Carolina Pessoni
Goiânia - Uma associação civil beneficente, sem fins lucrativos, que atua na defesa e garantia de direitos, na prevenção e no atendimento de pessoas com deficiência intelectual, associada ou não a outras deficiências, parece uma coisa quase impossível. Entretanto, este é o trabalho da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais, a Apae.
No Brasil, a primeira Apae foi criada em 1954 e hoje está presente em mais de 2 mil cidades. Há mais de 60 anos a razão da existência da Apae é levar esperança e uma vida melhor a milhares de crianças e jovens deficientes.
A Apae Goiânia foi fundada em 1969, no Setor Coimbra. A instituição trabalha, há 54 anos, com assistência social e integra as áreas de educação e saúde, oferecendo serviços de referência em habilitação e reabilitação, convivência e fortalecimento de vínculos a pessoas com deficiência intelectual e/ou múltipla, além do atendimento às famílias dos seus usuários.
No Setor Coimbra está localizado o Complexo I, onde fica a administração, TeleApae, o Centro de Atendimentos Especializados I (Ceate I) e o Centro de Educação Especial Helena Antipoff (Ceesha). A unidade é especializada no atendimento a crianças de 0 a 6 anos e tem o objetivo de expandir e melhorar o cuidado e a educação de crianças com deficiência.
(Foto: Rodrigo Obeid/A Redação)
A diretora do Ceesha, Lucimeire de Brito Pinheiro, explica que o serviço social é a porta de entrada para os atendimentos da unidade. "Aqui promovemos uma escuta qualificada para o atendimento não só da criança, como também o acolhimento de toda a família", ressalta.
No total das quatro unidades espalhadas por toda a cidade, a Apae atende 600 crianças, sendo 256 somente na unidade I. É neste local que é feita a triagem que define para qual unidade o usuário será encaminhado.
O atendimento é feito de segunda à sexta-feira, em parceria com a Secretaria Municipal de Educação. "Os professores e colaboradores administrativos são servidores da secretaria, enquanto a parte da clínica é custeada pela Apae", explica Lucimeire.
Nesta unidade é desenvolvido o Programa Primeiros Passos (PPP), que oferece aos bebês recém-nascidos até os 2 anos de idade estimulação nas áreas cognitiva, psicomotora, sócio-afetiva e linguagem. "Quanto mais precocemente as crianças forem estimuladas e tratadas, maiores as chances de conquistar autonomia e desenvolvimento social", destaca a diretora.
(Foto: Rodrigo Obeid/A Redação)
Lucimeire explica ainda que o atendimento no PPP é feito com a participação das mães, que também recebem orientações e estímulos. "Convidamos as mães para olharem seus filhos com a potencialidade que podem desenvolver. É um trabalho também de reestruturação da mãe e da família diante da criança que precisa de cuidados diferenciados."
Também no Setor Coimbra é oferecido o Atendimento Educacional Especializado (AEE) para os alunos que frequentam o ensino comum. "Temos aqui a Educação Infantil para inserir a criança, por meio do apoio pedagógico, na educação regular. O objetivo é ambientar esse aluno para que, quando ele vá para uma escola comum, já se sinta incluído", explica Lucimeire.
O Ceesha é equipado com salas adaptadas, salas de atendimento psicopedagógico, salas de música e de psicomotrocidade. Além disso, há uma piscina coberta para trabalhar o melhor desenvolvimento motor da criança na água, o que é uma das atividades preferidas dos alunos. Já no Ceat I há atendimentos odontológicos, psicológicos, além da realização de exames.
(Foto: Rodrigo Obeid/A Redação)
O atendimento na Apae não é restrito apenas à criança. Toda a família é acolhida em diversos âmbitos. Há a Sala da Família, onde pais e responsáveis podem aguardar enquanto os atendimentos são feitos, além da Oficina da Família, onde são ministradas oficinas de trabalhos manuais, o que pode se transformar numa fonte de renda.
Ana Luiza Gonçalves de Araújo é mãe da Ana Laura, de 4 anos de idade, que é atendida há dois anos pela Apae. Ela conta que buscou atendimento na instituição por meio de indicação de colegas de trabalho. "A Apae foi um divisor de águas. A Ana Laura não andava, não socializava, agora ela é conhecida como a 'vereadora' da Apae", brinca.
Trabalhadora da educação, ela ressalta a importância do trabalho da instituição. "É um tripé: Apae, família e criança, e isso garante um bom desenvolvimento. Por isso digo que é um divisor de águas não só na minha vida, mas tenho certeza que na vida de todo mundo aqui também", diz Ana Luiza.
Ana Luiza Gonçalves de Araújo é atendida pela Apae Goiânia há dois anos (Foto: Rodrigo Obeid/A Redação)
Ana Luiza é conhecida como a líder das mães, já que questiona e batalha por melhorias para as crianças e para as famílias. "Se tem alguma que não sei, eu pergunto. Sou a porta-voz para buscar melhorias para as salas, como o ar condicionado da Sala da Família, por exemplo, que vai ser instalado em breve."
Mais do que um centro de educação, a Apae se tornou um suporte para mãe e filha. "Fiz muitas amizades aqui. Os professores nos tratam bem, a escola nos ampara nas decisões. Todos praticamente fazem parte da família", ressalta Ana Luiza.
Cuidado, amor e trabalho
A diretora do Ceesha, Lucimeire Brito, explica que o perfil dos colaboradores da Apae é diferenciado. "A gente brinca que quem entra para trabalhar aqui ou vai embora rapidinho ou fica muito tempo. Eu mesma já estou aqui há 28 anos."
Ela conta que morava nas redondezas da instituição, via sempre as pessoas entrando e queria ajudar, mas não sabia como. "Eu já era servidora da Secretaria Municipal de Educação. Entrei aqui a convite de uma amiga e não saí mais. Me apaixonei pela causa", lembra.
Diretora do Ceesha, Lucimeire de Brito Pinheiro (Foto: Rodrigo Obeid/A Redação)
A diretora ressalta que, entre as características do perfil do colaborador apaeano está justamente o amor pela causa e olhar para a criança em toda a sua potencialidade. "Esse é o nosso diferencial. É um orgulho trabalhar aqui. Servir essas pessoas é maravilhoso, é mágico."
Lucimeire diz ainda que todos esses anos na Apae a fizeram mudar o seu olhar para a vida como um todo. "É um amor e uma admiração que só cresce todos os dias. Aqui a gente vê que não temos problemas, que o que passamos não é nada perto do que essas famílias enfrentam", diz emocionada.
E para que esse trabalho continue, a diretora reforça a importância da doação feita pela sociedade. "Temos um custo muito alto e as doações, seja por qual meio cheguem, são de extrema relevância. É possível ver que os recursos são bem aplicados, a verba é empregada no equipamento de salas, em recursos pedagógicos, ou seja, tudo o que podemos fazer para continuar prestando esse serviço de excelência e que é muito importante para essas crianças."
Para receber atendimento pela Apae é preciso ser morador da região metropolitana de Goiânia. O encaminhamento é feito via Secretaria Municipal de Educação, caso a criança esteja na rede comum, ou ligar no telefone (62) 3226-8000 e pedir para fazer a triagem. "O atendimento é feito para qualquer classe social. Quanto mais cedo a criança chegar para ser atendida, melhor poderemos ajudá-la", ressalta a diretora.
Para o futuro, Lucimeire vislumbra uma sociedade consciente da missão e do valor da Apae. "Acredito que vamos poder contar ainda mais com a sociedade e, assim, proporcionar mais dignidade para essas famílias. Aqui há superação, esperança de melhora, alegria. Precisamos continuar promovendo isso", diz.