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Martim Cererê: onde nascem e se firmam grandes nomes da cultura goiana

Espaço foi criado há 33 anos | 05.08.22 - 14:09
Martim Cererê: onde nascem e se firmam grandes nomes da cultura goiana Foto: Hely Junior/A Redação
Carolina Pessoni
 
Goiânia - Monumentos históricos, prédios administrativos e patrimônios tombados contam a história da fundação de Goiânia, que passa inevitavelmente pela região central da cidade. Os espaços culturais também são parte dessa construção e o Centro Cultural Martim Cererê é peça fundamental do desenvolvimento da Capital.
 
A unidade da Secretaria de Estado da Cultura (Secult) foi inaugurada em 20 de outubro de 1988 pelo então secretário da Cultura, o escritor Kleber Adorno. A ideia surgiu em conversa com o diretor de teatro Hugo Zorzetti, que sugeriu que o espaço abandonado  das antigas caixas d'água da Saneago (a Companhia de Abastecimento de Goiás), no Setor Sul, pudesse ser  aproveitado para criação de um centro cultural.
 
O então chefe de gabinete, Carlos Brandão, foi designado para avaliar a área e convidou o arquiteto e músico Gustavo Veiga para apresentar  o projeto arquitetônico. Nesse momento o diretor teatral Marcos Fayad sugeriu a montagem do espetáculo Martim Cererê, baseado no livro homônimo de Cassiano Ricardo. A partir daí, surgiu uma escola de teatro com oficinas, dança e música destinadas à formação de atores, além da instalação de outras áreas físicas para eventos culturais diversos.
 

Antigo reservatório da Saneago que se transformou no Martim Cererê (Foto: Ary Alencastro Veiga)
 
No documentário de Pedro Fernandes, Martim Cererê - 30 Anos de Cultura (que pode ser acessado aqui), Kleber Adorno conta que o centro cultural foi construído para estimular a criatividade, fomentar a parte sensível das pessoas e despertar emoções. "Fazer com que o espaço cultural fosse um espaço de reflexão, proveito e prazer. Foi a ideia de uma política pública de formação de pessoas", lembra o ex-secretário.
 
Gestora de Salas de Espetáculos da Secult e coordenadora do espaço cultural desde 2020, Dirce Vieira conta que o nome foi inspirado numa peça homônima de Cassiano Ricardo, autor modernista brasileiro. "Todos os espaços do centro cultural retratam a temática indígena bem expressiva no texto de Cassiano Ricardo", ressalta.
 
Assim, os três teatros que compõem o centro cultural também levam nomes indígenas: Yguá (lugar de guardar água, em xavante) com capacidade para 190 pessoas; Pyguá (caverna de água), que comporta 300 pessoas; e Ytakuá (buraco na pedra), arena que tem espaço para 500 pessoas. Há ainda o Bar Karuhá (lugar de comer), destinado a apresentações culturais, como lançamentos de livros, declamações de poemas, entre outras atividades.
 
Nesses mais de 30 anos de existência, dezenas de atividades de formação foram realizadas no Martim, como é carinhosamente chamado, como oficinas de arte teatral, cenografia, iluminação e expressão corporal. "Além de vários nomes da cena do rock, como The Exploited, Karol Conká, Projota e Igor Cavalera, diversos festivais de grande porte foram criados ali, como Vaca Amarela, Goiânia Noise e Bananada", destaca Dirce.
 

(Foto: Hely Junior/A Redação)
 
Outros nomes importantes se apresentaram nesse espaço: Lobão, Rogéria, Elza Soares, Paulinho Moska, o diretor e coreógrafo Hugo Rodas, Henrique Rodovalho, além de diversos artistas e grupos locais, que inclusive nasceram e estrearam no Martim.
 
Nascente de artistas
Um desses nomes da cena artística goiana que surgiram no Martim Cererê é o cantor Marco Antonini. "Falar do Martim Cererê é uma das coisas mais importantes pra mim, porque foi praticamente onde eu nasci", diz, orgulhoso.
 
O cantor ressalta que todos os exercícios, as aulas de canto, balé, música, interpretação e teatro serviram para sua formação. "Sem falar as relações de amizade que foram se entrelaçando e a gente foi trocando as figurinhas e crescendo uns com os outros, profissionalmente. Existiam várias outras pessoas talentosas que estão por aí, pelo mundo, e que fazem parte da mesma turma."
 
 

Marco Antonini em apresentação no Martim Cererê (Foto: Arquivo pessoal)
 
Para ele, o espaço cultural foi fundamental em sua vida e relação com a música. "Foi onde nasci mesmo como músico, quando tive uma relação mais direta com a técnica, me vi como artista e decidi ter minha carreira de cantor", lembra.
 
Marco Antonini reforça, ainda, o papel democrático do Martim Cererê como um centro de cultura de Goiânia. "Desde alunos e artista iniciante, aos já consagrados, podem se apresentar lá. É um dos centros culturais mais bonitos do país, senão o mais bonito, e de fácil acesso, bem localizado. Toda forma de expressão artística é bem-vinda e é muito legal participar disso e ter isso na minha vida."
 
Histórias e lendas urbanas
Apesar de sua importância cultural, há informações não confirmadas oficialmente de que o espaço teria sido usado como câmara de tortura durante a ditadura militar. O fato foi negado por autoridades, mas confirmado por moradores da região e chegou a ser estudado pela Comissão da Comissão Estadual da Memória, Verdade e Justiça (CEMVJ) Deputado José Porfírio de Sousa, criada em Goiás em 2014.
 
Uma lenda urbana que ronda o Martim Cererê é a história de fantasmas que seriam "moradores" do local. Supostos relatos de funcionários e frequentadores dizem ter visto, por várias vezes, almas de pessoas mortas vagando pelos teatros. Segundo a lenda, os fantasmas são das pessoas torturadas e mortas no local durante o regime militar. Porém, até hoje a história não foi comprovada.
 
 

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