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Lúcia Vânia

O legado do Real e a economia atual

Moeda faz 19 anos | 26.07.13 - 17:23

Goiânia - No último dia 1º de julho o Plano Real completou 19 anos de existência, com sucesso absoluto naquilo a que se propôs, ou seja, estancar definitivamente o processo hiperinflacionário no Brasil. 

O fato de a moeda atual contar com total confiança da população e, até agora, dos agentes econômicos internacionais, é extremamente significativo para quem trocou tanto de padrão monetário nos 10 anos que antecederam a implantação do Real.

Desde o início do plano, o Brasil passou por dois momentos especialmente difíceis. Um foi em 1999, com a fuga maciça do capital internacional que deixou o país sem reservas, tendo que abandonar a âncora cambial e adotar as metas de inflação, que perduram até hoje.  Na passagem de 2002 para 2003, a credibilidade do país foi posta novamente à prova, quando da posse de um novo governo. Contudo, a política econômica adotada e a posse de uma equipe econômica confiável ao mercado, desanuviaram os horizontes e o Plano Real continuou a sua trajetória vitoriosa em favor da sociedade brasileira.

Desde então tivemos um verdadeiro círculo virtuoso na nossa economia: a normalização das contas externas, uma notável distribuição de renda com fortalecimento da classe média, as transações de importação e exportação se beneficiaram do aquecimento do mercado internacional e das demandas de commodities, principalmente por parte da China. O Brasil exportou como nunca, melhorando todos os indicadores externos e as nossas reservas chegaram a um ponto de segurança em relação à dívida externa.

Neste momento dos 19 anos do Real foram muitos os analistas, professores e economistas que se propuseram a dar as suas opiniões sobre o legado do mais bem sucedido plano de reordenamento da economia brasileira.

O professor Davi Silber, da Universidade de São Paulo, diz que o Real “contribuiu para reduzir drasticamente a desigualdade na distribuição de renda do país. Foi a melhor política social das duas últimas décadas. Não teríamos a ‘nova classe média’ sem a estabilidade dos preços”.

Já o professor Luis Roberto Cunha, da equipe de docentes da PUC-Rio, afirma que o Plano “conseguiu eliminar a indexação e deixou como legado a importância do equilíbrio das contas públicas para a inflação não voltar”.

Apenas para citarmos uma terceira corrente de pensamento da economia brasileira, recorro ao analista Mauro Rochlin, professor de Economia Brasileira do Ibmec-RJ. Segundo ele, o principal legado foi “O ganho de renda da parcela mais pobre da população, a construção de um ambiente macroeconômico mais propício ao investimento, além da própria queda do chamado Risco Brasil”.

Estas três opiniões de renomados economistas brasileiros demonstram exatamente que o Plano Real colocou as bases para a política social. Ele garantiu, juntamente com a Lei de Responsabilidade Fiscal, que o fantasma da inflação nos deixasse em paz, e permitiu a adoção de políticas de distribuição de renda. 

Tudo o que descrevi até agora nos coloca no saudável mundo do Real, que é um ambiente muito diferente da atual conjuntura econômica brasileira.

No último domingo, o jornal O Estado de São Paulo publicou um artigo, do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, com um sugestivo título para o momento brasileiro: “Tempos Difíceis”. Numa referência às recentes mobilizações populares, ele diz, entre outras coisas, que o que virá após as manifestações “dependerá da evolução da conjuntura econômica. Esta revela, a cada passo, as insuficiências advindas do mau manejo da gestão pública e da falta de uma estratégia econômica condizente com os desafios de um mundo globalizado”.

Essa falta de estratégia na administração da economia brasileira é pautada pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega que, quando do lançamento do Real, foi figadalmente contra.  A esse respeito, é insuspeita a opinião expressa pelo ex-ministro Delfim Neto, consultor oficioso do Governo, quando diz que “O governo precisa mostrar liderança, porque o país está no limite”.

Porém, uma simples análise do quadro semanal na área econômica nos informa, por exemplo, que o crescimento do PIB de 2013, segundo o Boletim Focus, divulgado pelo Banco Central, deverá ser de 2,34%, em vez de 2,40% de uma semana atrás e de 3,26% do início do ano.

Por outro lado, o mercado projeta uma inflação para 2013 de 5,81%, perto do teto da meta (6,5%), que já foi ultrapassado pelo menos 10 vezes no governo da presidente Dilma Rousseff. 

Quanto ao dólar, os analistas preveem que termine o ano em R$ 2,20, acima da previsão de uma semana atrás, que era R$ 2,15. 
Na questão dos juros existe um acentuado dilema entre o baixo crescimento e a alta da inflação. Como agravante, os sinais de enfraquecimento da atividade produtiva (queda de 2,5% em maio), da insistência da inflação, da alta do dólar, acentuaram-se nos últimos dias.

Diante deste quadro eu me permito voltar aos ares despoluídos proporcionados pelo Plano Real. Por isso lembro as palavras da jornalista Míriam Leitão, num dos seus comentários de fim de semana: “O maior legado (do Plano Real) é a mudança do Brasil. Foi o início de um novo país e minha convicção é que ele foi uma construção coletiva”.

Estou convicta de que a sociedade brasileira deve estar atenta para que esse legado não se perca. 

Vida longa ao Real!

Lúcia Vânia é senadora (PSDB) e jornalista.

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