembargadores reconheceram que o advogado Davi Sebba foi vítima de uma ação policial excessiva, praticada contra pessoa surpreendida, desarmada, em inferioridade numérica e indefesa. O crime de violência policial foi, então, julgado como homicídio doloso qualificado.
Os votos dos desembargadores Itaney Campos e Ivo Fávaro foram dados no mesmo sentido da posição do relator do processo, desembargador Eudélcio Fagundes. O recurso pleiteava a revisão da sentença proferida em 2017, quando somente um dos autores do assassinato seria levado ao tribunal do júri por homicídio simples.
No Caso Davi Sebba, ainda resta o julgamento, sem data prevista, de outro recurso contra a sentença de 2017. Nesse recurso, a família busca a revisão da absolvição dos três policiais envolvidos nos crimes de fraude processual e de porte ilegal de arma de fogo raspada (alteração da cena do crime e implantação da arma), e de usurpação de função pública.
TJGO reconhece que Davi Sebba estava indefeso quando foi executado