A gente escuta falar sobre os ciclos da vida o tempo todo, mas é só quando o desafio bate à porta, que olhamos para ele. Chegou a minha vez de me preparar para a saída dos filhos de casa. No meu caso, é tudo de uma vez, porque sou mãe de gêmeos e os dois começarão a faculdade ao mesmo tempo. E para ajudar, este momento coincide com a chegada da menopausa, que é tudo, menos condescendente.
Eu mesma saí da casa dos meus pais com 20 anos de idade para fazer um mestrado e buscar novas oportunidades de trabalho, em São Paulo. E como toda escolha traz ganhos e perdas, uma delas foi criar os filhos, sem o apoio da família, dos avós e tias, por perto. O marido sempre trabalhou em período integral e com viagens frequentes. Até hoje é assim.
Eu também sempre fui uma profissional dedicada e competitiva, mas em um certo momento, escolhi ser mãe. E foi uma decisão muito acertada. Adoro ser mãe e ter os filhos por perto. Casa com filhos é muito mais divertida e feliz. Sem nenhum romantismo, porque não faltam perrengues. Mas, para mim, o saldo é sempre positivo.
Como disse há pouco, escolhas vem com renúncias. E neste modelo patriarcal e capitalista em que vivemos, não existe estrutura, políticas públicas, que apoiem mães-profissionais. Ou contamos com uma rede familiar ou terceirizamos a criação ou assumimos a tarefa sozinha. No meu caso, prevaleceu a última opção. Justiça seja feita, tem o marido, pai dos nossos filhos, que participa, do jeito que pode.
A renúncia à profissão nunca foi consciente para mim. Sempre achei que, em algum momento, eu retomaria o trabalho. Durante esses 17 anos de maternidade, busquei trabalhos e cursos, que me permitiram conciliar com as responsabilidades com os filhos. Mas não resta dúvida, que eles são a prioridade e a carreira ficou em segundo plano, nestas quase duas décadas. Passaram-se quase duas décadas! E eles já se preparam para sair de casa. E agora? Quem sou eu sem eles por perto?
Ah, mas os cinquenta são os novos quarenta. Não caia nessa! Com quarenta eu não acordava com a camiseta molhada de suor, não tinha insônia, dores nas articulações, um cansaço fora do comum e nem lapsos de memória. Como se não bastasse envelhecer, vou ter que aprender a dar outro sentido à vida sem os filhos por perto.
Agora dei para ler sobre a Síndrome do Ninho Vazio, que segundo a psicanálise, atinge mais as mulheres, porque são as que dedicam mais tempo à criação dos filhos e está associada a uma menor satisfação com a vida, sensação de solidão, tristeza e ansiedade. Não sou a primeira e nem a última a passar por isso e a literatura deve trazer alguma luz. Em um artigo escrito para o Journal of Education, Science and Health sobre o tema, em dezembro de 2022, me deparei com as seguintes Considerações Finais:
"Os pais devem se preparar antes que seu último filho esteja prestes a sair de casa, criar uma estratégia para olhar positivamente para novas oportunidades em sua vida pessoal e profissional. Realizar atividades ou assumir novas tarefas no trabalho ou em casa para ajudar a aliviar a sensação de perda. Embora os pais possam experimentar ansiedade de separação, os descendentes devem ter espaço para crescer e florescer. Os pais devem se preparar para um ninho vazio e estar cientes das ações que precisam ser tomadas para evitar seus potenciais resultados destrutivos. Portanto, após a elaboração do presente trabalho, conclui-se que a Síndrome do Ninho Vazio precisa ser estudada de forma mais específica…”.
Pensei, melhor encerrar esta leitura já. Vou seguir meus instintos e fazer o que me parece sensato. Apoiar meus filhos no processo de mudança, porque sempre incentivamos que se tornassem pessoas independentes. Não deixar que o meu ninho vazio seja um peso para eles. Tentei entrar em contato com ex-chefes, mas a maioria ou se aposentou ou já faleceu. Consegui retomar um contato valioso e tomei a decisão mais correta de todas: voltei a escrever, o que tenho feito com muito prazer para esta coluna semanal do jornal A Redação, com um apoio enorme de toda a equipe.
Muitos dirão que sou uma privilegiada, em comparação com a maioria da população, e nesse sentido, posso até ser, mas não custa lembrar que as nossas angústias pessoais não escolhem classes sociais. Em grande medida, somos iguais na impermanência e nas dores.
Já entrei em contagem regressiva, porque a mudança dos filhos deve acontecer em julho. Me dá um nó no estômago, só de pensar. Mas estou fazendo o melhor que posso e atenta a tudo que acontece no meu entorno, em busca de novas estratégias para mim, para o marido e para eles, que também enfrentam seus medos e ansiedades de ter que enfrentar um mundo sem a gente por perto. Ou não…