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André Campos Marçal

Can’t buy me love

. | 14.11.16 - 16:43  
Goiânia - Tirei o saldo da conta e lá estava: 36 centavos. Centavos, cara. Centavos! C E N T A V O S! Fiquei olhando para a tela do caixa eletrônico e não consegui conter risadas – de tristeza, de nervosismo, de desespero, não sei bem. O mais triste de tudo é que eu sou essa pessoa que, por motivos de força maior, tenho quatro contas em bancos diferentes. Porém, somando o saldo de todas elas, continuo sendo daqueles brasileiros com um poder de compra bastante limitado. Bastante mesmo (um eufemismo para pobre, sem dinheiro, quebrado, liso etc.).
 
Guardei o recibo no bolso e fui embora dali pensando em como é que todo mundo consegue ter e comprar esse tanto de coisa, e como é que eles conseguiram ser tão vencedores na vida. Porque não é possível que só eu não consiga. Pensei nas seguintes possibilidades – e riscando todas da minha vida.
1) Ter nascido em família rica (não mais possível).
2) Ter cônjuge rico (mais fácil nevar em Goiânia).
3) Herdar a fortuna da família (provavelmente, vou herdar dívidas).
4) Ganhar dinheiro, de fato, com a minha profissão (Hahahaha, no meu caso).
 
Fui subindo as escadas rolantes do shopping, pensando nisso tudo, e uma tristeza tomou conta de mim. Achei que uma comida japonesa iria me animar. Comida sempre pode melhorar o seu estado de espírito. Escolhi o restaurante por quilo e fui colocando os pedaços de peixe e yakissoba, enquanto eu pensava em alguma solução milagrosa para toda essa falta de dinheiro e perspectiva de crescimento. Botei o prato na balança. O preço: 43 reais! QUARENTA E TREIS REAIS, CARA! Fiquei imaginando que os pedaços de peixe vieram justamente do Japão em embalagens especiais, criadas na mais alta tecnologia japonesa, pois não era possível esse preço. Se fosse arroz com feijão, ia dar dez reais o prato!
 
Inconformado, porém, resignado com o meu destino, paguei com o cartão de crédito, pensando no dinheiro que eu nem tinha ainda (e que nem iria ver). Andei pela praça de alimentação procurando uma mesa, pensando que é justamente assim que a roda do capitalismo gira: você compra coisas com o dinheiro que você não tem e faz dívidas para a eternidade, enquanto trabalha para pagar essas coisas que você nem tinha como comprar em primeiro lugar. E eu fiquei lá, mergulhando os sashimis no molho, só lembrando do extrato da minha conta no meu bolso, a evidência da minha pobreza, enquanto eu comia a comida típica mais cara de todo o mundo. De repente, a comida ficou um pouco azeda.
 
Talvez o segredo seja realmente ser feliz com aquilo que o dinheiro não compra: amor, felicidade, amigos, laços afetivos de qualidade etc. Talvez aquele clichê de que coisas materiais não trazem felicidade seja verdade mesmo, e que nunca ficamos satisfeitos com o que temos. E, se pararmos para pensar, não precisamos de mais nada. Mas, de qualquer forma, ver apenas centavos na sua conta dificulta classificar sua vida como vencedora, mesmo que você tenha tudo aquilo que o dinheiro não compra.
 
André Campos Marçal é professor

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