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João Novaes

Bolha explosiva

Crítica do filme "A grande aposta" | 27.01.16 - 16:54

Goiânia - Assistir o filme “ A grande aposta” é uma aula e tanto sobre economia, mas nem tanto de cinema. O filme do diretor Adam Mckay, que antes só havia atuado como diretor e roteirista do programa televisivo Saturday Night Live e em filmes como “O Homem-Formiga”, não apresenta grandes avanços em termos de linguagem nem de estética. Aliás tem até alguns problemas nessa área, mas não é o que importa!

 

 
A história do filme é incrível, principalmente por ser real e por mostrar a partir de quatro perspectivas diferentes o estouro da bolha imobiliária nos Estados Unidos em 2008, que se deveu aos chamados títulos subprimes! E que acabou levando países como a Espanha e Portugal juntos à bancarrota com seu Tsunami econômico! Só para ter uma noção do tamanho dessa bolha de sabão, após seu estouro, a economia mundial encolheu em 5 trilhões de dólares! Pura ficção especulativa inventada para ganhar muito dinheiro e fazer o grande cassino de Wallstreet girar! Não à toa movimentos como o Occupy Wallstreet surgiram na esteira dessa que foi considerada a pior crise da economia norte-americana após a chamada Grande Depressão de 1929!  
 
O maior mérito do filme talvez seja nos fazer perceber que Steve Carell definitivamente não é mais só um ator de comédias bobocas! Desde “Foxcacther” o ator já tinha mostrado que tinha talento para dramas. Mas é em “The big short”  – esse é o título em inglês do longa, que alude a seu personagem Mike Baum – que Carrel definitivamente se coloca em outro patamar no panteão de estrelas hollywoodianas. Seu personagem é o dono de uma firma de investimentos que é convidada por um figurão do Deutsch Bank interpretado por Ryan Gosling a investir em CDS´s . CDS´s são seguros contra ativos podres que perderão valor. Essa é a grande aposta, ir contra a corrente e acreditar que um título que dizem valer muito na verdade ser esterco! Os CDS´s eram uma espécie de salva-vidas na selva de WallStreet quando a bolha imobiliária estourou! Quem investiu em CDS´s na época ganhou montanhas de dinheiro! Como o personagem de Cristian Bale ( Michael Burry), que interpreta  um dono de uma empresa de médio porte, que é o primeiro a decidir investir ao apostar que o sistema imobiliário nos Estados Unidos iria quebrar em breve.
 
Mesmo sendo um gênio da matemática que enxergou o que os outros ainda não enxergavam – o quão podres eram os títulos de hipotecas imobiliárias dos EUA – Michael teve que enfrentar pressões enormes e a desvalorização de 20% de seu fundo de investimentos até que sua tese se provasse correta. Quando isso aconteceu o fundo teve uma valorização de 489%, passando a valer mais de 2,6 bilhões de dólares! E o que torna o filme ainda mais interessante é saber que todos os personagens são pessoas reais, que realmente passarem por todas aquelas situações! E para enfrentar essa pressão, Michael - que não é um executivo “padrão”, pois vai todos os dias de bermudas e chinelos para o escritório – escuta muito Heavy Metal no talo! A analogia é clara, Wallstreet é heavymetal, definitivamente não é para principiantes.  
 
Aliás, a trilha sonora como um todo é muito feliz, com Guns´n ´Roses tocando “Welcome to the jungle”, Led Zeppelin com “ When the levee breaks”, e muito mais! Quem coordenou esse trabalho musical foi o pianista Nicholas Britell, que já atuou como trilheiro em filmes como “ 12 anos de escravidão” e “ Whiplash”! Sua trilha incidental é sutil e traz muita carga emocional ao drama com toques de comédia que é “ A grande aposta”!  
 
Só teria três críticas a fazer ao filme. Primeiro que a quantidade de siglas provenientes do economês das bolsas de valores, tais como CDS´s, CDO´s, ISDA´s e afins acabam confundindo um pouco o espectador leigo no assunto. Mas o roteiro tenta ser bem didático quanto a isso. Segundo que embora não seja um banqueiro de alto escalão, mas sim dono de um fundo de investimentos, Bernard Madoff também foi preso ao final dessa crise econômica!- e seu nome não é sequer citado no longa! E por fim, colocar personagens para falar diretamente com o espectador acaba tirando um pouco do brilhantismo do roteiro e simplificando a trama para que a ação ocorra mais depressa!
 
O que deprime um pouco quem reflete sobre o tema do filme é pensar que a economia americana já se recuperou desde então! E que o cassino nunca parou!- mudaram um pouco as regras, apertaram a fiscalização, mas a especulação e a sandice do sistema continua intrinsecamente a mesma! E o pior é pensar que nós (o Brasil) somos a grande aposta da vez, pois nada melhor para tubarões do sistema do que uma grande crise para comprar papéis baratíssimos e vender na alta! E mais triste ainda é ver, como revelou recentemente um estudo, que as 62 pessoas mais ricas do planeta detêm ativos iguais à renda da metade da humanidade, composta por mais de 3 bilhões de pessoas!
 
“A grande aposta” acabou de vencer o prêmio do Sindicato de Produtores de Hollywood, que serve como uma prévia para o Oscar que está chegando! Polêmicas à parte do Oscar mais do que nunca branco, desbancou “Spotlight” e “O Regresso” como melhor filme! Não dá pra perder essa aula de economia, que ainda conta com Brad Pitt no elenco e na produção, através de sua produtora a “Plan B” ! É como diz a música do Led Zeppelin, quando o dique estourar, não haverá onde se esconder!


*João Novaes é diretor de cinema e TV. E-mail: joaonovaes2@gmail.com
 
 

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