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Martinho Santos

O pobre do diabo sempre paga o pato

Histórias de tragédias, desafetos e abandonos | 26.08.11 - 19:42


Recentemente ocorreu um massacre totalmente inesperado lá na pontinha do norte europeu, na Escandinávia. Um país onde a população é menor que a da cidade do Rio de Janeiro, a Noruega com seus 5 milhões de habitantes sempre foi um exemplo de organização e qualidade de vida resultantes da participação do estado na administração dos serviços e assistências sociais. E foi neste paraíso social que um sujeito de 32 anos, depois de planejar minuciosamente, explodiu um imenso carro-bomba diante dos edifícios do governo, matando 8 pessoas, e executou a queima-roupa 77 jovens no acampamento da juventude do Partido Social Democrata, que no Brasil se aproxima ao PT.

Logo após a explosão da bomba, todos os meios de comunicação sustentados pela incerteza da polícia norueguesa apontavam para um ataque terrorista de algum grupo ligado ao Al Quaeda. Um destes grupos medíocres chegou ao ponto da aproveitar a situação para dizer que eles haviam feito tal fato. Mas somente após a polícia conectar a bomba ao massacre dos jovens no acampamento juvenil do Partido Social Democrata foi que resultou na apreensão do cabeça de toda a "parnafelhada".

E aí veio a grande surpresa: ele é um norueguês, branco, de descendência norueguesa e se chama Anders Behring Breivik. O interessante é que este energúmeno de 32 anos chegou ao sucesso de ganhar bastante dinheiro em investimentos em ações, mas não se conteve somente com seu próprio prazer de consumo, ele investiu o seu dinheiro numa fazenda fantasma chamada Breivik Geofarm para poder importar produtos químicos com a intenção de construir a tal tremenda bomba. Ambos os ataques resultaram em 77 mortos e 96 feridos.

Daí vem o pobre do diabo na história... A maioria das pessoas diz, afirma e reluta: "ele é filho do demônio!", "este rapaz tem o diabo no corpo!", "é dominado pelas trevas!". Mas o próprio sujeito em seu manifesto nazista afirma ser um soldado de Cristo, para defender o país da invasão mulçumana como nos tempos das cruzadas.

Agora vamos aos fatos. Anders Behring Breivik vem de uma familia desestruturada, morou com a mãe até seus 32 anos. (Ele se mudou de casa somente para a tal fazenda fantasma para executar seu plano "diabólico"). Seu pai, um ex-diplomata, nunca foi presente, inclusive perderam totalmente o contato quando ele tinha apenas 16 anos. O pai aposentado mora nos lindos e frescos ares dos campos da França e nunca deu atenção ao seu filho. Anders, o monstro, cresceu com sua mãe que é uma enfermeira, juntamente com sua meia-irmã na periferia de Oslo.

Lembrando em histórias de desafetos e abandonos, temos algo parecido no Brasil. A mesma história com Wellington Menezes de Oliveira, 23 anos, depois de passar toda a vida sendo maltratado na escola e sem amor de sua familia adotiva se converteu num assassino em série matando 12 adolescentes e se suicidando em uma escola em Realengo, no Rio de Janeiro, em abril deste ano.

Anders é somente mais um deles. Ele buscou nos porões do radicalismo racial-nacionalista um apoio que não encontrava em casa. E tal apoio está aí! Entre na internet o verá! Em 2009 no Brasil um grupo nazista denominado Front 88, liderado por um sujeito chamado Ricardo Barollo, assassinou um jovem casal também nazista durante uma festa no Paraná em celebração ao aniversário de Hitler, somente por divergências em questões metodológicas de como empregar tal revolução racial.

Vale lembrar que Anders, o assassino norueguês, nos seus delírios absurdos chega inclusive a nomear o Brasil oito vezes em seu manifesto "2083 - Uma declaração de independência européia” de 1.500 páginas como um exemplo de que a diversidade étnica resulta em péssimo resultado.

E o pior de tudo é que a vertente ultranacionalista está em um processo de imensa ascensão em toda a Europa, fruto das constantes instabilidades econômicas internacionais que afetaram enormemente a União Européia. Somente na Espanha, a taxa de desemprego chega a uns 20%. Em outros países do sul europeu, as taxas também são bastante próximas. Juntamente com o aumento de imigração ilegal proveniente da África e outras partes do mundo, e ainda com o aumento da imigração oriunda de asilados de constantes guerras. Ao mesmo tempo em que os governos não possuem políticas efetivas de integração. Então, o argumento protecionista toma força. Como resultado, são os partidos de ultradireita que mais crescem em quase todos os paises da Europa, inclusive já fazendo parte de cúpula de governos de vários paises.

Somente digo que não culpemos o pobre do diabo a tudo que acontece. Este rapaz não estava com o diabo no corpo ou coisa parecida, ele foi fruto de uma grande desgraça social e familiar que qualquer um de nós poderia ser vítimas ou executores.

Martinho Santos é mestrando em ciências sociais em estudos latino-americanos pela Universidade de Estocolmo. Reside na Suécia há 11 anos


Comentários

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  • 23.04.2013 22:43 Dimas Gomes

    Muito legal o texto, infelizmente a violencia está em todo lugar, até mesmo em paises bem organizado. Parabens amigo pelo texto.

  • 20.08.2012 07:55 Mônica Valle Vieira

    Normalmente culpamos quem não podemos alcançar, justamente para ocultar as nossas próprias culpas e fracassos. O diabo tem assumido erros e transgressões ao longos de todos estes anos, em nome do "homem". E, a cada dia que passa, afastamos mais e mais o nosso lado humanos de nos mesmos. Parabéns martinho, você soube colocar o contexto social no seu devido lugar e mostrar que nem sempre a religião, deve ser responsabilizada pelos actos sociais que nós mesmos implantamos.

  • 30.08.2011 14:49 Bruno

    Belo texto meu amigo....infelizmente essa é uma realidade que tem se tornado normal hoje em dia, na "era Capitalista" os valores familiares tem cada vez mais deixado de ser a coisa mais importante para muitos. Abraços, Bruno.

  • 29.08.2011 10:28 Juliana Gomes

    Ótima texto! É muito fácil culpar o diabo pelas atitudes dos homens, do que reconhecer a barbárie inerente à condição humana.

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