Sarah Mohn
Goiânia – De cada duas mulheres que se reúnem, duas têm alguma reclamação a fazer sobre homens. Sejam namorados, maridos, peguetes, irmãos, primos, pais, tios, amigos, seja quem for do sexo masculino. Por mais que os amem, mulheres sempre guardam alguma crítica a ser proferida de prontidão.
Dias atrás, estava com um grupo de amigas num bar, quando o namorado de uma delas se sentou à mesa. A conversa continuou fluindo e as histórias de insatisfação das companheiras se mantiveram em pauta. Menos para a amiga acompanhada, que se calou, imediatamente, diante do parceiro.
Por um lado, admirei-a. Ninguém, e faço questão de repetir, N-I-N-G-U-É-M nesse mundo merece assistir a trocas de indiretas e presenciar um casal lavando roupa suja em público. Contudo, questionei-me se minha amiga buscava resolver seus problemas conjugais em particular ou se era do tipo que se limitava a despejá-los a terceiros.
O encontro noturno se encerrou e, em outra ocasião, eu a arguí sobre o tema. Ela confessou a mim que “nem sempre” se dispunha a resolver suas questões com o companheiro, pois preferia “evitar brigas”. “Deixar quieto era melhor”, sentenciou-me.
Não discuti. Defendo a máxima de que toda pessoa é livre para pensar como bem entender e insistir na conversão alheia é, a meu ver, uma das investidas mais insuportáveis que existem. Por isso, dentro do meu direito de também discordar, permito-me me espantar com tamanho comodismo.
Não vejo como ignorar assuntos incômodos num relacionamento possa “ser melhor”. Não consigo compreender como se restringir aos desabafos com amigos é capaz de colaborar com o aperfeiçoamento de uma relação. Opiniões diversas e conselhos honestos são importantes, mas para que eles ganhem sentido é preciso que se tornem trocas férteis entre o próprio casal.
É claro que nem toda insatisfação é digna do risco de discussão. É preciso dar a devida (ir)relevância ao que é (ir)relevante. Muitas vezes, detalhes irritantes são características impregnadas na personalidade do parceiro e tentar mudá-los provocará muito mais desgaste do que resultado positivo.
O marido que costuma se esquecer de colocar roupa suja no cesto de roupa suja, apesar de você já tê-lo implorado e explicado que o chão não é o lugar ideal para se guardar meias e cuecas usadas. Ou o parceiro que chega suado e oleoso feito porco em pururuca e se esparrama no sofá. Sofá limpo, cheio de almofadas. É de se enfartar.
Mas não vamos recriminar apenas eles, mulheres também sabem ser inconvenientes. Não deve ser fácil tolerar a namorada que, não adianta, sempre molha o banheiro inteiro quando toma banho. Sem falar na quantidade absurda de fios de cabelo que é capaz de sair de uma só cabeça e se espalhar pela casa como se um tornado por ali passasse. É também de matar.
Situações como estas despertam fúria e impaciência, mas não passam de circunstâncias bobas e desimportantes. Valem mais a piada do que o debate. É o tipo de contestação que só serve para gerar estranhamento e não leva a lugar algum. Por isso, a solução é simples e envolve a lembrança de que ninguém é perfeito. Ignorar é libertador e aceitar dói menos.
Todavia, há assuntos que merecem e devem ser postos à mesa. Até para que os protagonistas da relação obtenham conhecimento da existência de falhas e expectativas. Pessoas maduras costumam saber pesar o grau de relevância na balança. Terapia e amigos também ajudam. O que não pode existir é o teatro velado. A não ser que o jogo social seja combinado.
Costumo dizer que entrar num relacionamento amoroso é se dispor a encarar uma aventura. Aos que nascem para trilhar esse caminho, é fundamental que troquem alianças também com a paciência, o respeito e o diálogo. Entre um casal, há muito mais do que um grande sentimento. Há duas personalidades.