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Fabrício Cordeiro
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Crítico de cinema e curador da Goiânia Mostra Curtas 2013 - Mostra Municípios / fabridoss@yahoo.com.br

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Os encantos narrativos de Tabu finalmente chegam a Goiânia

| 16.11.13 - 15:58 Os encantos narrativos de Tabu finalmente chegam a Goiânia (Foto: divulgação)

Fabrício Cordeiro

Considerado um dos grandes filmes do circuito de mostras e festivais de 2012, Tabu (2012), de Miguel Gomes, parece fazer jus a quaisquer expectativas, burburinhos e comentários empolgados de quem procura encontrar "o grande filme" desses eventos cinéfilos. Após ter sua data de lançamento no Brasil adiada por várias vezes, o longa chega a Goiânia no feriado de 15/11, ficando em cartaz até 28/11, pouco mais de um ano após suas exibições no Festival do Rio e na Mostra de São Paulo do ano passado. As sessões são no Cine Cultura.
 
Miguel Gomes, cineasta português, vem do elogiado Aquele Querido Mês de Agosto (2008), longa que não captou muito de minha atenção, sem me dizer grande coisa, certamente merecendo uma revisão. Em Tabu, fez algo realmente imperdível, uma dessas obras capazes de se abrigar num tempo (ou, no caso, dois tempos), numa política, numa relação histórica e numa visão de sentimento.
 
Filmado em preto e branco e resolução 4:3, Tabu também é uma espécie de meio filme mudo. Tem-se a impressão de estar diante de um trabalho incapaz de pertencer a algum período específico – as partes mudas são, na verdade, sonorizadas por eventuais sons ambientes, risos e trilha –, embora ecoe um cinema antigo. Murnau, de Aurora - e, claro, seu Tabu de 1931 -, é uma clara referência.
 
Não soa, porém, como homenagem ou exercício, tarefas cumpridas – e muito bem – por diretores como Aki Kaurismäki (Juha, 1999) e o oscarizado Michel Hazanavicius (O Artista, 2012).
 
O que Gomes faz é trazer resquícios de seu país colonizador para elaborar, de maneira muito literária, belíssima história de romance. Cuidadosamente aquecidas, muitas de suas características só serão reveladas cenas à frente, sem que seus aspectos literários comprometam suas imagens, encantos por si só.
 
Uma narração, voz fascinante em sua indiferença, nos leva pelo filme como quem conta uma história de ninar. Há todo um tom de fábula a acariciar Tabu, impressão gentilmente cedida por seu prólogo: um pequeno conto aventureiro situado na África e que traz na imagem de um jacaré o elo entre o contemporâneo e anos não esquecidos.
 
No presente, uma senhora viciada em cassino vive aos cuidados de sua empregada cabo-verdiana, (interessante presença, ela lê uma edição juvenil de Robinson Crusoé), e, indiretamente, de sua atenciosa vizinha de apartamento. Juntas, as três sugerem passados diferentes de uma mesma nação.
 
Apesar de sadia, a idosa já parece velha o suficiente para apresentar leves traços de senilidade. São, na verdade, apegos a lembranças, memórias doces e dolorosas que serão traduzidas por outro personagem, teletransporte cinematográfico que Gomes realiza sentado à mesa.
 
Possível obra-prima, Tabu é capaz de revisitar a relação entre dois continentes através de um delicado filme de amor. Aquele gesto de virar-se para trás, lançando olhar dos mais sentidos. Imperdível.
 
- A programação, horários e preços do Cine Cultura podem ser conferidos no site do cinema.

 

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