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Cejana  Di Guimarães
Cejana Di Guimarães

Jornalista formada pela UFRJ e pela Universidade de Fribourg, Suíça. Vive há 20 anos em Zurique. / cejanadiguimaraes@gmail.com

Cartas do Exílio

Guerra e paz

| 03.09.13 - 21:26 Guerra e paz (Foto: Lili Lutz ©)

Zurique - Mais uma vez os canhões se preparam, mais uma vez o mundo prende a respiração e conta até três. De um lado, os justiceiros; do outro, os impiedosos. De um lado, o desejo de dominar; do outro, o de defender. De um lado, foguetes; do outro, bombas. De um lado, feridos; do outro, rebeldes. De um lado, crianças; do outro, políticos. De um lado, interesses; do outro, dores. De um lado, vidas; do outro, tanques. De um lado, muros; do outro, mares.
 
Infinitamente distantes, infinitamente próximas, duas nações se preparam para matar e morrer. E o mundo olha em silêncio, buscando respostas ou apenas ganhos, discutindo de qual lado ficar, qual direito defender, o de matar ou o de morrer? Por que as vidas humanas ainda hoje são uma moeda de troca? Negociam-se contratos, dividem-se riquezas através da contabilidade de feridos e mortos. Mas quanto vale um morto ? Quanto valem cinco mil mortos ? Quanto valem centenas de milhares de mortos? Quanto valem milhões de vidas que se apagam no clarão de cálculos de juros, dividendos, derivados e subprimes?
 
O que há de novo em uma guerra, além de suas mentiras e cores locais? De que forma Napoleão ou Bush ou a elite alemã e seus Guilhermes, Fredericos e Maximilianos teriam mudado a ordem do mundo? Quem teria preparado a Segunda Guerra, Hitler ou von Hinderburg? Existem vários responsáveis por um conflito ou apenas um, aquele que levanta a bandeira em combate, antes de cair de seu cavalo, com a cara na lama de um fétido campo de batalha? Os horrores da guerra sempre foram trocados por hinos e uniformes reluzentes, medalhas e honrarias, mas o horror dos cadáveres e do sangue tingindo a terra ou o asfalto sempre foi o mesmo, hoje e ontem.
 
E por detrás de todos os hinos e do sangue que escorre sem rumo, tilitam os caixas dos bancos em paraísos fiscais e fábricas de armamentos, armadas até os dentes de cinismo e desprezo humano. Conflitos são atividades altamente lucrativas, antes, durante e depois. É preciso vender objetos de guerra, aumentar a tensão de cada lado em um consumo eufórico de bombas, foguetes e aviões de combate, até que cada um se mostre assustador o suficiente para possibilitar um conflito digno. Durante o conflito, além  dos vendedores de armas, lucram os especuladores, os contrabandistas, as milícias, os políticos sem caráter, os mercenários, os jornais, as televisões, as bolsas de valores, os bancos, as ONGs, os bem intecionados e os mal intencionados.
 
 Raramente perde-se dinheiro em uma guerra, como se perdem vidas. E depois vem a época da reconstrução. Quando as bombas se calam, chegam os abutres. Oferecem fundos e mundos, constroem casas, fábricas, novas estradas, hospitais, a juros sempre altos, vendem água, remédios e alimentos a preço de champagne e do mais fino caviar. A inflação arrasta quarteirões e quando a poeira baixa, novos outdoors tomaram lugar dos antigos, novos produtos e marcas nos supermercados, um novo mercado se abriu para o maravilhoso mundo do consumo sem fronteiras. Somos todos globais.
 
E para que tudo isso? Para garantir mercados, petróleo, gás, combustível, minérios? Nunca existiu nenhuma guerra que não tivesse por motivo razões econômicas. E carros de luxo, viagens, jóias, mansões deveriam compensar todo esse incômodo banal de crianças mortas, velhos sem casa, pernas amputadas, fome sem fim, efeitos colaterais inevitáveis da eterna busca pelo ouro, o pote de ouro escondido no final de um arco-íris qualquer, pintado no cartaz de um anúncio de sabão em pó.
 
Um amigo sempre diz que a humanidade é inviável. Eu diria o contrário, tudo que tem vida é viável, por princípio. Basta sabermos disso.

Comentários

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  • 06.09.2013 07:13 Cejana Di Guimarães

    Duílio, obrigada pela leitura atenta, mesmo discordando do seu ponto de vista. Tentei abordar o tema com um enfoque histórico, quem sabe até até humanista, porque esse é um conflito que não se diferencia muito de outros na região. Analisando a questão geopolítica, as coisas ficam até mais claras. Infelizmente ninguém pensa em intervir no conflito na Síria por razões humanistas, para ajudar os refugiados, evitar novas vítimas, muito menos para garantir a liberdade. A Síria é o novo Iraque. E da mesma forma, forças opostas entram em conflito com o objetivo de expandir ou garantir seu poder militar, econômico e político na região. De um lado, USA, Israel e Saudi Arábia, do outro Síria, Iran, Rússia. Nada é por acaso. Ainda não foi provado (será um dia?) quem foi o responsável pelo uso de armas químicas. Em todo caso, aconteceu em um momento no qual o regime Sírio estava ganhando o controle da situação e não teria interesse algum na ação. Há um ano atrás, 20 de agosto de 2012, Obama havia declarado que se fossem usadas armas químicas, eles entrariam no conflito. Paul Wolfowitz, Ministro durante a guerra no Iraque, afirmou pouco tempo depois ao "Washington Post" que a participação dos EUA na guerra seria inevitável. Grande parte da população é contra o conflito e não apoia os rebeldes, formados por milícias vindas em grande parte de outros países. Na realidade, como sempre, a população é quem mais sofre, em função de um conflito de interesses econômicos e políticos internacionais. E talvez vá demorar muito tempo, talvez várias gerações para voltarem a ter o nível de vida que tinham antes do conflito.

  • 05.09.2013 11:42 Duílio Calaça

    A questão é mais complexa. Não se trata apenas de garantir mercados, petróleo, gaz, combustível, minérios. Assim como comentei no blog da Anapaula de Castro, colocar as coias sobre esse ponto de vista não ajuda a resolver a situação. Já são 2 milhões de refugiados em mais de um ano de guerra civil. Mais de 1000 foram mortos em um único dia por armas que são proibidas por tratados internacionais ratificados pela Síria. Se o mundo não agir outros ditadores farão o mesmo com sua população e ficarão impunes. Se comprovado o uso de armas químicas contra a população a punição deve ser exemplar. As pessoas estão morrendo na Síria para derrubar uma ditadura de décadas. Nenhuma luta é mais justa do que pela liberdade.

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