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Sobre o Colunista
José Abrão
José Abrão é jornalista e mestre em Performances Culturais pela Faculdade de Ciências Sociais da UFG / atendimento@aredacao.com.br
O Serviço de Entregas da Kiki (Imagem: Netflix)Logo mais, no dia 31 de maio, sete filmes do Studio Ghibli sairão do catálogo da Netflix: Meu Amigo Totoro, O Serviço de Entregas da Kiki, O Castelo no Céu, Eu Posso Ouvir o Oceano, Contos de Terramar, Porco Rosso: O Último Herói Romântico e Memórias de Ontem. Já falei a lista completa de cara, caso queira ir assisti-los enquanto há tempo.
Mas para você que segue aqui comigo, dando continuidade à leitura da coluna, gostaria de refletir sobre como foi fazer esta maratona forçada: nada como um prazo final para nos obrigar a tomar uma atitude e assistir a alguns filmes há anos abandonados na sua lista esperando para serem vistos.
Que o diretor Hayao Miyazaki é uma lenda viva do cinema e da animação já é sabido, mas poder ver o mestre em ação em diversas obras em sequência evidencia como cada produção do estúdio é especial em si. Sejamos justos: alguns filmes são melhores do que outros. Da lista acima, na minha opinião, Porco Rosso, Totoro e Kiki se destacam grandemente se comparados aos demais, principalmente aqueles do gênero slice of life, como Memórias de Ontem, desprovidos de fatores sobrenaturais.
Digo isso pois o que mais me atraiu nesses filmes foi a esmerada construção de uma estética muito própria que parece ser compartilhada em boa parte deles, embora não todos, especialmente nos slice of life já mencionados e naqueles mais propriamente de fantasia ou voltados para o folclore e lendas japonesas.
E esta estética é muito completa e específica, forjando o que propriamente é um realismo-fantástico japonês, por isso é tão interessante: é a construção de uma Europa imaginada e idealizada por um estrangeiro, situada em algum ponto perdido entre as décadas de 1940 e 1960 e inteiramente mediterrânea, costeira, regada a vinho, azeite e pão. A tecnologia pode ser peculiar: moderna, com traços de steampunk e podem haver elementos sobrenaturais, como o piloto porco em Porco Rosso, as bruxas em Kiki e as aeronaves e pedras mágicas de O Castelo no Céu.
É neste cenário que, apesar da aventura dos personagens, Miyazaki consegue criar um mundo belíssimo e que parece e se sente como se enrolar em um cobertor e tomar café em uma manhã fria. Um lugar onde dinheiro não é fundamental assim, todas as pessoas são educadas e até os vilões não são lá tão ruins (isso se o filme sequer tiver um vilão).
São apenas filmes, é apenas fantasia, mas Miyazaki consegue criar uma máquina visual de nostalgia que te transporta inteiramente para esses lugares: que não existem, que versam sobre tempos passados e heróis impossíveis. Quem não quer viver na pacata cidade de Kiki com bruxas boazinhas para resolver os seus problemas? Ou ter os céus da liberdade protegidos por um piloto romântico que foi transformado em porco por combater o fascismo?
Como os mestres latino-americanos do realismo fantástico, especialmente Gablo, Miyazaki consegue entregar as mesmas visões, conjurar a mesma mágica. Críticos reclamarão que há muitas outras camadas e uma profundidade sem fundo em sua obra, o que é verdade, mas já me alonguei demais por aqui acerca de um tema só. Quem quiser experimentar as sensações aqui descritas e mais, basta ligar a televisão e assistir estes ou qualquer outro filme da extensa biblioteca do Ghibli, quase inteiramente disponível na Netflix.