Carolina Pessoni
Goiânia - "A terra é um só país e os seres humanos são seus cidadãos." A frase de Bahá u lláh, fundador da Fé Bahá'í, exposta no monumento de concreto na região central de Goiânia convida à reflexão sobre a existência humana. A citação é parte do Monumento à Paz Mundial, localizado no Bosque dos Buritis, no Setor Oeste.
Trata-se de uma obra de autoria do artista plástico goiano Siron Franco e celebra a união de todos os povos em busca de um projeto de paz. Ele foi encomendado pela Comunidade Internacional Bahá'í, uma organização não governamental ligada à Fé Bahá'í, uma religião monoteísta que enfatiza a união espiritual de toda a humanidade.
Na frente do monumento, no chão, uma placa com a explicação sobre a obra: "Monumento à Paz. Dedicado aos povos do mundo pela Comunidade Bahá'í, construído através de um esforço de catalização da sociedade mundial em prol de um mundo sem barreiras e sem preconceitos."
Siron Franco afirma que ficou muito honrado com o convite da Comunidade Bahá'í para a idealização do monumento. “Eles me procuraram, me deram um livro do Bahá u lláh e eu fiquei encantado com aquelas palavras, pois ele era um homem sábio, muito à frente de seu tempo.”
O artista conta que o formato de ampulheta do monumento não foi a ideia original. “Inicialmente pensei em fazer um mapa-mundi com terras de todos os continentes misturadas. O formato final veio muito tempo depois, após muito estudo”, lembra.
(Foto: Hely Junior/A Redação)
Siron diz que estudou todos os monumentos à paz durante três anos para poder idealizar aquele que levaria a sua assinatura. “Pesquisei muito e esse tem um sentido mais amplo. Simboliza o compromisso das nações na luta pela paz”, diz, orgulhoso.
Além de celebrar a paz, a obra lembra o primeiro ano de aniversário do acidente com o Césio-137, em Goiânia, considerado o pior acidente radiológico do mundo fora de uma usina nuclear. A obra foi lançada durante o I Simpósio Nacional da Paz na Era Nuclear, realizado em Goiânia em setembro de 1986, e concluída e inaugurada no dia 20 de setembro de 1988, na segunda edição do mesmo evento.
Com cinco metros de altura e dois de largura, a obra foi feita de cimento e pesa cerca de 50 toneladas. O formato de ampulheta não é uma mera coincidência, mas sim uma alusão à necessidade urgente de se alcançar a paz mundial. Em sua parte central, vários compartimentos de vidro separados por faixas nas cores amarela, azul, branca, verde e vermelha, contêm amostras de terra dos cinco continentes. Um compartimento maior contém amostras de todos os continentes misturadas.
Quando foi inaugurado, o monumento continha terra de 12 países: Argélia, Austrália, Brasil, Estados Unidos, Gana, Holanda, Hungria, Israel, Portugal, Suíça, União Soviética, Uruguai. Um ano após sua inauguração, em 1989, terras da Bulgária, Senegal, Suriname e Tchecoslováquia foram adicionadas. Do Japão, veio um punhado de areia com grãos em formato de estrela. Atualmente o monumento contém amostras de solos de 101 países.
Em 1992, por ocasião da ECO-92, foi inaugurada, na praça 22 de Abril, no Centro do Rio de Janeiro, uma réplica do monumento goiano. Localizada próximo ao aeroporto Santos Dumont, a obra tem o mesmo simbolismo da unidade entre todos os povos da Terra. A citação de Bahá u lláh também está gravada nas laterais do monumento em português, inglês, chinês e uma língua indígena.
Monumento à Paz Mundial no Rio de Janeiro (Foto: Divulgação)
Para Siron Franco, esta obra tem um significado muito especial em sua carreira. “Todo trabalho é importante, mas nesse me senti muito honrado e também com medo, porque era uma grande responsabilidade. É uma obra conhecida em todo o mundo. É um prazer enorme ter uma ideia e ela ser aceita por todos esses países. Uma grande sorte, um grande prêmio.”