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Othaniel Alcântara
Othaniel Alcântara

Othaniel Alcântara é professor de Música da Universidade Federal de Goiás (UFG) e pesquisador integrado ao CESEM (Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical), vinculado à Universidade Nova de Lisboa. othaniel.alcantara@gmail.com / othaniel.alcantara@gmail.com

MÚSICA CLÁSSICA

Conjuntos pré-orquestrais

| 22.03.19 - 23:09 Othaniel Alcântara Jr.

Até o final do Renascimento (por volta de 1600), o desenvolvimento dos diversos estilos musicais na Europa acontecia, quase que exclusivamente, na área da música polifônica vocal. Neste cenário, os músicos instrumentistas eram contratados, quando necessário, para a realização do acompanhamento dessas obras vocais. Em geral, tal produção musical era patrocinada pela Igreja Católica, no caso da música sacra, ou pelas cortes, quando se tratava da música profana. E, dependendo das circunstâncias, pela superposição de ambas.
 
Percebe-se que, gradualmente, a partir de meados dos anos Quinhentos, a música escrita exclusivamente para a performance de instrumentos musicais foi adquirindo maior relevância. Inicialmente, a produção foi direcionada, em sua maioria, para alaúdes e instrumentos de teclado, tais como: cravo, virginal e órgão (SAMPAIO, 2000, p. 12). No entanto, esse processo mostrou-se lento. De fato, a música instrumental alcançaria a mesma importância da música vocal apenas no decorrer do século XVII. Tal conjuntura fazia com que os instrumentistas, ao contrário dos cantores, tivessem um campo de atuação bastante reduzido até o final do século XVI. 
 
Falando especificamente sobre o campo da música de conjunto renascentista, temos uma certeza: não se deve usar o termo “orquestra” em nenhum de seus dois significados; nem no etimológico* e, tampouco, naquele que define um corpo de instrumentistas, como utilizado nos dias atuais, para se referir às orquestras sinfônicas (ou filarmônicas). Concordando com os autores Tim Carter e Erik Levi, mesmo em relação às primeiras décadas do século XVII, sabe-se que nenhum conjunto instrumental era chamado de orquestra. E o mais importante, nenhum agrupamento musical se parecia ou se comportava como uma “orquestra” conhecida atualmente (CARTER; LEVI, 2005, p. 14).
 
* Leia o texto “O que é uma orquestra?”, postado em 14/03/2019.   

Durante o Renascimento e as primeiras décadas dos anos Seiscentos, a escrita das partes instrumentais de uma obra musical era pensada para consorts. Essa palavra é usada para se referir a conjuntos musicais formados, na maioria das vezes, por executantes de instrumentos da mesma família (violas ou alaúdes ou flautas doces ou metais etc.), mas que tocavam em tessituras diferentes. Durante a execução, cada uma das linhas melódicas era tocada por apenas um instrumento (SANTOS, 2014, p. 01).

Abaixo, um vídeo mostrando um consort de antigas violas. Observar que, diferente da família dos violinos, a família das violas (da gamba) possuíam os chamados trastes (no espelho), semelhantes ao nosso atual violão.
 



Para a formação dos consorts poderiam ser adotados diferentes critérios (técnicos, religiosos etc.). Um exemplo, em especial, considerava o ambiente onde cada instrumento poderia atuar - igrejas, câmaras ou salões de bailes (LAWSON, 2005, p. 01). É importante mencionar que esses agrupamentos instrumentais, antes da generalização do termo “orquestra”, fato que certamente não aconteceu antes da década de 1670, ficaram conhecidos por diversos outros nomes, tais como: band, the musick (além de consort) - em inglês; capella, concerto ou gli stromenti, em italiano; kapelle, die instrumenten ou symphonie, em alemão; e bande, les concertants, les instruments e la symphonie, em francês (MARTINELLI, 2013, p. 26). 

Era assim - com os instrumentos reunidos em famílias - que, em algumas oportunidades, corporações de instrumentistas executavam as danças características da Renascença. De maneira semelhante, realizavam o acompanhamento de música polifônica vocal (sacra ou profana). Da mesma forma, imediatamente antes de 1600, participavam com números instrumentais nos intermedi de espetáculos dramáticos. Por fim, tornou-se prática comum utilizar conjuntos instrumentais, também conhecidos por ensembles, para o acompanhamento dos cantores/atores ou para a execução da abertura instrumental das recém-criadas óperas italianas, como nos casos de Dafne (c.1594) e Eurídice (1600), ambas musicadas por Jacopo Peri (1561-1633).

É oportuno evidenciar que, no cenário acima descrito, os compositores não sentiam a necessidade de especificar, em seus manuscritos, a instrumentação a ser usada em suas peças puramente instrumentais ou naquelas elaboradas para serem executadas como apoio para a música vocal. Nessa trilha, o pesquisador Juliano Buosi dos Santos, analisando essa conjuntura, oferece uma justificativa para essa prática. De acordo com a argumentação desse investigador, os músicos profissionais integrantes de um consort eram bastante versáteis, dominavam mais de um tipo de instrumento e podiam escolher, dependendo do local ou da ocasião, qual o consort instrumental mais adequado a se interpretar determinada obra. Ainda para esse autor, em geral, um consort formado por violas da gamba estava associado à música contrapontística, o de violinos era usado na música de dança, enquanto o conjunto composto por instrumentos de sopros (cornetos, sacabuxas) para eventos ao ar livre (SANTOS, 2014, p. 26).

Outro aspecto importante a ser destacado sobre esse assunto é que a atuação dos instrumentistas - no acompanhamento da música vocal - limitava-se, quase que exclusivamente, a dobrar as linhas cantadas. Melhor dizendo, os consorts que ofereciam uma boa diversidade de registros - graves e agudos - para os compositores, devido aos diferentes tamanhos de seus instrumentos, eram escalados para reforçar, em uníssono ou oitava, uma ou mais linhas de uma obra vocal (ex.: soprano, alto, tenor e baixo). Para tanto, bastava escolher alguns instrumentos disponíveis no momento das performances, usando o critério de equivalência com o registro da linha vocal a ser reforçada: soprano, alto, tenor ou baixo (SAMPAIO, 2000, p. 12). A título de exemplo, podem ser citados os madrigais seculares a seis, oito e doze vozes distintas, como nos casos das composições de Carlo Gesualdo (1566-1613), Andrea Gabrieli (c.1532/33-1585), Giovanni Gabrieli (c.1554/57-1612) ou Claudio Monteverdi (1567-1643), na Itália, em fins do século XVI (GROUT; PALISCA, 2001, pp. 241-246). 

A propósito, boa parte dos historiadores de música defende que a rotina de indicar quais instrumentos deveriam tocar cada uma das linhas de uma partitura musical tenha se iniciado na música sacra, mais especificamente, na Igreja de São Marco, em Veneza, no final do Renascimento. Para John Stanley, tais indicações foram feitas pela primeira vez na antologia Sacrae Symphonie de Giovanni Gabrieli (c.1553-1612), publicada em 1597. Nesta obra, o referido compositor veneziano, então organista da Basílica de San Marco, trabalhou várias combinações de pequenos grupos instrumentais envolvendo cornetos, sacabuxas (ancestrais do trombone) e violinos (STANLEY, 2006, p. 34). Entretanto, outro compositor italiano, Claudio Monteverdi (1567-1643), também costuma levar os créditos por ter sido um dos pioneiros da prática de indicar, na própria partitura, uma lista de instrumentos necessários para a execução de uma obra. Trata-se da Ópera La Favola de Orfeo (A Lenda de Orfeu), cuja estreia se deu na cidade de Mântua, Itália, em fevereiro de 1607.  

Diferente dos pequenos conjuntos de Gabrieli, o grupo formado por Monteverdi, exclusivamente, para  La Favola de Orfeo, contou com, aproximadamente, 35 partes instrumentais diferentes. Essa “orquestra”, considerada de grandes proporções para a época, contemplava uma grande variedade de instrumentos, próprios daquela época: chitarroni (semelhante à teorba), violas da gamba,  viole da brazzo (antecessora da família do violino), cornetos (corpo de madeira e bocal de metal), sacabuxas (atuais trombones), cravos etc. É relevante informar, ainda, que a partitura de La Favola de Orfeo contém, além das partes vocais, vinte e seis breves números puramente orquestrais; entre eles, a famosa “tocata” de abertura (CANDÉ, 2001, p. 436; GROUT; PALISCA, 2001, p. 324; KOBBÉ, 1997, p. 08).

 
VÍDEO:
Abertura instrumental da Ópera Orfeo de Claudio Monteverdi (1’40”)
 

 
Considerando o tamanho do grupo e a diversidade dos instrumentos, o grande conjunto musical que acompanhou A lenda de Orfeu poderia ser considerado um ancestral direto de uma orquestra moderna? Esta pergunta será explorada no próximo texto.
 
 
Leia também:

Os 24 Violinos do Rei (postado em 20/4/2019)

Les Petits Violons (postado em 16/9/2019)

La Grande Écurie (postado em 2/10/2019)

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Lully e o "cajado" da morte (postado em 18/9/2019)

A família francesa do violino (postado em 9/3/2020).

A batuta (postado em 23/5/2019) 
 

Referências bibliográficas:
 
CANDÉ, Roland De. História universal da música. São Paulo: Martins Fontes, 2001. 
 
CARTER, Tim; LEVI, Erik. The history of the orchestra. In: LAWSON, Colin (Ed.). The Cambridge Companion to the Orchestra. 2. ed. Cambridge: Cambridge University Press, 2005. p. 313. 
 
GROUT, Donald J.; PALISCA, Claude V. História da música ocidental. 2. ed. Lisboa: Gradiva, 2001. 
 
KOBBÉ, Gustave. Kobbé: o livro completo da ópera. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1997. 
 
LAWSON, Colin (org. .. The Cambridge companion to the orchestra. 2. ed. Cambridge: Cambridge University Press, 2005. 
 
MARTINELLI, Leonardo. Superorquestras. Revista Concerto - Gramophone: guia mensal de música clássica, São Paulo, p. 26–28, 2013. 
 
SAMPAIO, Luiz Paulo. A orquestra sinfônica: sua história e seus instrumentos. Rio de Janeiro: GMT Editores, 2000. 
 
SANTOS, Juliano Buosi Dos. Consort de violinos - música instrumental germânica para mais de quatro vozes na segunda metade do séc. XVII. 2014. Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Campinas, 2014.
 
STANLEY, John. Música Clássica: os grandes compositores e as suas obra-primas. Lisboa: Editorial Estampa, 2006. 
 


Comentários

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  • 01.02.2024 15:02 Amanda Silva Cordeiro

    Incrível como os conjuntos pré-orquestrais foram fundamentais para o desenvolvimento da música ocidental. Eu fiquei impressionada com a variedade e a riqueza dos instrumentos e dos estilos musicais que existiam antes das orquestras como as conhecemos hoje. A escrita do texto também contribuiu muito para a leitura, pois o autor conseguiu explicar conceitos técnicos e históricos de forma clara e didática, sem ser monótono ou superficial. Ele também usou imagens e links de áudio que tornaram o texto mais ilustrativo e dinâmico.

  • 28.01.2024 18:30 Gabriel Costa Paz

    è realmente fascinante entender um pouco sobre a jornada pela transição da música vocal para a instrumental durante o Renascimento. Achei interessante a descrição dos consorts e da "orquestra" de Monteverdi, evidenciando a versatilidade dos músicos da época. A prática de indicar instrumentação nas partituras, especialmente em La Favola de Orfeo, marca um ponto crucial na evolução musical. A diversidade de instrumentos utilizados nessa obra mostra uma riqueza sonora emocionante. A história da música é intrigante, e este texto me deixou mais curioso para explorar mais sobre essas transformações.

  • 27.01.2024 11:01 Matheus Gabriel Gontijo Silva

    O texto discute o desenvolvimento da música na Europa até o final do Renascimento. Inicialmente focada na música polifônica vocal, financiada pela Igreja Católica ou cortes, a transição para a música instrumental ocorreu gradualmente. Surgiram os conjuntos instrumentais chamados consorts, formados por instrumentos que eram parecidos. A prática de indicar instrumentação em partituras começou na Igreja de São Marco, em Veneza, no final do Renascimento, creditada a Giovanni Gabrieli e Claudio Monteverdi. Monteverdi, notadamente, introduziu essa prática em sua ópera "La Favola de Orfeo" em 1607, com uma "orquestra" de 35 partes instrumentais, marcando um avanço significativo para a época.

  • 27.01.2024 00:26 Kaic Toledo Camilo

    Professor, o texto explora-se o desenvolvimento da música instrumental até o final do Renascimento. Até o século XVII, a música europeia estava predominantemente centrada na polifonia vocal, com músicos instrumentistas contratados para acompanhar. A transição para a música instrumental, inicialmente focada em alaúdes e teclados, ocorreu gradualmente. O termo "orquestra" não era usado, e conjuntos instrumentais eram chamados de consorts, organizados por famílias de instrumentos. Antes de 1670, diferentes línguas utilizavam termos diversos para esses grupos. A prática de não especificar instrumentação nas partituras era justificada pela versatilidade dos músicos de consort. Destaca-se a atuação desses conjuntos em danças renascentistas, no acompanhamento vocal e em óperas italianas. A indicação detalhada de instrumentação nas partituras teve início no final do Renascimento, com Giovanni Gabrieli e Claudio Monteverdi, marcando uma transição crucial para notações mais detalhadas e influenciando o surgimento das orquestras modernas. Esses aspectos resumem a evolução da música instrumental renascentista e suas implicações na prática musical.

  • 25.01.2024 16:52 Arthur Borges Taveira

    O texto investiga o panorama musical até o término do período Renascentista na Europa, destacando a transformação da música vocal polifônica para a música instrumental. Antes do século XVII, os músicos que tocavam instrumentos tinham um âmbito de atuação mais restrito em comparação com os cantores. Conjuntos denominados "consortes", compostos por instrumentos da mesma família que abrangiam diversas tessituras, eram frequentes na música de conjunto renascentista. A especificação da instrumentação não era uma prática comum nas partituras dessa época, mas os compositores Giovanni Gabrieli e Claudio Monteverdi começaram a indicar os instrumentos nas partituras, exercendo influência no desenvolvimento da música instrumental. A ópera "La Favola de Orfeo" de Monteverdi, que incorporou aproximadamente 35 instrumentos distintos, representou um ponto crucial na evolução da música.

  • 23.01.2024 19:26 Orlando Torquato da Silva Neto

    O texto apresenta uma visão fascinante da evolução da música durante o Renascimento, destacando a transição da predominância da música polifônica vocal para a música instrumental. É interessante notar como a música era fortemente influenciada pelas instituições dominantes da época - a Igreja Católica e as cortes. A gradual ascensão da música instrumental, inicialmente focada em alaúdes e instrumentos de teclado, reflete uma mudança cultural significativa. O texto também esclarece a distinção entre os conjuntos musicais da época e as orquestras modernas, ressaltando que o termo “orquestra” não se aplicava aos grupos instrumentais do Renascimento. Finalmente, a menção aos “consorts” ilustra a diversidade e a riqueza da música de conjunto renascentista.

  • 17.01.2024 19:50 MARCEL FAZANI BORGES

    Uma característica notável é a diversidade de critérios considerados na formação desses grupos, incluindo o ambiente específico para cada instrumento, o que ressalta a capacidade de adaptação desses conjuntos diante de diferentes situações e requisitos de eventos. É relevante observar também a flexibilidade dos músicos nos consortes, demonstrando sua habilidade em tocar uma variedade de instrumentos. Concordo plenamente com Monteverdi e Giovanni Gabrieli em relação à importância da introdução de cronograma específico sobre quais instrumentos devem executar cada linha de uma partitura musical. Essa prática desempenhou um papel fundamental no desenvolvimento das orquestras modernas e na preservação das obras, possibilitando sua reprodução mesmo ao longo de muitos anos.

  • 14.01.2024 19:19 Carlos Eduardo Neves de Sá

    Pude aprender nesse texto a respeito da transição da música vocal para a instrumental durante o Renascimento na Europa. No começo, a música instrumental era secundária, usada principalmente para acompanhar a música vocal patrocinada pela Igreja ou cortes. Gradualmente, a música instrumental ganhou destaque, especialmente no século XVII. Antes do termo "orquestra", os grupos instrumentais eram chamados de consorts. Os músicos eram versáteis, escolhendo instrumentos com base na ocasião, se adaptando conforme era exigido pela obra.

  • 09.01.2024 21:37 Giovanna Teodoro Melo Pereira

    Não conhecia o termo consort e fico feliz que o texto tenha me trazido esse conhecimento. Algo para se destacar é a variedade de critérios considerados para formar esses grupos, como o ambiente em que cada instrumento poderia atuar, evidenciando a adaptabilidade desses conjuntos de acordo com as situações e necessidades específicas de cada evento. Outra observação importante é sobre a flexibilidade dos músicos que compunham esses consorts, sendo versáteis e capazes de tocar diferentes tipos de instrumentos. Gostaria de acrescentar que concordo 100% com Monteverdi e Giovanni Gabrieli sobre a introdução das faixas específicas sobre quais instrumentos devem tocar cada linha de uma partitura musical, pois essa prática foi fundamental para o desenvolvimento das orquestras modernas e para o registro das obras, permitindo sua reprodução mesmo depois de muitos anos.

  • 09.01.2024 11:20 Filipe Castro Saraiva

    É interessante reparar como o reconhecimento dos instrumentos demorou certo tempo para ser reconhecido como importante parte da música para as pessoas, com a voz ainda mantendo sua importância superior mesmo já existindo instrumentos que estavam tentando conseguir sua chance no cenário musical. E também no começo do crescimento dos instrumentos no cenário musical eles ainda eram muito utilizados para acompanhar um cantor e valorizar sua voz e canto. Caminhando para nosso presente é curioso como perceber como atualmente o canto voltou a ser bem mais reconhecido do que os grandes trabalhos instrumentais.

  • 07.01.2024 10:29 Matheus Henrique Bernardes Daniel

    O texto retrata o cenário musical no contexto renascentista, no qual somos levados a compreender a evolução da música instrumental, que inicialmente desempenhava um papel secundário em relação à predominância da música polifônica vocal. É interessante destacar o financiamento principalmente pela Igreja Católica e pelas cortes, evidenciando como a música instrumental gradualmente ganhou terreno a partir do século XVI. A ênfase na formação de consorts, grupos de músicos instrumentistas tocando instrumentos da mesma família, destaca a riqueza e a diversidade dessa prática durante o Renascimento. A recusa em utilizar o termo "orquestra" para descrever esses conjuntos é enfatizada, ressaltando que o conceito moderno de uma orquestra sinfônica ou filarmônica não se aplicava a esses grupos renascentistas. A versatilidade dos músicos da época, capazes de dominar diferentes instrumentos e adaptar-se a diversos ambientes é admirável. A ausência da necessidade de especificar a instrumentação em manuscritos ressalta a flexibilidade e a habilidade dos músicos renascentistas. A contribuição pioneira de Giovanni Gabrieli e Claudio Monteverdi, particularmente na Igreja de São Marco em Veneza, é um marco crucial no desenvolvimento da prática de indicar a instrumentação em partituras.

  • 04.01.2024 22:29 Isabela Moreira Bianchi

    O texto nos mostra, de uma maneira muito instigante, a evolução da música antes do surgimento das orquestras. Até o final do período do Renascimento, vemos que as obras sempre eram financiadas pela Igreja e pelas cortes, sendo compostas principalmente pela voz. A música instrumental, por sua vez, só conquistou maior relevância no século XVII. Nesse sentido, enquanto os instrumentos ainda não tinham destaque suficiente para constituir uma orquestra, existiam os chamados consorts. Esses, agrupavam uma única família de instrumentos para acompanhar a polifonia vocal. Também é válido ressaltar os vídeos presentes na coluna, que são essenciais para exemplificar e facilitar o entendimento dos conceitos relatados.

  • 03.01.2024 11:51 Janaina Sacramento Rocha

    Texto bastante interessante, traz de forma clara e sucinta os diversos estilos musicais na Europa em relação a música polifônica vocal, visto que os músicos instrumentistas não erem requisitados com frequência e sim em situações específicas. Somente com o passar do tempo, os instrumentais foram ganhando espaço mesmo que de forma lenta, ganhando-se então a mesma importância da música vocal, porém somente no século XVII. È importante ressaltar também a liberdade de criação dos instrumentistas naquela época, uma vez que eles não especificavam nos seus manuscritos a instrumentação de deveria ser usada nas obras. Além da versatilidade dos músicos uma vez que dominavam mais de um instrumento favorecendo então a escolha do consort ou instrumental mais adequado para interpretar a obra. Vale destacar também a atuação da igreja e das cortes como patrocinadora das produções musicais daquela época, além de que determinados instrumentos não podiam ser tocados em todo o lugar, ou seja, para cada ambiente/ocasião tinha-se um instrumento a ser utilizado, conforme mencionado no texto.

  • 21.10.2023 22:41 Arielly dos Santos Camargo

    O texto explora o cenário musical até o final do Renascimento na Europa, enfatizando a evolução da música vocal polifônica para a música instrumental. Antes do século XVII, os músicos instrumentistas tinham um campo de atuação limitado em comparação aos cantores. Grupos chamados "consorts," compostos por instrumentos da mesma família que tocavam em diferentes tessituras, eram comuns na música de conjunto renascentista. A instrumentação não era especificada nas partituras nessa época, mas os compositores Giovanni Gabrieli e Claudio Monteverdi começaram a indicar instrumentos nas partituras, influenciando o desenvolvimento da música instrumental. A ópera "La Favola de Orfeo" de Monteverdi, que envolveu cerca de 35 instrumentos diferentes, representou um marco na evolução da música.

  • 15.10.2023 12:21 Jordanna Coelho Neves

    Vemos que no que se diz da música no renascimento não usa-se o termo "orquestra" como seu significado etimológico e no que define um corpo de instrumentos, pois nenhum conjunto instrumental era chamado de orquestra, e nenhum agrupamento se parecia com uma orquestra como temos hoje em dia. Pois nessa época os conjuntos musicais eram formados por isntrumentos da família de violas ou alaúdes, ou flautas doces e metais etc, onde cada linha melódica era tocada por um instrumento e é sabido que os instrumentos eram distintos devido a outros fatores, como local onde iriam atuar, isto é, cada isntrumento era destinado para uma ocasião. Ou seja, diferente dos dias atuais onde temos um conjunto de instrumentos para uma única música/concerto. Observamos também que a rotina de indicar quais instrumentos deveriam tocar cada uma das linhas de uma partitura musical tenha se iniciado na música sacra. O que ao longo dos eventos trouxe uma evolução da quantidade de instrumentos que temos comparados com hoje em dia.

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