Existem em Goiânia atualmente três orquestras atuantes: a Orquestra Sinfônica de Goiânia, custeada pelo município; a Orquestra de Câmara Goyazes, do Estado, e a Orquestra Jovem de Goiás, formada por alunos do Centro de Educação Profissionalizante Basileu França, ligado à Sectec. Como os salários são muito baixos, os músicos se veem obrigados a tocar em no mínimo duas ou até nas três instituições, o que inviabiliza completamente um trabalho de qualidade.
A melhor orquestra destas três é sem dúvida nenhuma a Orquestra Jovem. Dela participam os melhores alunos da Escola de Música Veiga Valle,que recebem uma bolsa de estudos do governo estadual no valor de 500 reais mensais. A bolsa ajuda os alunos a custear o deslocamento para os ensaios e uma mínima manutenção de seus instrumentos. Essa orquestra cumpre com todas as atribuições de uma orquestra jovem, dando oportunidade a alunos de tocar em uma orquestra sinfônica e difundir seu repertório em concertos didáticos realizados no Teatro Escola Basileu França. Recentemente se apresentaram em várias cidades dos Estados de São Paulo e do Rio de Janeiro.
A grande preocupação fica por conta das outras duas orquestras profissionais mantidas pelo poder público. A Orquestra Sinfônica de Goiânia tem um salário um pouco maior, variando de 1.500 a 2.000 reais recém-reajustados, mas tem o grande problema de o município não dispor de um teatro onde a orquestra possa se apresentar regularmente. Em vista disso, é obrigada a mendigar por espaços na cidade e depender de favores para se apresentar no Teatro Goiânia ou no Centro de Convenções (onde se apresentava regularmente no início da década). Acaba assim se apresentando em igrejas e ao ar livre em inaugurações diversas. Por um lado, isso é bom, pois leva a música a lugares e pessoas que nunca tiveram oportunidade de escutar uma orquestra; mas é ruim, pois tocar ao ar livre nas condições oferecidas em Goiânia acaba com qualquer expectativa de qualidade artística.
A Orquestra de Câmara Goyazes é a que mais tem sofrido ultimamente. Podemos afirmar categoricamente que é a orquestra com o salário mais baixo do Brasil, com valores entre 800 e 1.000 reais. São todos cargos comissionados sem reajuste considerável desde 1999. Isso faz com que o músico perca totalmente o interesse em permanecer na cidade e investir em seu futuro profissional.
Essas duas orquestras em questão, pela baixa remuneração, acabam contratando jovens e alunos que deveriam estar dedicando seu tempo ao estudo, pois ainda freqüentam aulas em escolas ou universidades, e não entrar tão precocemente no mercado de trabalho em orquestras tão mal remuneradas. Isso faz com que a qualidade de seus estudos seja muito prejudicada. Desde o início de junho passado todos os integrantes da Orquestra Goyazes foram demitidos dos seus cargos comissionados com a promessa de serem readmitidos em um cargo com salário maior, o que até hoje não aconteceu. Infelizmente esses problemas fizeram com que a orquestra se apresentasse uma vez somente neste ano, no mês de maio, por ocasião do II Festival de Ópera de Goiânia, o que definitivamente é muito pouco para uma orquestra profissional.
Está mais do que na hora de começar a investir em políticas culturais de longo prazo para melhorar a situação das orquestras na cidade, algo que já está acontecendo nas capitais vizinhas, como Brasilia, Cuiabá e Belo Horizonte, com salários médios entre 5 mil e 7 mil reais e temporadas de concertos anuais. Não precisamos ainda ter uma orquestra como a Orquestra Sinfônica de São Paulo, a melhor do País, com orçamento anual de R$ 60 milhões, mas também não podemos aceitar uma Orquestra de Câmara Goyazes com um orçamento completamente insuficiente de aproximadamente 350 mil reais por ano.
Alessandro Borgomanero é violinista e professor da UFG