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Tatiana Potrich
Tatiana Potrich

Tatiana Potrich é curadora, produtora de arte, escritora e designer. Formada em Design de Moda pela UFG, possui pós-graduação em Arte Contemporânea e História do Brasil, também pela UFG, e em Filosofia da Arte pela UEG. / jornalistas@aredacao.com.br

Curadoria afetiva

Ideias Concretas

| 05.10.25 - 08:10 Ideias Concretas Obra do artista Robert Irwin, no Instituto Inhotim

A entrevista da artista Maria Bonomi, publicada no mês de setembro pela revista Cult, joga um balde d'água fria nas acaloradas "festas superficiais onde domina o interesse comercial", para transcrever com 'aspas', suas próprias palavras. Bonomi ressalta a "farsa" das grandes instituições de arte que funcionam sob financiamentos voltados ao benefício de interesses particulares, públicos ou políticos. 
 
Ora, isso não seria nenhuma novidade. O que vem acontecendo depois, de forma gradual é uma distorção no circuito artístico, que originalmente, teria o intuito social, cultural e intelectual, mas passou a ocupar espaços como clínicas de estética, restaurantes e botecos, halls de assembleias e todo e qualquer 'salão' inadequado que aliena o sentido histórico, investigativo e etéreo da arte.
 
Bonomi prossegue: "a imprensa não tem mais colunas de arte, quando tem está a serviço de questões que não são culturais, mas mercadológicas".
 
No entanto, concluímos que não é só o circuito de arte que anda em decadência, práticas austeras e compromissadas com a transformação da mente, o enrijecimento da virtude e do saber, como o Yoga, são usadas de forma depreciativa, em festas dionisíacas sem propósitos. A disputa pelo que é instagramável, o sucesso baseado na ostentação, a farsa que ganha holofotes cada vez que uma (sub)celebridade fica mais artificial, mais retocada, mais rebuscada, mais recauchutada é, simplesmente, aterrorizante.
 
Nos tornamos produtos, prateleiras de consumo num surto coletivo de acúmulo a favor do capitalismo desenfreado, que reduz estantes filosóficas nas livrarias para expandir plataformas de arranha-céus e templos frenéticos, ops, faraônicos.
 
Ler se tornou um ato de resistência, rebeldia, revelia. 
 
As instituições culturais que deveriam cumprir um papel social, altruísta e educativo, abraçam o mercado financeiro e, subjetivamente, se transformam em empresas, casas de negócios. Contudo, ainda restam as pessoas disruptivas: entusiastas destrutíveis das falácias, que levantam altos relevos, enrijecidos por ideias concretas, contra as delirantes farsas alheias. 
 
Bonomi é desse tipo de pessoa. Na entrevista, uma pergunta sobre a diferença entre: um painel dela na rua, um grafite e uma pichação, podemos distinguir bem, três tipos de pessoas, que convivem em sociedade:
 
"Acho o grafite esplêndido, só que tem um defeito: dura pouco, não atravessa o tempo, diferente de uma obra que tem relevo em concreto e outros materiais. A pichação, por outro lado, é devastadora, porque ataca as superfícies. É uma descarga neurótica que não tem nenhum tipo de elevação para quem vê, nenhum tipo de encontro, nem transformação. A pichação é um exercício de quase nada".
 
Achei pertinente associar os tipos de pessoas a estas qualificações: disruptiva, grafiteira e pichadora. A primeira é aquela que enrijece as ideias e as perdura no tempo, a segunda é aquela que é esplêndida, mas provisória e a última é a devastadora, aquela que pratica um exercício de quase nada, ou literalmente pratica uma descarga neurótica.
 
Obrigada, Bonomi, por ser do tipo disruptiva! Você também constrói ideias concretas e perenes!
 
 

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