Goiânia - No caos virtual, cabe tudo. E confusão é o que não falta sobre o Brasil dos que acordaram e dos que nunca dormiram (e espero merecer estar no segundo grupo). Plebiscito e referendo estão tão claros quanto as PECs e os pactos e agora chegarão novos termos para os “memes”: financiamento público, misto ou privado; votação distrital ou proporcional; coligações ou não-coligações etc...
Já se diz que não estamos preparados para votar sobre tais temas. Ora, mas então se foi às ruas para quê? Para fazer barulho apenas? Democracia não funciona com acomodados que esperam tudo cair de cima. Pelo contrário, exige aprendizagem e participação. Mais que isso: exige respeito pela controvérsia, coisa que pouco se encontra nas redes sociais e menos ainda na velha mídia manipuladora.
Entre a idéia inicial do plebiscito e o oportunismo dos “do contra” do referendo, fico com o primeiro. Porque, ao contrário do que se diz, não é um cheque assinado em branco, é mais que isso: é a possibilidade de (se as perguntas forem bem feitas) o povo orientar o valor do cheque, para que os gastos sejam na medida do interesse público. Referendo é ir a um restaurante esperar vir “qualquer coisa” à mesa, decidindo depois se paga a conta ou se tudo volta para a cozinha.
O que mais preocupa, entretanto, não é isso. É este Congresso, que engavetou por décadas a reforma política e, agora, está em suas mãos fazê-la. Sim, houve pressão das ruas, houve iniciativa da Presidência sugerindo os temas a serem levantados, mas os parlamentares farão mudanças que atingirão a eles próprios, ceifando muitos dos seus interesses? Receio que não.
Seria uma oportunidade histórica a idéia inicial de Dilma, de uma constituinte exclusiva, massacrada pela velha mídia, pelos homens de toga e pelo próprio vice-presidente (que pertence ao partido que negocia com todos os governos da história do Brasil para dar apoio em troca de boquinhas no poder). Seriam novos representantes escolhendo novos caminhos políticos. A idéia realmente poderia mudar o tabuleiro viciado da política, tanto que durou apenas 24 horas.
E voltamos às mãos do velho Congresso, de que somos corresponsáveis, afinal os elegemos. Hora de os protestos das ruas rumarem para o Parlamento, onde as sessões em geral não são assistidas por ninguém. Antes, porém, que tal fazer a lição de casa e estudar os temas da reforma política? Detalhe imprescindível: estudar é aprofundar, levantar argumentos a favor e contra, ir a várias fontes e não se deixar manipular por postagenzinhas medíocres. Afinal, não pedimos mais educação?
Anapaula de Castro Meirelles é publicitária.