Carolina Pessoni
Goiânia - Via larga e com comércio forte nas duas margens. Esta é a Avenida Araguaia, uma das principais do Centro de Goiânia, desde quando foi projetada até os dias de hoje.
Juntamente com as avenidas Goiás e Tocantins, a Araguaia faz parte do traçado original dos primórdios da nova capital de Goiás, projetada pelo arquiteto e urbanista Attilio Corrêa Lima na década de 1930. As três avenidas compõem o que é conhecido como o "manto da santa", pelo formato de seus traçados.
A história da Avenida Araguaia é também a da construção da Capital. O traçado urbano original de Goiânia destaca essa nova centralidade política e administrativa, concentrada na Praça Cívica, e recorre à configuração em torno de eixos e raios.
Originalmente, a Avenida Araguaia foi projetada para ligar o centro administrativo de Goiânia a um espaço de lazer, o Parque Botafogo. "As perspectivas geradas pelo sistema viário destacam edifícios e espaços urbanos nos seus pontos focais estratégicos: a Avenida Goiás liga a Praça Cívica à Estação Ferroviária; a Avenida Araguaia, ao Parque Botafogo; e a Avenida Tocantins, ao antigo Aeródromo (hoje, Praça do Avião)", explica o superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em Goiás, Allyson Cabral.
Avenida Araguaia (Foto: Berto)
Nesse contexto, a Avenida Goiás é protagonista, por ser mais larga que as demais, e no paisagismo adotado, com canteiro central arborizado. "Laterais a ela, coube às Avenidas Araguaia e Tocantins receber tanto as atividades de prestação de serviços e comércio quanto as primeiras residências, estas com modelos próprios - as “casas-tipo” - ou reproduções de linguagens arquitetônicas ecléticas", afirma Allyson.
Inicialmente planejada para ser parte de uma região residencial, com o passar do tempo e com o crescimento de Goiânia, a Araguaia passou a ser também uma zona comercial. A partir da década de 1970, o uso comercial dessas avenidas se sobrepôs ao residencial, e foram verificadas demolições ou adaptações para as novas atividades.
Conforme explica o superintendente do Iphan-GO, na década seguinte, a Avenida Araguaia passou por um processo de esvaziamento semelhante ao ocorrido nas demais áreas da zona central. "Houve a migração de atividades para shopping centers e para as novas centralidades constituídas nos bairros. Com o incremento do número de veículos, muitos outros imóveis foram demolidos para se tornar estacionamentos."
"É uma pena que com passar do tempo houve um grande esvaziamento, fazendo com que a população saísse do centro de Goiânia. Isso impacta também nos prédios históricos da região central, uma vez que diminuem o número de visitação e apreciação dos mesmos. Torcemos para que sejam adotadas políticas públicas que estimulem o retorno dessa ocupação do centro, especialmente para o uso que chamamos de misto, voltado tanto para o comercial, quanto para o residencial”, afirma Allyson.
Com cerca de 2 quilômetros de extensão, a Araguaia já recebeu diversas manifestações populares, como as passatas pelas "Diretas Já", na década de 1980, e a Parada do Orgulho LGBTQIA+, realizada todos os anos. O nome, como não poderia ser diferente, foi escolhido com base no que talvez seja o rio mais importante, ou ao menos o mais conhecido do Estado.
Avenida Araguaia (Foto: Reprodução)
Helio Mamede Nogueira tem uma relojoaria na Avenida Araguaia há 40 anos e viu muitas transformações na região. "Sempre tive meu comércio aqui na avenida, só mudei a posição dele duas vezes. Vi muitas mudanças, como a construção do shopping, comércios abrindo e fechando... É toda uma vida nesse lugar", diz.
Seu Hélio começou a consertar relógios quando tinha cerca de 20 anos de idade, quando abriu sua primeira relojoaria na avenida. "Construí minha vida aqui. Formei e sustentei minha família e das minhas três filhas, a mais nova já trabalha comigo há mais ou menos 10 anos. Quando eu aposentar, penso que o comércio vai ficar com ela."
Com tanto tempo instalado na avenida, fidelizou clientes que já o procuram há muitos anos na Araguaia. "Tenho clientes fiéis, de toda uma vida. É gente que sempre vem procurar nosso trabalho. Tudo o que eu consegui veio aqui da Avenida Araguaia, é uma parte da minha vida", diz o relojoeiro.