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Murais e grafite colorem as ruas e dão vida à região central de Goiânia

Artistas contemporâneos são autores das obras | 24.11.23 - 17:40
Murais e grafite colorem as ruas e dão vida à região central de Goiânia Foto: Rafael Ferreira
Carolina Pessoni
 
Goiânia - Fachadas comerciais, paredes cinza e placas de publicidade tomaram conta da região central de Goiânia ao longo dos anos. Entretanto, um movimento artístico vem mudando essa paisagem nos últimos tempos. Desenhos coloridos e imagens que traduzem a goianidade estão ocupando o espaço e trazendo um novo olhar para a região.
 
O grafite tem transformado o centro da capital, com desenhos vibrantes, coloridos e que transformam a vida comum da região. As fachadas sérias dão lugar a murais, grandes e pequenos, ocupando a cidade com mensagens expressadas por meio de arte contemporânea. 
 
Prédios comerciais e residenciais, muros, becos e bosques são transformados em galerias de arte a céu aberto. O Beco da Codorna é um exemplo. Todas as paredes estão ocupadas com desenhos de artistas urbanos diversos, dando nova vida ao local. O mesmo acontece no Bosque dos Pássaros, no Setor Sul. Muros residenciais recebem as artes e mudam o olhar para a região.
 
Mural no Beco da Codorna (Foto: Rodrigo Obeid/A Redação)
 
Um dos artistas responsáveis por tirar o cinza da região é Wes Gama. Sua arte estampa prédios e muros de toda a região, sempre com uma mensagem sobre a cultura goiana e temas que estão em discussão, como a fome, trabalho e tecnologia.
 
O primeiro mural em grande escala que o artista pintou no Centro é o intitulado "Andança", no Edifício Alencastro Veiga, situado na Rua 3. Com 66 metros de altura por 12 de largura, faz parte o projeto Manifesto Urbano, que teve sua concepção em 2019 e execução em 2020.
 
"Começamos com o 'Andança', um projeto que bancamos do próprio bolso, com a ideia de trazer para a cidade esse tipo de comunicação e linguagem, mostrar que temos artistas em potencial para pintar as fachadas. O objetivo foi evidenciar que pode existir isso em Goiânia", destaca o artista.
 
 

"Andança", de Wes Gama (Foto: Rafael Ferreira)
 
Com a temática da questão do saneamento básico e a relação com a água, a terra, as plantas, o objetivo do mural foi mostrar como homem e natureza devem existir em equilíbrio. A direção, produção e curadoria do Manifesto Urbano é de Larissa Pitman, que atua com projetos culturais e artísticos.
 
Ela explica que este projeto em específico foi feito no sentido de fazer uma intervenção, uma mudança na paisagem, tentando trazer essa expressão de arte pelo grafite em longa escala. "Foi uma perspectiva de um novo olhar para Goiânia. A Rua 3 é um espaço de memória, de grande circulação. Quisemos, então, propor uma nova estética, uma contraproposta frente à publicidade. É um movimento de ocupar a cidade com a arte e nos afirmar enquanto pessoas criadoras desse movimento", ressalta.
 
No final de 2020 surgiu uma parceria inédita, com a Ambev, para a pintura de dois murais de valorização da cultura goiana. "No geral, os trabalhos de prédio são projetos que têm um grande período de projeção e idealização. O grande desafio é encontrar o patrocinador e essa parceria com a Ambev foi muito interessante", conta Larissa.
 
 

"Iara Cabocla", por Wes Gama, e "Geraldinho", por Bicicleta Sem Freio (Foto: Celius de Lima)
 
Foram pintados, então, dois murais também na Rua 3: "Iara Cabocla", por Wes Gama, uma homenagem às mulheres agricultoras do nordeste goiano; e "Geraldinho", feito pelo duo Bicicleta Sem Freio, que evidencia a figura do contador de causos. "Apesar de ter sido um projeto patrocinado, não tem um viés comercial, mas de valorização da cultura goiana por meio desses dois personagens", evidencia a produtora.
 
Renato Pereira, que forma o duo Bicicleta Sem Freio com Douglas de Castro, conta que foi um orgulho executar este mural. "Eu passo sempre por ali e falo com muito orgulho que fui um dos executores da obra. O Geraldinho é uma figura muito emblemática e histórica, que está presente na memória afetiva das pessoas", diz.
 
Apesar da grande expressão dos trabalhos, encontrar patrocinadores ou avançar em parcerias com órgãos públicos não é uma tarefa fácil. Por isso, os artistas têm se apoiado em projetos para Leis de Incentivo, que podem facilitar essa execução.
 
Assim aconteceu com o mural "Peregrina do Alvorecer", executado por Wes Gama no Edifício Esplanada, na Rua 20. "O projeto foi contemplado pelo Edital de Artes Visuais da Lei Aldir Blanc e traz com tema o trabalhador rural, o pequeno produtor que é quem alimenta mesmo a população. Foi feito em um momento muito emblemático, em que víamos notícias das pessoas pegando ossos para comer, então quisemos explorar essa temática e passar essa mensagem", explica Wes.
 

"Peregrina do Alvorecer", por Wes Gama (Foto: Lobo Guará Filmes)
 
Larissa Pitman atuou como curadora, produtora e ainda como pesquisadora para a execução da obra. Ela conta que o mural foi inspirado no livro "O Piar da Juriti Pepena - Narrativa Ecológica da Ocupação Humana do Cerrado", de Altair Sales Barbosa. "Fiz a pesquisa curadorial junto com o Wes e ele criou uma concepção para abordar o tema de uma forma poética, mas para levar essa mensagem fundamentada em um estudo", destaca.
 
A mensagem, inclusive, é um dos pontos centrais deste tipo de arte urbana. "Todos os murais representam um conceito que não é só a técnica, mas também o que está sendo pintado e por quê está sendo pintado", explica a produtora.
 
Além da comunicação que se quer passar ao público, o trabalho para grandes murais envolve diversas questões, como a disposição técnica e segurança para os artistas. "Escolher os prédios é um grande desafio. Muitos prédios no Centro, por serem antigos, não dispõem de condições para receber o maquinário que o artista precisa para pintar. Então, são feitas vistorias para essa escolha, que compreende, ainda, a mensagem que se quer passar naquele prédio, naquela rua", ilustra Larissa.
 
 

Mural de André Morbeck no Bosque dos Pássaros (Foto: Rodrigo Obeid/A Redação)
 
A ocupação do Centro com arte é exaltada tanto pelos artistas quanto pela produtora. Wes, por exemplo, conta que pintou pela primeira vez num beco da região em 2003 e que pouca coisa mudou da valorização local desde então. "Ocupar o Centro tem uma importância enorme, primeiro por ser um espaço democrático da cidade, e também como forma de protesto, levando a comunicação para as pessoas nessa linguagem."
 
Para Renato Pereira, levar este tipo de arte para a região é se apropriar da cidade. "O Centro recebe essas transformações culturais, está aberto aos movimentos artísticos. Fico muito feliz por fazer parte disso, porque a partir do momento que se pinta um mural, você não é mais o dono da obra, e sim a cidade, que fica viva e pulsa com as manifestações de arte", enaltece o artista.
 
Larissa Pitman diz que levar a arte para o Centro por meio de murais é muito significativo em vários níveis. "Deixa claro que em Goiânia temos produção e difusão muito grande da arte urbana de vários artistas, um reflexo de que estamos produzindo. É também uma necessidade. As pessoas já entendem a arte urbana, o grafite, o lambe-lambe, como um direito de ocupar, de viver a cidade. É bem claro que essas intervenções geram um bem estar, uma valorização do ambiente, o sentimento de que ali está vivo", arremata.
 

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