Hoje, 14 de julho de 2015, após mais de uma década de espera, a sonda, ou melhor, a espaçonave New Horizons (Novos Horizontes) voará sobre Plutão captando imagens jamais vistas pela humanidade. De lá partirá para novos objetivos ainda mais distantes no cinturão de Kuiper pra explorar os limites de nosso pequeno sistema solar.
Atingir esse objetivo é provar e venerar o esforço científico de muitos, desde Galileu, Kepler, Newton, Einstein e os que os sucederam nos estudos sobre o binômio tempo-espaço, gravidade, propulsão, resistência de materiais, transmissão. É o acúmulo da capacidade humana, da inventividade, do esforço.
O nome New Horizons não poderia ser melhor para o momento atual do Brasil. A Nasa (National Aeronautics and Space Administration) escolhe nomes como ninguém, um dos que mais gosto é o da Voyager (I e II), sondas que revelaram nosso insignificância cósmica já celebrada nas palavras de Carl Sagan no clássico texto: “Um pálido ponto azul” (
aqui ilustrado pra vocês).
E eu com isso? Diriam alguns. Bem, nós, insignificantes no espaço como disse Carl Sagan, só temos a nós mesmos para resolver nossos problemas. Nenhuma alternativa milagrosa virá em nosso socorro.
Aliás, o espaço oferece soluções, mas vamos dizer um tanto quanto drásticas como o cometa que teria varrido os dinossauros da face da Terra. Mas, aqui, na insignificância do território brasileiro, resolvemos não abrir novos horizontes, mas regredir à idade média. Religamos a política à religião, elegemos novos carrascos e demos vazão ao medo do conhecimento com a pregação insana sobre ensino da Bíblia em escolas, ensino do criacionismo, redução da maioridade penal, intolerância à diversidade com estatutos da família, violência contra manifestantes.
A regressão foi tão drástica que elegemos as Cortes locais, sempre com seus cortesãos de plantão (conhecidos como puxa sacos acríticos, gente vil). Transformamos nossos lares e masmorras cercadas pelo medo da violência dos vândalos (nada mais pré-medieval). Os mais abastados construíram muros em torno das suas “Vilas”, contrataram mercenários para mantê-los seguros e reforçaram suas carruagens com vidros a prova de balas. Cercamos até as feiras livres, agora conhecidas como shoppings!
Nossas cidades são o retrato da ignorância, ruas para pneus e cercadinhos para pedestres, quando não uma trilha dura, como a de Santiago de Compostela, representada pelas penosas calçadas. A paisagem tomada pelo individualismo reflete em cada fachada a ânsia da exclusividade, luminosos e outdoors compõem esse mosaico tétrico, adornado ainda pela fiação exposta, fruto da “engenhosidade” de nossos artífices. Esses reunidos em guildas, essas mais imbrincadas em lutas intestinas, como as da Ordem dos Advogados do Brasil de Goiás, do que preocupadas com o caos que as cerca.
Novos Horizontes aqui só na fuga do Game of Thrones, The Walking Dead, Netflix que emulam o antigo romantismo cavalheiresco. Que falta faz um Cervantes! Mas fica a esperança de que os véus de ignorância serão rasgados, pois, se antes chegamos à Lua, agora podemos nos aventurar muito mais longe e, quem sabe, encontrar outras fontes de luz que nos iluminem e aqueçam.
*Uirá de Melo é mestrando em Ciência Política pela Universidade Federal de Goiás (UFG)