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Empreendedorismo

Os desafios entre a maternidade e a manutenção do próprio negócio

55% das empreendedoras no Brasil têm filhos | 08.05.22 - 07:59 Os desafios entre a maternidade e a manutenção do próprio negócio Empreendedora Aline Dutra e os filhos: Miguel e Gabriel (Foto: Letícia Coqueiro/ A Redação)
Ludymila Siqueira

Goiânia -
 São 8 horas da manhã e a Aline Dutra já está no batente há pelo menos duas horas. A rotina dela começa cedo. Bem cedo. Ela é mãe do Miguel, de 4 anos, e do Gabriel, de 2 anos. Os dois são os companheiros da mãe, a acompanham com todo amor e inocência do mundo. Com uma empresa de confeitaria saudável natural, especializada no atendimento a pessoas com restrições ao leite, glúten e açúcar, a empresária decidiu abrir o próprio negócio e conciliar a maternidade com o empreendedorismo. 

Como a vida de muitas mulheres, mães, trabalhadoras e empreendedoras, a rotina de Aline não é nada fácil. Tem dias, aqueles mais intensos, que a empreendedora costuma parar os trabalhos por volta das 2h da manhã. A produção na confeitaria começa nas primeiras horas da manhã, enquanto as entregas são realizadas no período da tarde. Como trabalha por encomenda, os pedidos que são feitos no turno vespertino são entregues na manhã seguinte. "Aí faço o atendimento aos clientes por meio de um aplicativo de mensagens, sempre entre 9h e 19h", conta Aline ao destacar, com orgulho, que ela é a grande "faz tudo" do próprio negócio. 

"Não podemos romantizar. Mas o gostinho de estar perto dos pequenos e
ver todo o desenvolvimento deles não tem preço"
(Aline Dutra, empreendedora e mãe de duas crianças)

Uma pesquisa realizada pela Rede Mulher Empreendedora (RME) mostrou que dentre 1.376 mulheres empreendedoras no Brasil, cerca de 55% têm filhos, 44% são chefes de família e cerca de 75% delas decidiram ter o próprio negócio depois de se tornarem mães. Durante a pandemia do coronavírus, cerca de 40% das mães tornaram-se donas do próprio negócio ou optaram por trabalhar de forma remota. 

Analista técnica e gestora do empreendedorismo feminino do Sebrae Goiás, Vera de Oliveira destaca que os principais desafios das mulheres que empreendem durante a maternidade é a gestão do tempo e também das finanças. Isso porque empreender é considerada uma atividade de risco e quando a mulher é mãe esses desafios podem se tornar ainda maiores. "O melhor é que, se o negócio de uma mãe empreendedora resultar em lucro, a sociedade será a mais beneficiada. Isso ocorre porque ela investe em educação para os filhos, melhoria da qualidade de vida da família e apoia no desenvolvimento dos empreendimentos ao seu redor", pontua em entrevista exclusiva ao AR. 


Além disso, a gestora ainda ressalta a importância de ter uma rede de apoio para que a mulher que seja mãe e empreendedora possa se dedicar ao negócio. "A maternidade pode impulsionar o empreendedorismo, isso porque é uma das formas de a mulher conseguir conciliar carreira e filhos. Pode-se considerar que serão muitos desafios, além dos já conhecidos, como a gestão financeira, gestão estratégica e o acesso a crédito, mas de grande valia para a economia da família e também local", descreve. 

Grandes resultados
gestora de empreendedorismo feminino do Sebrae Goiás explica que, antes de abrir um negócio, a mulher com filhos deve pensar em alguns aspectos muito importantes para que a empresa caminhe bem. O primeiro passo é buscar entender em que condições esta mãe busca empreender, se por necessidade ou por oportunidade. Outra característica é analisar o nicho de trabalho, se aquele produto carece no mercado ou se já tem em grande demanda, por exemplo.

Além disso, uma dica importante é ter em mente que a abertura de um novo negócio exige algumas demandas, principalmente em relação à organização pessoal, novas rotinas e muito comprometimento. Vera comenta que um dos maiores desafios para empreender é o conhecimento. "É a forma como ela se organiza para buscar esse entendimento, porque muitas vezes, mesmo as mulheres e mães que têm disponibilidade de tempo e condições para empreender, encontram um mercado muito desafiador", acrescenta ao A Redação. 

Visão de mercado 

Lembra da Aline? A mãe citada no início da reportagem... Ela, que sempre gostou do ramo da confeitaria e desde cedo fazia bolos e doces por hobby, já havia percebido a dificuldade de algumas mães de encontrar alimentos zero lactose para os filhos com algum tipo de restrição alimentar. Foi quando ela viu, com o nascimento do primeiro filho, uma oportunidade de fazer o segmento se tornar sua própria fonte de renda. 


Empreendedora Aline Dutra e o filho Miguel, de 7 anos (Foto: Letícia Coqueiro/A Redação)
 
No primeiro mês de vida, Miguel foi diagnosticado com alergia à proteína do leite de vaca. Com isso, ele não poderia consumir nenhum produto com o ingrediente, nem mesmo os derivados. "E, de repente, a dor dos meus clientes se tornou a minha. Sair de casa, principalmente após a introdução alimentar do Miguel, se tornou muito difícil. Tinha que andar com lancheira pra todo lugar. E foi aí que entendi a verdadeira missão e propósito do nosso negócio. O ato de promover a inclusão alimentar de quem possui restrições", lembra Aline. 
 
Tudo começou mesmo quando o pequeno Miguel completou 7 meses. Aline explica que não teve coragem de retornar ao trabalho fora de casa. Com isso, ela passou a se dedicar exclusivamente ao filho e ao estudo do desenvolvimento de alimentos saudáveis, nutritivos e saborosos para pessoas que possuem restrições alimentares. Ou seja, ela identificou a partir de um desafio e também a falta de produtos sem lactose no mercado, a oportunidade de empreender. Uma área que deu muito certo para Aline, que conseguiu atrair e fidelizar clientes. De indicação em indicação, o negócio, que começou de forma tímida dentro de casa, continua ganhando cada vez mais alcance. 


Empreendedora Aline Dutra (Foto: Letícia Coqueiro/A Redação)

 
Gestão de tempo para a família e o negócio 
"Não é simples. No entanto, planejamento e organização ajudam. Temos uma rotina de horários e atividades, que não é rígida, mas é um norte para as crianças e também para mim, sobre como o dia deve acontecer. Meu marido trabalha fora de casa no período da tarde e também durante a noite, então, ele cuida dos meninos pela manhã, enquanto me dedico mais às atividades do negócio", explica Aline. 
 


 (Foto: Letícia Coqueiro/A Redação)

"Já quando meu marido sai para trabalhar, fico somente por conta dos nossos filhos e das atividades de casa no decorrer da tarde e noite. Estipulei um horário para dormirem, sempre às 21h.  Após realizar a rotina do sono e fazer eles dormirem, aproveito para antecipar algumas coisas do dia seguinte e resolver as pendências do dia", relata a empreendedora. Aline enfatiza e confirma a importância de uma rede de apoio, seja familiar ou com outras mulheres empreendedoras. 

Rede de Apoio Mães Empreendedoras 
Com apoio da Trilha de Desenvolvimento do Sebrae Goiás, Karem Souza idealizou o projeto da Rede de apoio às mães empreendedoras de Goiânia. Ela, que também é presidente da Associação das Mães Empreendedoras, destaca que o programa visa gerar conexão, visibilidade, motivação, fomentar parcerias, além de ampliar os negócios e gerar lucratividade através da plataforma digital e das feiras que são realizadas com todas as participantes da rede. 

Atualmente, o projeto tem cerca de 400 mães participantes. Por meio de um grupo em um aplicativo de mensagens, elas fortalecem e apoiam os negócios umas das outras. Além disso, elas realizam uma reunião, intitulada como Feira das Mães, onde todas se encontram e comercializam os produtos, em Goiânia. O encontro tem a parceria também da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg).


Mãe empreendedora durante a Feira das Mães (Foto: Reprodução/Instagram)
 
Dentre os valores do grupo estão:
  • A troca de informação e divulgação dos produtos e serviços umas das outras dentro do grupo de WhatsApp;
  • Network on-line de produtos e serviços das mães da Rede, que ocorre por meio de plataformas digitais como o Instagram;
  • O Compre de uma mãe, que prioriza comprar os produtos umas das outras;
  • Apoiar uma mãe empreendedora, que visa estabelecer o apoio e indicação dos produtos e serviços das mães da Rede;
  • A Feira das Mães Empreendedoras de Goiânia é um network físico. Com a abertura dos eventos pós-pandemia, a feira tem como objetivo estimular os negócios e gerar renda;
  • A Associação das Mães Empreendedoras de Goiânia tem o objetivo de fornecer capacitação profissional para mães/mulheres que querem empreender, apoio técnico para desenvolvimento profissional, divulgação dos produtos e serviços desenvolvidos pelas mães, além de fornecer apoio para participação em feiras e eventos de caráter público ou privado.
A idealizadora do projeto destaca que a Trilha do Desenvolvimento em parceria com o Sebrae Goiás é uma forma de promover as  mães empreendedoras a ter cada vez mais motivação e também capacitação no ramo de negócios. Para ser integrante do grupo é necessário apenas entrar em contato com o Sebrae ou através do Instagram

Karem é mãe do Benício, de 7 anos, e do Daniel, de 5. Ela destaca que ser mãe e empreender, apesar de não ser uma tarefa fácil, é totalmente possível. No entanto, chama a atenção para a organização de tempo que a mulher deve fazer para não se sobrecarregar, já que muitas vezes o trabalho é feito dentro de casa. 
 

 Karem Souza é mãe e empreendedora (Foto: divulgação)

"Nós não podemos romantizar a ideia de que a mãe que trabalha em casa tem mais tempo com o filho. Se a empreendedora não tiver um planejamento, tumultua todo o negócio, quanto às tarefas domésticas. Ou seja, é necessário ter um planejamento dobrado para que o plano de negócio realmente dê certo", conclui. 

 


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