Carolina Pessoni
Goiânia - O Centro de Goiânia é uma das regiões mais ricas da cidade. O título é justo, já que a localidade é o marco inicial da construção da capital, que comemora seus 89 anos nesta segunda-feira (24/10).
Com arquitetura inovadora para a época, a nova cidade buscava trazer o conceito de modernidade e desenvolvimento. O centro é a representação desta ideia, com as estruturas em art déco sendo os símbolos principais.
O marco zero de Goiânia, a Praça Cívica, por exemplo, representa a concepção de modernidade que o urbanista Attilio Corrêa Lima queria transparecer em 1933. A praça é a própria razão de ser da cidade, construída para abrigar o centro cívico da nova capital e de forma radial, com tudo sendo convertido para ela.
O traçado original da cidade, conhecido popularmente como "manto da santa" e que compreende a Praça Cívica com as avenidas Goiás, Araguaia, Tocantins e Paranaíba, mostra a intencionalidade do ar de modernidade que a nova capital deveria passar, segundo os planos do interventor e idealizador de Goiânia, Pedro Ludovico Teixeira. A ideia era diferenciar a nova capital da antiga, a cidade de Goiás.
Praça Cívica (Foto: Divulgação)
O projeto de construção deste traçado está influenciado pela ideia de conceber uma percepção de progresso, conforme explica a historiadora do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em Goiás, Renata Silva de Oliveira Galvão. “Para isso ficar mais emblemático, o projeto tem muita influência da art déco. Avenidas largas, prédios modernos, paisagismo pensado... Tudo isso traz uma ideia muito própria daquele momento que é o embelezamento das vias, pensando num novo ritmo do espaço urbano, que não é mais aquele bucólico, de ruas estreitas que era característico das cidades coloniais", descreve.
Uma das primeiras construções da cidade, a casa nº 1 de Goiânia, registrada em cartório, como não poderia deixar de ser, está localizada no Centro, na Rua 20. O sobrado em estilo art déco foi edificado pelo Estado em 1935 como parte da urbanização da nova capital.
A partir de 1936, o imóvel abrigou a Diretoria-Geral da Fazenda, órgão que hoje corresponderia à Secretaria da Economia. Após a saída do órgão, a casa foi moradia do advogado e professor Colemar Natal e Silva e sua família até a década de 1980, quando foi cedida para se tornar a sede da Academia Goiana de Letras (AGL).
O sobrado é a última construção das primeiras casas de alvenaria de Goiânia que continua erguida. "Entre as pioneiras, é a única que mantém as características da construção original e que tem o padrão arquitetônico de seu nascimento preservado", destaca o presidente da AGL, Ubirajara Galli.
Palácio das Esmeraldas (Foto: Arquivo/A Redação)
Já o Palácio das Esmeraldas, um dos mais importantes edifícios da cidade, foi inaugurado em março de 1937. Projetado por Attilio Corrêa Lima, é um dos grandes monumentos do estilo art déco em Goiânia, por sua suntuosidade em relação ao estilo.
Com fachada de linhas retas e sóbrias, na visão do arquiteto, a sede do executivo goiano deveria representar a racionalidade e economia e que atendesse às exigências da vida moderna. "Ele é o ponto focal do Centro de Goiânia, a exata confluência das três avenidas: Araguaia, Goiás e Tocantins", explica o pesquisador do Centro de Estudos Brasileiros da Universidade Federal de Goiás (UFG) e engenheiro civil, Wolney Unes.
O centro atual
Para o arquiteto Paulo Renato Alves, é do centro que a cidade surge e vai se expandindo. "Historicamente o centro é a pedra fundamental. Tudo o que a cidade viveu no passado está registrado na região", ressalta.
Ele afirma, entretanto, que não necessariamente a região central evolui conforme a modernidade das cidades. "Geralmente acaba ficando no passado e não se desenvolve como o resto da cidade. Quando isso acontece, surgem as ideias urbanísticas de revitalização, ou seja, fazer com que o passado se transforme no presente, trazer modernidade, inovação, adensamento."
De acordo com o arquiteto, esta é uma necessidade do centro de Goiânia. "Temos que preservar os dados históricos, mas é preciso levar o centro para o século XXI, o que hoje não acontece. Temos uma região forte em comércio, mas que se esvazia após as 18 horas. Para a verdadeira revitalização acontecer, tem que levar gente, trazer moradia, habitação moderna. E o novo plano diretor da cidade privilegia isso", reforça.
Cruzamento das avenidas Goiás e Anhanguera, no Centro de Goiânia (Foto: Letícia Coqueiro/A Redação)
Para o secretário de Cultura de Goiânia, Zander Alves da Costa, "o centro é o coração pulsante". "A cidade que não tem uma região central com interação da população não prospera. E é isso que estamos buscando para Goiânia, com a aprovação do plano diretor que tem uma carga de ações interessantes para o centro", exalta Zander.
Entre as ações empreendidas pelo poder público, o secretário destaca dois eventos permanentes em funcionamento: o Canto de Ouro, no Cine Ouro, e o Chorinho, na antiga Estação Ferroviária. "Além disso, estamos dando continuidade à revitalização do Beco da Codorna e fizemos uma proposta de compra do Grande Hotel que, mesmo com problemas, oferece aulas de música para 137 alunos."
Zander reforça, ainda, que outras ações secundárias visam levar mais interação da população para a região. "Um dos nossos trabalhos é a aplicação da lei das fachadas, que tem revelado várias joias da art déco. Outro projeto é um estudo que estamos realizando para a implantação de um polo gastronômico no centro. São ações para trazer essa interação com a população."