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Adoção: um novo início

Cadastro Nacional de Adoção conta com cinco pais para cada criança

Burocracia e busca de perfis travam sistema | 27.08.12 - 11:24 Cadastro Nacional de Adoção conta com cinco pais para cada criança Preferência nacional é de crianças brancas, de até 2 anos, sem irmãos ou doenças (Foto: Agência Brasil)

Catherine Moraes

Goiânia - Infertilidade, inúmeros abortos espontâneos, segundo casamento, idade avançada ou a simples vontade de adotar uma criança. A decisão não é simples e tem que ser um desejo compartilhado por toda a família; a partir daí é encarar a burocracia e vencer o desejo de ter um filho. No Brasil, são cinco pais para cada criança do Cadastro Nacional de Adoção (CNA), mas a burocracia estatal e uma lista de exigências por parte dos futuros pais, que exigem um perfil específico da criança, dificultam esse encontro.
 
Atualmente, as adoções são realizadas por um cadastro criado em 2008, pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que tem o intuito de reunir informações sobre crianças e jovens disponíveis, assim como de interessados em adotar. Com este cadastro, as adoções não são mais regionalizadas e a lista nacional deve obedecer a uma ordem cronológica. Para o coordenador do cadastro, o juiz Nicolau Lupianhes, o processo se tornou mais célere, mas ele confessa que o resultado ainda não chegou ao ponto esperado.
 
“O Cadastro Nacional torna a adoção mais transparente, mais segura para todos e com maiores chances de se cumprir a teoria da proteção integral da criança e do adolescente. O cadastro funciona bem, mas como tudo que é novo e pretende ser permanente, está sempre melhorando. O processo tem se tornado mais célere, mas ainda não alcançou a velocidade pretendida. Isso porque depende do perfil da criança desejada,  do volume de processos na vara, da existência de equipes interdisciplinar para atender a tempo e modo, enfim, cada caso é um caso”, afirma o magistrado.
 
Preferência
A preferência dos pretendentes é, geralmente, de meninas brancas, com idades entre 0 e 2 anos, sem problemas de saúde, sem irmãos e que não tenham sofrido violência sexual. A realidade das crianças, entretanto, é bem diferente do desejado. Isso também dificulta o processo, já que não há crianças neste perfil para atender a todos.
 
Das 5.284 crianças e adolescentes cadastrados, 2.463 são pardas, 1.901 possuem irmãos também disponíveis para adoção e 1.008 são negros. Os brancos somam apenas 33,19% dos cadastrados. Quando o assunto é faixa etária, apenas 2,86% das crianças possuem de 0 a 2 anos, e a maioria, 74,69% tem de 10 a 17 anos. Isto, de acordo com dados do Cadastro Nacional Adoção (CNA).
 
A pequena Carolina
O desejo de adoção, com o perfil preferencial descrito acima, foi o caso de Levine e Michele, que depois de mais de seis anos de casamento e dois filhos homens, decidiram adotar uma menina. “Melhor que tentar uma terceira vez, era realizar uma adoção”, afirma o marido, que é juiz de Direito e conta que jamais cogitou algo ilegal. Os dois foram ao juizado, se inscreveram e esperaram oito meses pelo processo, tempo que incluiu visitas de assistentes sociais, documentos de idoneidade, curso de adoção, fornecidos pelo Grupo de Estudo e Apoio à Adoção de Goiânia (GEAAGO).

Depois do procedimento inicial, eles tiveram os nomes inclusos na lista de possíveis adotantes. Durante todo o período, Levine conta que recebeu várias ofertas do que é conhecido no país como “adoção à brasileira”, a chamada adoção dirigida. “Tem sempre um médico ou um amigo dizendo que sabe de alguém que quer doar uma criança, às vezes mesmo na maternidade. Mas nós queríamos algo legal”, reforça.

Apesar de ser juiz, ele garante que a profissão não ajudou a pular nenhuma etapa do processo ou facilidade. Depois de inscrito na lista, com o perfil solicitado de uma menina de até três anos, foram mais dois anos de espera. No início de 2011, eles haviam voltado de férias e, próximo de completar 9 anos de casados, receberam a ligação. “Minha esposa pensou em desistir devido à demora. Mas eu sempre olhava nosso nome no Cadastro Nacional e prometi que se em um ano a mais não tivéssemos a resposta, a gente desistiria”, completa.
 
Casal Levine e Michele com os filhos Marcus, Carolina e Pedro (Foto: álbum de família)

Buscando no abrigo
Carolina, antes com outro nome, foi abandonada no hospital pela mãe e de lá foi levada para o abrigo Sol Nascente, com apenas dois dias de vida. “No dia 28 de janeiro de 2011, eu estava entrando para a posse do desembargador Paganuti quando recebi a ligação do juizado informando que havia uma garotinha de três meses disponível e me convidaram para conhecê-la. Lembro como se fosse hoje, foi o dia mais difícil da minha vida. Eu liguei pra minha esposa e ela chorou muito.”

Chorando, Levine lembra que ela era muito pequena e que dormiu quando foi pega no colo.  “Foi o dia mais difícil da minha vida porque eu tive que deixá-la lá e ir embora. Era uma terça-feira e ela estava em um bercinho simples, de metal. Eu tirei uma foto (ao lado) e todos foram muito simpáticos, mas quando me disseram para colocá-la de volta, foi sofrido. Na quarta-feira eu fui no juizado assinar os papéis e compramos todo o enxoval. Na quinta-feira finalmente voltamos para buscá-la”, conta. 

Apesar de toda a documentação pronta, a adoção só foi oficializada cinco meses depois. "Peguei ela em fevereiro e a adoção definitiva saiu em julho. Poderia ter sido mais rápido mas a burocracia do Poder Judiciário  não se preocupa em acelerar o processo. Neste momento acredito que o fato de eu ser juiz ajudou nesse sentido, porque eu ia no juizado diariamente cobrar essa decisão", diz Levine.


Fora dos requisitos
Lucimar Aparecido, de 45 anos e Andréia Carilho de Castro, de 37, se conheceram pela internet em 2001. Ele, recém divorciado e ela, em busca de um relacionamento sério. Em um mês que tinham se conhecido decidiram morar juntos e em seis meses estavam oficialmente casados. “Acho que a Andréia me pegou em uma fase melhor da minha vida, mais madura”, brinca Lucimar.
 
Ele já era pai de gêmeos, mas Andreia ainda não tinha filhos. Ela chegou a engravidar, mas perdeu o bebê em um aborto espontâneo. Andréia fez tratamento, mas não conseguia ser mãe e assim, decidiu entrar na fila de adoção. Juntos, eles foram até o Juizado da Infância e Juventude de Goiânia e fizeram o pedido formal.
 
A partir daí, começaram a participar de reuniões do Grupo de Estudo e Apoio à Adoção de Goiânia (GEAAGO). O cadastro ainda era regional e em menos de seis meses foram chamados. “A adoção é uma escolha muito pessoal e egoísta porque queremos alguém que pareça conosco. Geralmente as pessoas querem uma menina branca, com menos de dois anos. Nós fizemos o contrário da maioria, escolhemos um negro e não optamos por faixa etária. Coincidentemente, nos chamaram para conhecer o João Gabriel, negro, com apenas dois anos. Fomos até o Condomínio Sol Nascente para conhecê-lo e, não havia dúvida, ele era nosso”, recorda Lucimar.
 
Meninos negros não estão na principal lista de pretendentes à adoção (Foto: Agência Brasil)

Seis anos depois, quando João Gabriel tinha oito, veio a notícia da gravidez de Andreia, outro menino, Lúcio Filho, hoje com dois anos e meio.

Preconceito
“Eu não tinha ideia do preconceito que se tem, nem sempre velado, às vezes até explicito. Com o plano de saúde, por exemplo, eu tive muitos problemas. Quando saiu o primeiro documento de guarda, a criança tinha outro nome. A adoção definitiva saiu com nosso nome e o que escolhemos: Carolina. Daí, o plano não queria trocar o nome do sistema. Cada consulta era um problema, um constrangimento com nomes dos pais e o dela, por exemplo”, recorda Levine Artiaga.

Lucimar conta  que alguns vizinhos perguntavam: “Nossa, mas ele é seu filho?”, isso porque os dois são brancos e o garotinho, hoje com 10 anos, é negro. “O jeito é brincar, levar na esportiva. Uma vez minha esposa foi à escola e a diretora não acreditava que ele era filho dela. Foi ficando uma situação tão chata que ela teve que sair de perto do João Gabriel e dizer para a diretora que ele era adotado”, recorda.
 
Verdade

Um ponto comum entre pais e familiares gira em torno da dúvida de contar à criança o fato dela ser adotada. Sobre isso, Lucimar declara que é interessante ser verdadeiro e explicar a adoção, desde sempre, sem forçar, mas sendo sincero. “A gente sempre dizia que ele era filho, mas que não tinha nascido da barriga da mãe. Um dia ele chorou muito e disse que queria muito ter nascido da barriga. Neste dia percebemos que ele se sentia magoado e paramos de falar sobre adoção. Ele sabe, mas não é algo que repetimos o tempo todo.”
 
Levine conta que ele e a esposa conversam muito e tentam se preparam porque o dia vai chegar, apesar da criança ser pequena. “Muitas pessoas acham que estamos fazendo caridade. Eu costumo dizer e gosto de repetir isso: se tem alguém que está fazendo caridade é ela comigo. A maior caridade é ela me aceitar. Ela é muito amada e vai saber que é parte dessa família. A gestação não foi de nove meses, foi de quase três anos. Temos medo, mas isso faz parte. Amar alguém que foi gerado por nós é intuitivo, mas amar alguém que não saiu de nós é um aprendizado e é muito gratificante. Ela é minha paixão”.

Carga emocional 
Nos casos de adoção, a criança costuma carregar uma grande carga emocional, geralmente de rejeição, mas é preciso respeitar a essência, o tempo, a personalidade e as formas com que costumam expressar o sentimento. Com o pequeno João Gabriel não foi diferente. "No início não foi fácil, ele era muito pequeno, tinha medo de escuro, chorava muito, dormiu com a gente por um tempo e foi se adaptando até ir para o próprio quarto. Tenho dois filhos gêmeos, na época, com 17 anos, que dormiam pegados na mão do João Gabriel e ele foi se sentindo amado”, conta Lucimar.
 
O pai do garoto acredita que a responsabilidade quando se adota uma criança é muito maior que quando se tem um filho biológico. “Eu optei por ser pai dele. Não existe um manual, você vai aprendendo a educar e amar. O importante é nem expor demais nem superproteger, é um meio termo. Acho que tivemos sorte por ser um menino, menina é mais emotiva, acho que talvez seria mais difícil”, diz Lucimar. 
 
“Costumo dizer que a minha pequena ficou mal acostumada. Em abrigo grande, não adianta a criança chorar que não tem braço para pegar. A criança se acostuma, mas com o tempo vai deixando essas coisas. Agora chora toda noite, quer dormir com a gente, como toda criança normal. Ela é igual a qualquer outra, isso é de toda criança, ainda bem. Às vezes dou bronca e ela fala assim: beijo, beijo”, finaliza Levine, referindo-se à Carolina.  
 
Burocracia necessária
Sobre a burocracia enfrentada por quem entra na fila, Lucimar Aparecido julga ser um mal necessário. “Acho importante que o Estado seja burocrático com a adoção, porque você ser pai e maltratar seu filho, é uma coisa. Agora o Estado tirar uma criança da família  e colocar em outra que vai maltratá-lo é falta de responsabilidade. Além disso, muitas pessoas querem devolver a criança durante a guarda provisória.  É um ser humano, você escolhe isso, tem que estar preparado pra ficar. Para quem deseja adotar eu digo uma coisa: Prepare-se, pegue a carga que conseguir carregar e você vai saber o que fazer quando os desafios aparecerem”, finaliza.

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Comentários

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  • 07.05.2015 19:36 DENISE CAETANO CHAVES

    sou louca p ser mae nao entrei na fila nao pq a demora e tanta que nao da eu pesso força a deus p suportar tanto amor no peito p dar um bebe

  • 14.04.2015 11:18 PIER-ANGELI FARIA AMANCIO

    SEMPRE TIVE VONTADE D ADOTAR UM CRIANÇA O ENGRAÇADO TEM TANTO BEBE JOGADO FORA E TAMTO BUROCACIA

  • 25.03.2015 20:20 DENISE CAETANO CHAVES

    sou louca p adotar um bebe da carinho e amor

  • 18.03.2015 23:17 Robrta de Brito Rodrigues

    quero muito adotar uma criança recem nascida,eu sou casada a 10 anos, tenho um filho de 16 anos,tenho 40 anos meu marido tem 43anos como faço para realizar esse sonho?

  • 09.11.2014 20:30 biarodrigues

    adotar uma criança

  • 25.10.2014 21:35 cirlene frança ferreira dos santos

    Meu sonhor. E adotar uma criança uma mocinha eu passei por uma cerugia cadioca coloquei vauvula mercanica nao posso tem filho meu grande sonhor quero dar o bom e do melhor pra minha bebexinha queria adota uma moça de 2. Meses .meu sonhor e esse,,,

  • 22.09.2014 16:04 bruna ferreira caetano baptista

    Nao consigo ter filhos e queria aditar uma criança de 1 ano a 2 anos. Sou apaixonada em criança. Meu telefone (62) 93383888

  • 30.08.2012 16:41 lindalva

    Catherine mas uma vez voc?? escreve mostrando a realidade muitas vezes escondidas pelo eterno preconceito ,uma crian??a s?? por se j?? ?? amor puro e quando dar a sorte de encontrar quem tem amor para dar ,o final sempre ser?? feliz com o sem preconceito basta saber amar .

  • 30.08.2012 11:14 Lucimar Faria

    Excelente materia,abordagem inteligente, deveria se falar mais no assunto,,

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