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Crítica

Fica 2013 vai de lixões israelenses a favelas cariocas

Festival tem papel de conscientização | 07.07.13 - 10:01 Fica 2013 vai de lixões israelenses a favelas cariocas Filme Em Busca de um Lugar Comum mostra o poder de encanto das imagens (Imagem: reprodução)

Fabrício Cordeiro
Especial para o AR

Cidade de Goiás - No geral, o Fica é uma espécie de portal para as desgraças do mundo. Num festival de temática ambiental, é raro entrar no cinema e não se ver diante de pessoas à mercê da seca, do isolamento e de condições de sobrevivência das mais frágeis, e infelizmente não dá para comentar tudo o que é visto aqui. Segue então um pequeno panorama desse tour de conscientização, em que algumas poucas produções revestidas de certa leveza brotam na tela como uma sessão de massagem.

O curta italiano Ortobello, exibido na quinta-feira, parece ter cumprido bem essa tarefa, geralmente comentado entre sorrisos. Documentário sobre senhores empenhados em cuidar de suas belas hortas, a ponto de organizarem um torneio entre as plantações, o filme emana simpatia em torno dessa imagem que se tem dos italianos, sempre com um prazer em cozinhar e se reunir à mesa, e também de seu passado, sem esquecer que muitos destes homens, simples plantadores, carregam memórias de guerra e fascismo.
 
O grande filme da última quinta-feira (7/7), foi Lugar Feito por Homens, produção alemã dirigida pelo chinês Yu-Shen Su, a respeito de bairros faraônicos construídos na China como promessas de moradias ideais, embora destinados ao abandono. É um lento exercício de observação, bem ao estilo do cinema chinês – ambiental ou não -, dando tempo máximo a cada plano para que o nosso olhar capte todo aquele descompromisso ambiental em função de sonhos de alta sociedade, de pertencer àquele mundo que brilha forte no anúncio animado presente num imenso painel de luzes.
 
Outro forte competidor é Zevel Tov, longa israelense de Auda Aushpiz e Shosh Shlam. O filme tem como ponto central um lixão e o grupo de catadores que dali sobrevive, cenário familiar em qualquer lugar do mundo, pois lixo é lixo. Em pequenas doses, o longa se abre para três famílias específicas e se insere no delicado arame farpado político do país. Me parece o longa mais completo em suas ambições.
 
Entre os brasileiros, A Galinha que Burlou o Sistema, curta de Quico Meirelles, filho de Fernando Meirelles, parece ser aposta certa para voto popular, muito embora as sessões tenham variado bastante em quantidade de público. Denunciando o processo de criação de galinhas para abate, lembra algo de Ilha das Flores, de Jorge Furtado, para então se transformar num filme de fuga animal até bem sacado, com claras influências estilísticas do pai, incluindo referência à corrida da galinha em Cidade de Deus.
 
Por sinal, Meirelles pai está no festival pela Mostra paralela, com exibições de Domésticas, Cidade de Deus e Ensaio sobre a Cegueira durante o sábado. Na coletiva para a imprensa, perguntei a Meirelles sua opinião sobre o efeito da popularidade de Cidade de Deus no mercado voltado para o turismo internacional nas favelas cariocas, que aumentou depois do sucesso de seu filme no exterior, algo comentado no documentário Em Busca de um Lugar Comum, exibido na sexta-feira. Meirelles disse nunca ter pensado sobre a estranheza desse safári entre favelas, mas que vê um lado bom, uma vez que pode retirar parte dos preconceitos e impressões que se tem desses lugares onde nem o Estado entra.
 
Esse Em Busca de um Lugar Comum, de Felippe Schultz Mussel, é também um filme sobre o poder de encanto das imagens, talvez um primo distante de Pacific, de Marcelo Pedroso. Seu brilho reside nos momentos em que se apropria de material de registro dos turistas, europeus munidos de protetor solar e pose para fotos, e que agora carregam morros favelados como um souvenir, prova de que estiveram ali, como se estivessem em frente ao Taj Mahal.
 
Ainda na sexta-feira, Serra Pelada – A Lenda da Montanha de Ouro se mostrou o mais ambicioso dos nacionais, com a proposta de percorrer um arco de pouco mais de três décadas da mineração de Serra Pelada, pedaço de história do Brasil. Filme irregular, aquela impressão de ser mais longo do que realmente é, mas incrível em suas imagens de arquivo. Há registros ali que parecem extraídos de épicos de Cecil B. DeMille.
 
Por fim, duas interrogações referentes a Competitiva: que bom a cidade de Goiás Velho ter a oportunidade de ver A Onda Traz, o Vento Leva, curta documentário de Gabriel Mascaro, mas mesmo ampliando ao máximo as noções de “ambiental”, não entendi muito bem o que o traria aqui. E alguém mais saiu de No Fundo Nem Tudo É Memória, filme mineiro, se sentindo uma mariposa em meio a todas aquelas lamparinas?

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