Em chiaroscuro, o artista nos apresenta um universo que tão logo incendeia, encanta, distorce e desconstrói, e convida à reticulação das nossas experiências de olhar a partir de uma poética do feminino, que arde, que olha de volta, que intriga. Como se alcançasse seu grau maior de luz: pois-então nos damos conta de que não há nada mais íntimo que o secreto contorno etéreo-corpóreo, de imaginarmos a textura, em devaneio, da própria imagem que diz do nosso olhar...
O que está exposto e escondido, simultaneamente entre a luz e a não luz sugeridas nas imagens de Monaretta, é também o nosso próprio esforço de liberação do ato de olhar: por que ver no corpo feminino forma estática de apreensão ou desejo se há nele pernas com suas peculiares caminhaduras, rostos de puro enigma ou mesmo invisíveis, mãos que cobrem as curvas e se distorcem de rotinas e não rotinas... em dias e dias e misteriosas ou simplíssimas noites de dormir, madrugar e sonhar?
É quando, aliás, o tom de neon das fotografias da mostra nos encafifa de enredos para estoriar as coisas: vultos que caminham pela noite em seus sapatos blueprint, flãs, flagrantes; olhos que ainda não viram, ou que se perdem de reminiscências, conjeturas; lábios que amam, que dizem, que pedem, e esperam, e se fecham, desvairando encenações...
Enriquecendo a imagem capturada no florir de um gesto e aplicando a ela técnicas de transfiguração digital, o artista Carlos Monaretta convida a nossa percepção sobre o feminino a se afastar das pesadas estabilidades. As fotopinturas digitais que ele traz a público enriquecem o nosso olhar de sutilezas e intensidades, merecem ser contempladas, exploradas, revisitadas — em toda a sua evanescência e permanência, ardentes de imaginaç(ões).